!!Como o tempo passa rápido... ou: Faith No More no Maquinária!!

21 de dez. de 2009

Poucas coisas me tiram de dentro de casa. Poucas coisas me tiram de dentro de Manaus. Para ser mais honesto, falei isso a minha esposa e repito aqui: só viajaria para ver outro show em São Paulo se o Faith No More voltasse a vida - e olha que nesse meio tempo deixei de conferir gente boa, como Arctic Monkeys, Yeah Yeah Yeahs, The Killers e os Beastie Boys.

Em um dia de muito sol, como qualquer outro para quem vive em Manaus, sou alertado por um amigo para conferir meu e-mail, pois tinha me mandado uma notícia surpreendente. Vou lá e com um sorriso imenso na cara, constato que o Faith No More havia voltado a vida, com praticamente a formação clássica da banda - faltava somente o guitarrista, mas eles haviam chamado o mesmo que fez parte da última formação.

Mais três meses se passam e a confirmação mais desejada dos últimos anos é postada no site oficial da banda: eles passariam pelo Brasil, em um festival com outras boas bandas. Convoquei um grupo de amigos, programei-me para ir, e a partir desse parágrafo relato o que aconteceu.

Hoje eu posso ser um bobo pelo resto da vida. Afinal, fui rei por um dia!

Minhas previsões metereológicas se tornavam realidade e uma chuva, um pouco pesada, começou a cair do céu cinza e preto acima da Chácara do Jóquei. Correria geral: pessoas tentavam se abrigar sob as lonas que protegiam os compradores de bebidas e comidas, outros corriam atrás do cara que vendia capas - que lá fora, antes do show, custavam 3 reais e que na hora do pinga pinga saía por 10 ou 15 R$, dependendo da sua cara de desespero - e alguns, já mais felizes do que deviam estar, somente tiravam as blusas e as colocavam sobre suas cabeças.

Enquanto pagava "deizão" na minha capa - que não conseguia por e acabei dando-a para uma moça desesperada atrás de mim - notei que o palco havia sido inundado pela chuva. Pior: todos os intrumentos do Faith já estavam ali e os rodies corriam para cobrí-los. No mínimo haveria um atraso, mas eles tocariam. Pelo menos era o que eu e mais 24 mil pessoas esperavam.

Em poucos minutos a chuva estiaria. Os sorrisos voltariam a face de todos os presentes pela presença acima do palco de um cara vetido ridícularmente com um terno vermelho, óculos escuros e guarda-chuvas preto, daqueles que se compra em um camelô. Era Mike Patton e toda a banda que faria seu primeiro ato: a execução da música Reunited (um brega americano de relativo sucesso gravado pela banda Peaches & Herb) cantada em coro por grande parte da plateia - mostrando que a maioria dos que estavam ali já tinham visto vídeos na internet da apresentaçnao desta nova turnê.

Todos sabem no que são os melhores. E naturalmente vamos nos divertir.

O playlist executado pela banda foi especial, mesmo não fugindo da lista planejada para toda a turnê. Passou por todos os CDs, dando mais oportunidades para os dois melhores - King For A Day... e Angel Dust - e teve boa parte das canções cantadas em coro pelos presentes, mostrando que a maioria não foi pela onda de estar ali, mas sim para ver uma grande banda realizar um belo espetáculo.

Quando a pauleira começou, lembro-me de falar a seguinte frase para o meu velho amigo Marcos: o Chino (do Deftones) é do primário, esse aí é o mestre! E de fato, Mike Patton deu 150%: ficou molhado de chuva, gritou como um louco, teve uma presença de palco que faria a performance realizada a pouco pelo Janes parecer um mero aquecimento, cantou em português, brincou centenas de vezes com a galera - as três mais interessantes foram: "Temos uma grande banda aqui: Secos (o Faith em cima do palco) & Molhados (nós)"; "Esta talvez seja a nossa última apresentação aqui (o público se mostrou triste e ele lembrou), talvez, hein? (e todos riram)"; "Está música é para o Palmeiras! (seguido de muitas vaias e um ou dois aplaudindo - eu no caso!)".

A chuva rareava, mas não dava trégua, eles esbanjavam boa vontade e o povo correspondia, assim foram realizados dois bis, com umas 7 canções (os dois somados), Mike Patton antes do primeiro, fez questão de descer junto ao público que pagou mais e fez uma sequência de eu falo e vocês repetem de "Porra, Caralho", que resultou em confusão entre ele e alguns seguranças e um corajoso beijo na boca por parte de um fã - que se tornou motivo de muitos risos, ao ser projetado em telão para todos que viam a apresentação.

O show foi mais do que esperávamos, com som cristalino, sem confusões, repleto de bons momentose com a minha música favorita executada com pompas de clássica (Caffeine). Por tudo isso, talvez eu não tenha sentido na hora as dores nas pernas - devido as sequências e mais sequências de pulos - a rouquidão e a gripe que se arrastava a partir do desligar das luzes sobre o palco.

A empolgação foi maior do que o primeiro encontro - há 17 anos - e deixou uma certeza, nada de talvez seu Patton, de que mais outros momentos como estes serão vividos entre Faith No More e Rod Castro. Afinal, nem eu e nem eles, entramos na crise da meia idade. Nota 10 e com certeza este foi o melhor show que vi nestes 26 anos de rock.

!!Maquinária: Janes Addiction... ou: eles são bem mais do que sempre pareceram!!

11 de dez. de 2009

Quando soube que o Janes Addction estava no plantel do Maquinária confesso que fiquei um pouco triste. Conheço pouco da banda – ainda hoje afirmo isso, mesmo com um Best of no MP4 e alguns outros CDs deles – mas sempre quis ver como seria uma apresentação deles – havia lido sobre e sempre rasgaram elogios.

E a questão mais importante e que sempre me fiz era: será que o David Navarro é o típico ficeleiro ou ele realmente é mais do que apenas uma pose? Com essa pulga atrás da orelha, ainda sentindo a adrenalina deixada pelo Deftones e com o sol saindo de lado – graças a Deus – o Jannes subiu no palco.

E a primeira palavra sobre o que vimos é: eles são muito, mas muito bons mesmo. No mínimo dezenas de vezes melhor do que alguns imaginavam. Tá certo que o som das caixas melhorou muito – não estava ruim, mas algo diferenciou - e isso trouxe mais brilho a apresentação. Uma das coisas que mais passavam pela minha cabeça, como público era: moçada, vamos fazer nossa parte que assim o Pharrel - o Lollapalooza - traz o festival dele para o Brasil.

Tá certo que de meia em meia hora o Perry fazia questão de se afirmar homem – alguém deve ter falado ou postado bobagens sobre o cara e ele ficou muito, mas muito chateado mesmo – mas isso de forma alguma atrapalhou a apresentação dos viciados (addiction, ok?). Em uma apresentação nada contida, repleta de solos cavalares, peso (hard mesmo) da cozinha em total sincronia, eles atropelaram o pessimismo alheio e deixaram o público no ponto para o que seria uma das melhores apresentações de rock do ano em solo brasileiro, o Faith oras?

Momentos paga pau: sentir a precisão do Navarro em um som cristalino, ver o Pharrel cair algumas vezes porque não continha sua felicidade de ver tanta gente junta em um lugar louco como aquele, ouvir “Stop” com uma precisão sonora avassaladora e um encerramento com todos os demais componentes do grupo arrebentando alguns tambores enquanto Perry fazia suas estripulias.

O céu já ameaçava fechar e eu vociferava a todos próximos: vai cair uma tempestade amigos. E neste momento o Janes já se despedia, com muitas pessoas aplaudindo a apresentação e alguns, eu e mais uns três da minha turma, trocávamos palavras como: foi bom hein? Os caras arrebentaram.Sai o Janes, dono de um 9 com louvor.

E o palco se molharia para que os reis surgissem. Daqui alguns dias, senhoras e senhores: Faith No More.

Deftones: Be Quiet & Drive no Maquinária

23 de nov. de 2009

Você adora ser notado, afinal, é uma forma de você provar que está vivo.

18 de nov. de 2009

O sol deu um pouco de trégua. Mas não o suficiente, e assim era notável o grande rebanho de branquelos e senhores e senhoras devidamente vestidos de preto, já vermelhos, encaminhando-se para as tendas laterais a pista principal. Ali se encontravam as barracas que vendiam água, cerveja, refrigerantes e comida.

Enquanto os roodies retiravam os equipamentos do Sepulta e preparavam o palco principal do Maquinária para a entrada da primeira atração internacional do dia – o Deftones – o palco My Space trazia uma banda nacional, que segundo o Marcos Magalhães, cantava um nu metal em português risível, mas chamava atenção de centenas de pessoas (confesso que a minha noção neste momento era outra; eles tão querendo é ficar embaixo daquela sombra que fica em frente ao palco, espertinhos).

E assim que o vocalista do palco menor parou de gritar que “o pai dele o havia estuprado e que agora ele ia fazer o mesmo com os que acompanhavam o seu show”, Chino e o Deftones invadiram o palco principal. Sinceramente, não me recordo qual foi a primeira música - Marcos deve ter este momento gravado – pois neste instante eu e todos que foram comigo, lembramos que não estavamos em Manaus e que ninguém estranharia o nosso grito de admiração e gozação: “Chinoooooo, eu te amo!!!”

O que dá para dizer desse show? Foi muito, mas muito, pesado. O sol, ainda irradiava forte sobre nossas cabeças e acabava refletindo em mais impacto à apresentação. Talvez por esse efeito sensorial, centenas de pessoas a nossa frente e próximas a contenção dos ricos - o povo que tinha R$ 450,00 para ficar longe do aperto, os VIPs - dançavam, com dreito a reboladinhas masculinas, em vários momentos do show. Causando uma reação de estranheza, que depois resultava na seguinte pergunta - que me foi feita pelo chapa Júlio Roberto: “pô, têm uns arranjos que lembram muito o som do Depeche Mode, hein?”. E eu respondia, enquanto pulava (o que causou algumas hematomas nas pernas): é este o espírito, irmão!

Destaques da apresentação: Chino emagreceu e não foi pouco – a cara de bolacha permanece, mas a silhueta de pêra desapareceu; sim, ele usa um recurso de reverb bem na hora dos gritos mais sinistros, mas isso não tira o brilho da performance e o cara realmente é bom; o baixista que substitui o acidentado Chi fez bem o seu papel; a guitarra não dá refresco e ao contrário do que muito li por aí, nos sites que cobriram o evento, este deve ter sido o melhor show da banda em território tupiniquim.

Ah, o prêmio “o foda do festival, sem ser o Mike Patton” vai para o baterista Abe Cunningham, do Deftones. Por quase uma hora e meia de música atrás da outra, este rapaz detonou suas peles com perfeição, apesar de o sol estar de frente para a sua bateria - em alguns momentos o comentário lá embaixo era de que em algum momento ele iria errar ou até mesmo cair duro, mortinho, mortinho. Mas ele aguentou e arrebentou. Um excelente show, nota 9,0!

!!Um Supertime do Rock em um clássico do novo século…ou Them Crooked Vultures!! Por Rod Castro!

16 de nov. de 2009

Este ano de 2009 foi repleto de bons lançamentos no mundo do rock. Entre tanta coisa boa, como os discos do Yeah Yeah Yeahs, o do Arctic Monkeys, o do Muse, entre outros, um se destacava por ter em sua formação um time de vencedores na categoria rock pesado com estilo: Chicken Foot.

A banda formada por dois ex-Van Halen (o baixista Marc Anthony e o vocalista Sammy Haggar), um super guitarrista solo (Joe Satriani) e o atual batera dos Red Hot Chilli Peppers (Chad Smith) é muito boa, festiva, possui boas músicas, mas faltava algo. Talvez, com o projeto seguindo, eles acabem com uma sonoridade real e as várias pontas soltas acabem se unindo.

O problema consiste no seguinte: por termos grandes artistas, distantes de suas bandas, você, fã, acaba tentando escutar o destaque de cada um e mesmo em momentos que eles soam como uma banda, algo acaba remetendo as suas origens. Enfim, o som não soa coeso.

Mas o motivo real para se falar tanto de Chicken Foot em uma resenha sobre o disco mais esperado do ano, o do Them Crooked Vultures – banda que junta Josh Homme (líder do Queens Of Stone Age, A BANDA de rock dos últimos 20 anos), David Grohl (eterno batera do Nirvana e vocal do Foo Fighters) e John Paul Jones (o melhor multi instrumentista da história do rock) – é que este projeto consegue desfazer de praticamente tudo o que foi dito do Chicken.

Assim eu te deixo atordoado e confuso?

“Gunman” e “Interlude With Ludes”, são músicas do Led Zeppelin, do Foo Fighters ou do Queens Of Stone Age? De nenhuma das bandas citadas, mas sim de uma nova banda. A capacidade dos três integrantes é tamanha que em certos momentos você se pergunta porque dezenas de roqueiros – que ainda tocam algo – não largam algumas bandas mais ou menos ou em franca decadência e juntam-se a outros com a mesma capacidade e formam uma (nova) boa banda, como essa.

Soltem os cachorros pretos: isso é roque em rou!!!

O baixo preciso de Jones, influenciador de toda uma geração – incluindo aí os dois membros do Them Crooked – dita o ritmo da banda em vários momentos, como em “Warsaw or The First Breath You Take After You Give Up” (com uma pegada no estilo do bons tempos de The Doors), na ritmada “Elephants”, na competente “Scumbag Blues” e na paulada “Reptilles” (Queens com Led Zeppelin, ou será que é esta canção é a mais digna prova de que o Queens sempre tentou soar como o Led e ninguém nunca percebeu?).

Jones também mostra sua maestria – ele já escreveu dezenas de óperas – e faz o clima sinitro ou alegre necessário em um par de canções, ao piano ou orgão, como: “Caligulove” (com direito a solo de orgão e mistureba indiana), a já citada “Gunman” e a derradeira “Spinning in Daffodils”.

E há cancões como a dos imigrantes?

Em um disco repleto de boas músicas, fica difícil citar três ou quatro que você deva por num repeat até porque, este é um dos poucos discos do ano que há uma obrigação real de se ouví-lo do início ao fim. Mas entre essas canções preparadas para um Best Of no futuro, destaco as interessantes e bem próximas de um hit “Bandoliers”, “New Fang” e as roqueiras “Dead And Friends”, “Mind Eraser, No Chaser” e a faixa de abertura, dona de um título impagável, “No One Loves Me & Neither Do I”.

Esses abutres curvados não se alimentam de carniça, ou se o fazem, regurgitam filé. Obrigatório, como poucos discos. Uma lição de como se fazer boa música, sem esforço, mas com vontade. Nota 9,0!

!!É sempre engraçado, até alguém se machucar e quando isso ocorre é hilário!! Por Rod Castro!

13 de nov. de 2009

Entre a emoção de saber que a minha banda favorita de hardcore havia voltado a atividade e o dia em que a vi se apresentando em um palco, um pouco distante e ao lado de milhares de pessoas, passaram-se mais de 4 meses. Mas a situação era tão extraordinária que a sensação é de que alguns minutos se foram nesse mesmo espaço tempo.

O sentimento se afirma e ganha força a cada memória lembrada, em detalhes, do melhor show que já vi – embaixo de muito sol, depois de muita chuva e com muitos metaleiros radicais sorrindo ao ouvir Mike Patton cantar “Ela é paulista, ela é paulista” em total gozação com o clássico “Ela é carioca, ela é carioca, basta o jeitinho dela andar…”. Mas antes…

A porrada aclimatada por um sol Amazonense em plena terra da garoa.

Conferir um festival de rock em São Paulo sempre traz bons momentos, seja antes das apresentações – em programas especiais com amigos ou parentes – durante o evento e muitas vezes, ao apagar das luzes, quando você se depara com aquele super exército de formigas vestidas com roupas escuras se dispersando por pequenas ruas e depois grandes avenidas até sumirem.
Mas este Maquinária 2009 entra para a história dos eventos musicais na “capital” do Brasil por ter acontecido em um clima nada hospitaleiro para os fãs do som que os papais, mamães e vizinhos tanto reclamam. Quando cheguei, com um grupo de amigos, a Chacará do Jóquei, os termômetros espalhados pela maior avenida próxima, marcavam exatos 36 graus.

Aqui um parêntese: a organização do evento merece palmas. A segurança era de primeira, o local era muito bom, limpo, havia um grande número de barraquinhas para compra de água, refrigerante, cerveja e alguns quitutes – sendo que o melhor, como sempre, era você ter comido algo antes. A revista foi feita praticamente 4 vezes seguidas, com direito a sorrisos de moças e simpatia dos grandes homens engravatados – era neles que eu pensava a cada olhada para o sol, tadinhos.

Após uma passada no Burguer King nada como uma subida e o Sepultura.

Encontrar o Sepultura é com over aquele seu amigo de longa data e que de vez em quando dá uma ligada para sua casa ou decide te visitar, sempre rende bons momentos. E foi após uma longa subida, que acabava em um grande gramado, que todos os fãs de mais de 4 bandas eram recepcionados com um som potente, limpo, à distância, e algumas milhares de cabeças já espalhadas a frente do palco. Com uma brisa que aliviava, mas não dissipava a onda de calor, fomos recebidos com riffs poderosos de guitarra, bateria e baixo compassados e os já tradicionais berros de Darrick.

A banda não poupou hits, fez a sempre competente apresentação e fez todos pularem ao som de sua canção que mais lembra um hino: Roots – com direito a paradinhas calculadas, pessoas freneticamente gritando um “Uaaaaaarghhhhh” junto com o negão e uma poeira alaranjada subindo de uma roda não tão distante, mas ainda assim contida.

É o Sepulta, só por isso já merece um digno 8,5.

Um vídeo para você entender o Maquinária

12 de nov. de 2009

!!Eu sempre tive fé de que no final nós nos encontrariamos de novo!! Por Rod Castro!

11 de nov. de 2009

Em 1991, uma banda roubaria a atenção do público e da mídia no mais esperado festival de rock em solo brasileiro (Rock In Rio II): o Faith No More. Em mais de uma hora de show, Mike Patton e seus 4 companheiros de banda fariam história e acabariam se rendendo não somente aos cariocas, mas ao Brasil como um todo: excursionaram pelos mais distantes Estados tupiniquins, chegando a minha cidade, Manaus.

Sim, assim como centenas de pessoas que lá estavam no Studio 5, eu e minha prima eramos dois que haviamos adquirido os LPs/CDs da banda e não só sabiamos de cor as letras, assim como as loucuras que Mike Patton era capaz de realizar em cima de um palco – não esperavamos, mas ele se jogaria, com direito a mortal, sobre os metaleiros próximos ao palco; pularia como um canguru insandecido durante boa parte da apresentação e encerraria sua performance com um salto de encontro a bateria, paralisando a apresentação por alguns minutos.

Com tudo isso é óbvio que aquele show foi no mínimo espantoso e significante para todos que estavam lá. Por mais de uma hora e meia, cantamos, nos divertimos, ficamos surdos e vimos uma performance digna de aplausos e muito, mas muito sour mesmo – tanto da banda, quanto dos nativos. Como fala um amigo meu: não foi um gasto de dinheiro, foi um investimento.

Naquele mesmo ano em que vi a banda com meus próprios olhos ao vivo, ouvi seu segundo excelente – e até hoje subestimado disco – “Angel Dust” a exaustão. Torci para que eles voltassem ao país e lembrassem que os amazonenses tinham feito tudo o que podiam para eles gostarem de ter passado por aqui, mas não existiu tal apresentação.

Dois anos depois, confeço que havia me afastado do Faith. E mesmo em 1995, quando eles lançaram, o que em minha opinião hoje é o seu melhor disco, “King For A Day, Fool For A Life Time”, deixei de lado a vontade de escutar o trabalho e acabei ficando para trás. A recuperação e a aliança entre meus ouvidos e som da banda foi feito um ano depois, quando um amigo me mostrou uma apresentação deles em um estúdio de uma rádio em São Paulo.

O Faith voltava a minha discoteca e teria mais presença em minhas audições solitárias em meu quarto, com direito a gritos e pulos – que faziam o aparelho de CD pular ou silenciar suas caixas, dependendo da intensidade do salto. Até que em 1997 Patton e seus 4 “amigos” lançavam o CD com o título mais sacana que já vi nesses últimos anos: “Album Of The Year”. A cada faixa passada, sentia algo diferente, como se fosse uma despedida, um certo despreendimento com o público e principalmente, uma mensagem cifrada de que eles não eram mais os mesmos – ainda assim realmente era um dos melhores discos do ano, afinal era um CD do Faith.

Houveram apresentações da banda, mas o sucesso da antes não era alcançado. E os rumores começaram a surgir de todas as partes, como: eles não se dão mais bem; Mike Patton passa mais tempo inventando novos projetos e não tem mais ambição musical com a banda; desde que o guitarrista original saiu, eles começaram a se atacar; é questão de tempo para que a banda chegue as vias de fato.

Em 19 de Abril de 1998, apõs muito se comentar e nada se concretizar, Bill, o baixista, em um email no site da banda comunicava que a “banda encerrava os boatos de separação… com uma separação”. Era assim, de uma forma até criativa, sem alardes ou marketing, que o Faith parava.

Nesses últimos dez anos de separação, ouvia-se de tudo: Mike fez o certo, é só ouvir os projetos dele – Fantômas, Peeping Tom e Tomahawk - e você vê que o cara era mais do que uma banda; o baterista se tornou o batera official de Ozzy Osbourne; o baixista trabalhou no projeto El Ninõ; e Rod produzia CDs de novas promessas do mundo do Rock.

Ah e quase ninguém falava de uma reunião, pelo menos não com Mike, que se recusava a falar do assunto ou quando se sentia disposto a tanto, acabava escrachando a possibilidade de tal forma que o próximo jornalista ficava com muito medo de retornar ao assunto. Até que…

Em fevereiro de 2009 os boatos tomavam conta da internet: Mike Patton decide não gravar mais um disco dos seus projetos; Bill e Rod são vistos juntos; Mike Bordin larga a excursão de Ozzy; a banda anuncia que está de volta e excursionará por todo o planeta. Confeço que quando li essa última notícia me senti emocionado ao ponto de ir ao banheiro aqui da empresa em que trabalho e olhando para o espelho chorei de felicidade, como em poucas vezes na minha vida.

Você pode rir dessa confissão, mas tenha certeza, naquele dia eu ri mais do que você agora. Só não ri mais, do que no dia em que soube que eles viriam ao Brasil, ou no dia em que minha prima Cláudia mandou um e-mail dizendo que estava com meu ingresso em mãos. Mas isso fica para o próximo post. Afinal, meu reencontro com o Faith No More ocorreu há 4 dias e ainda estou sob efeito do espetáculo. Até lá.

!!E O Faith No More, Hein?!! By Sra. T. Beresford (a Mari)!!

10 de nov. de 2009

Bem, amigos do A Sétima, estou de volta de Sampa - tempo corrido apenas três dias por lá e com muuuito sol na moleira. Meu texto sobre o show do Faith No More e todo o festival Maquinária você confere daqui uns dois dias, segue abaixo o que a Mariana - minha xapa e do Richard - escreveu sobre o show que assistiu no RJ. Divirtam-se!


E o Faith No More contrariou a todos e à eles mesmos (assim como qualquer outra banda depois de muito dizer que nunca fará isso) e resolveu se reunir e sair em turnê. E, depois de muito tentarem se desvencilhar de nosso país tropical, claro que acabaram dando as caras no país que os recebeu muito bem desde a lendária apresentação do Rock in Rio de 1991.

O Faith No More não é uma banda qualquer. Não por ter "inventado o Nu Metal" (ou sei lá que diabos querem dizer com isso), ou por reunir alguns músicos excelentes e um vocalista louco e carismático, ou por cometer um (ousaria dizer dois ou até mais) dos melhores discos da década passada (e do final dos 1980). Eles não são uma banda qualquer pelo fato de ser uma banda MUITO esquisita. Daquelas que quando você ouve pela primeira vez, tem aquela sensação de "mas o que é isso que tá acontecendo?!?!?". Os críticos que tentavam categorizar a banda (sem muito sucesso) lá no início dos anos 1990 que não me deixam mentir.

Levando para o lado pessoal, poderia dizer a vocês o seguinte: tanto o FNM não é uma banda qualquer que até eu, uma pessoa super farofa que só gosta de música pop e não tem apreço algum por bandas "pesadas", sou fã deles - isso, antes mesmo de saber que eles foram um dos poucos corajosos a aceitar tocar com o Sparks (e desde que soube disso a minha admiração só aumentou, óbvio). Ou então, levando para níveis mais absurdos ainda: eu nunca tive uma banda favorita quer caísse tanto no gosto de meus próprios pais, coisa que aconteceu com o FNM - para desgosto do meu irmão mais velho, o maior fã deles na face da Terra (dentre os que eu conheço, ao menos), que de tamanho frenesi por eles acabou contaminando a família inteira. Sim, ele também sofria de ciúme de banda (deve ser algo nos genes, como podem ver). Ou seja, a gama de fãs da banda transcede idade, gêneros e gostos, e vale lembrar que não é qualquer um que consegue tamanha façanha.

O caso da banda californiana ilustra bem o que eu quis dizer no post anterior, quando a história que você tem com certa banda vai além do que você possui ou sabe sobre ela. Ela é parte da sua vida, queira ou não. E eles eram tão bons que nem mesmo percebíamos o quão estranhos eram - ou então achávamos bons por serem tão estranhos, não sei. É daquelas perguntas tostines que não podemos (e nem queremos) tirar conclusões.

Claro que antes de eu por os pés naquela casa de show com nome de banco no Rio de Janeiro, a minha história com o show do Faith No More passou por altos e baixos: começou muito animada, com a confirmação dos shows no Brasil, e quase terminou bem mal, com a minha desistência em ir ao show - devido aos fatores de sempre, falta de dinheiro e poucas opções de transporte para mim - se não fosse pela aparição de uma mão amiga na última hora que me possibilitou de presenciar o evento. Devo dizer que foi uma sensação agridoce. Afinal, de uma família a qual praticamente todos os membros tinham algum nível de admiração pela banda, somente eu estava ali testemunhando algo tão especial.

Nem preciso dizer que passei a primeira metade do show às lágrimas (foi um bloco arrasador mesmo), e só parei em "Easy" por ser uma ótima piada, mas sem necessidade de choro. ;D
Mas logo depois vieram "Epic" e "Midlife Crisis" e aí nem preciso dizer que as lágrimas voltaram. Muitas lembranças ressurgiram: os primórdios da MTV Brasil; as madrugadas que eu passava acordada ouvindo música com meus irmãos; o amigo oculto do colégio na quinta série, quando pedi um vinil do FNM que nunca ganhei; de um amigo nosso que ligou aqui pra casa ao encontrar um dos integrantes após um show - e meu supracitadíssimo irmão mais velho desligou na cara por não acreditar que alguém do Faith No More estava querendo falar com ele no telefone; do meu saudoso irmão do meio, que adorava "roubar" as bandas favoritas do primogênito de forma que chegava a irritar; do meu igualmente saudoso avô, que adorava nos acompanhar até as lojas de discos importados e raridades e sempre com grande entusiasmo em estar conosco ouvindo aquele monte de música estranha. No show, eu via o tecladista Roddy Bottum e me lembrava de quando ele ainda tinha cabelo e de como eu o achava liiiindo (eu e os gays, sempre), olhava para o baixista Billy Gould e pensava que ele foi (junto com Les Claypool, Robert Trujillo, Kim Deal e Tina Weymouth) um dos responsáveis pelo meu interesse acerca deste instrumento durante a minha (pré-?)adolescência. E Mike Patton... ah, eu duvido que tenha existido uma adolescente sequer nos anos 1990 que não tenha se apaixonado por ele por um breve instante que seja, ao mesmo tempo em que havia um certo receio (pra não dizer medo) de sua figura - sem falar que na verdade eu sempre acabava preferindo a "outra banda" de Patton, mas se não fosse pelo Faith No More eu nunca saberia da maravilha que era o Mr. Bungle. Enfim, são apenas algumas das histórias para mostrar que o Faith No More, antes de ser uma banda interessante, criativa, caça-níquel ou qualquer outra coisa para o resto do mundo, era uma banda que eu precisava ver ao vivo.

O show deles foi tão carregado de significados que apenas avaliá-lo com notas ou dizendo que música tocou ou faltou torna-se pouco, irrelevante.

- Isn't that what it's about ?
Sra. T. Beresford

!!Gibis mensais que merecem leitura: DC, Marvel e a volta da Vertigo!! Por Rod Castro!

27 de out. de 2009

Quando eu era novo, faz tempo isso, havia uma empresa que mandava em todo o setor de quadrinhos no Brasil: a Editora Abril. Antes dela também havia outra hegemonia: a EBAL. Ambas botavam nas bancas de jornal de todo o país os quadrinhos das duas melhores editoras americanas de quadrinhos – a Marvel e a DC.

Hoje, sou veinho, mas a hegemonia continua. Sim, teve um tempo em que a Abril viu seu império começar a ruir, graças a entrada da editora italiana Panini Comics no cenário – esta aliás, é a editora da Marvel Comis na Europa inteira - sua chegada foi um solavanco que a Abril nunca esperou viver.

Neste tempo, entre 2001 e 2002, a Abril colocava o seu eterno formatinho – aqueles gibizinhos, lembra? - com os herois da DC, para brigar frente à frente com o formato Americano e papel especial dos italianos. O resultado: a Panini acabou vencendo a guerra e tirou a DC da concorrente, consolidando um novo império nas bancas tupiniquins, até agora…

E é nesse cenário, que indico algumas boas opções em quadrinhos que você pode comprar por um preço, ainda, acessível, vamos lá?


Superman – foi-se o tempo em que ler um gibi do Superman era uma eterna chatiçe. A nova equipe formada por James Robinson (roteirista de cinema e autor do excelente título Starman) e o desenhista brasileiro Rafael Albuquerque, assumiram os principais gibis do escoteirão desde o mês passado e dão continuidade ao bom trabalho traçado durante mais de um ano por Geoff Johns - o cara que mais produz na DC e que também é roteirista de cinema.

Dimensão DC: Lanterna Verde – o Lanterna Verde é um dos melhores personagens já criados no universo DC, mas assim como vários heróis da editora, sofreu muito nos anos 90, ao ponto de se tornar um dos seus maiores vilões – Parallax. Graças ao já citado Geoff Johns, o personagem (Hall Jordan) voltou da morte e tem tido uma das melhores sequências de histórias dos últimos anos. Hoje a revista conta com um mix interessantíssimo (Tropa dos Lanternas Verdes e Gladiador Dourado) e em seu título principal um dos melhores desenhistas do mundo, o premiado e brasileiro Ivan Reis.


Batman – o escocês Grant Morrinson, o redator mais insano dos quadrinhos, há mais de um ano planta pistas deste atual momento do homem morcego e que deve cuminar na morte de Bruce Wayne – ah, vai dizer que você não sabia que o morcego bateu as botas nos quadrinhos? Batman descance em paz é a série mais conturbada do morcegão desde que Bane quebrou sua coluna – lá na década de 90. A revista não é de fácil acesso, ainda mais se você pegar para ler a partir do atual número, mas conta com duas grandes equipes no comando, Grant & Tony Daniel e Paul Dini (redator do aclamado desenho animado do morcego) & Doug Mankhe (um dos desenhistas mais bacanas da DC).






Marvel Max – não tenho noção de quantas vezes me perguntei quando a revista Marvel Max iria finalmente deixar de existir. Primeiro foi quando o próprio selo Max perdeu força nos EUA e depois quando Garth Ennis largou o principal título por lá, o do Justiceiro. Bem, a revista não só não foi cancelada como de um uns meses para cá, vem fazendo bonito no seu mix de histórias. Seja com o descompromissado terror de zumbis com Simon Garth - o Zumbi (do polivalente Kyle Holtz), com a série de ação do personagem mais intrasigente da atualidade o Fool Killer (muito bacana), o interessantíssimo Terror Ltda. (do premiado David Lapham) que possui um pé na história da humanidade e outro na espionagem e o já falado último arco produzido pelo mestre da escatologia Garth Ennis frente o título de Frank Castle em Justiceiro Max.




Os Novos Vingadores – Brian Michael Bendis é o cara hoje na Marvel – ele tem a mesma importância que Geoff Johns possui na DC. E ambos conseguiram tal posição graças a uma palavra: regularidade. O domínio que o carequinha BMB tem do mundo Marvel é tamanho que as principais histórias dos personagens da “casa das Ideias” sempre tem um toque seu, no caso dessa revista, o toque vai no título principal, o dos Vingadores. Para a revista ser uma das melhores publicações Marvel no Brasil pesa mais três títulos: Miss Marvel (hoje bem melhor que no início, apesar de ter o mesmo redator Brian Reed no comando), Thor (do sempre bom J.M. Stranckzynski e do desenhista Pat Ollife) e o excepcional Capitão América (do argumentista mais vanguardista dos últimos anos, Ed Brubacker, ao lado do desenhista Steve Epting). Um gibi que há mais de um ano sempre tem três ou as quarto histórias boas, todos os meses.




Homem Aranha – o bom e velho cabeça de teia se deu bem: entrou numa série que balançou seu status quo (Mary Jane não é mais casada com Peter e nem ele nem ela sabem disso), ganhou três novos redatores e uma nova equipe de desenhistas que mudou por completo o ritmo e o gosto e suas histórias. Desde que a mudança proposta pelo editor-chefe Joe Quesada ganhou as bancas do Brasil, ainda não li uma, sequer uma, história que fosse no mínimo interessante. Talvez o gibi que mais indico da Marvel hoje.

!!Um dos mais corajosos filmes do ano. Imperdível: Distrito 9!! Por Rod Castro!

16 de out. de 2009

O que falar de um filme que pega um mote tantas vezes já explorado no cinema e o inverte em quase todos os conceitos? “Genial”, “Transgressor”, “Obrigatório”, “Filme Do Ano”. Não, isso seria se utilizar de outro alicerçe, mas de divulgação, da mesma mídia para dizer o que não se pode ser dito.

“Distrito 9” é este tipo de filme. Que te pega por uma verve que você nunca tinha sido capturado e faz seu olhar enxergar todo um mito por outra lógica. Mas como isso é possível? Simples: um excelente enredo, aliado a efeitos especiais que complementam a história a ser contada – não se transformando em uma alavanca para chamar público, como a maioria o faz hoje em dia – e um diretor que acredita na realidade antes de transformá-la em imaginação.

Enredo
Os ETs existem, chegaram à Terra em uma grande nave, há 20 anos, doentes e foram abrigados em uma favela isolada por arames farpados. Já pensou nisso que acabei de escrever? Releia e pense por um instante nestas breves linhas. Já? Que filme traz esta inovação ao bom e velho segmento de filmes de ETs? Nenhum.

A transgreção proposta pelo diretor/roteirista não para por aí: a nave não surgiu sobre os EUA, mas sim sobre a África do Sul; não é uma invasão com milhares de mortos, mas sim um incidente; há sim, uma alusão declarada ao Apartheid, ainda mais se você notar que o apelido dado aos ETs é “Camarão”; e o maior problema da história a ser contada é que os alienígenas estão “enfeiando” a capital Africana e por isso serão removídos para uma área isolada – muito parecida com um campo de concentração nazista.

O elemento surpresa da história nos é apresentado bem em seu início: um pretencioso membro da organização responsável pela “manutenção” dos ETs na Terra. O papel deste pomposo cidadão é o de liderar a remoção dos “camarões” para a sua nova moradia – mas algo deu errado e ele fez algo que todos, os terrestres, recreminam.

A partir deste momento, ficção e realidade se confundem constantemente até você se sentir completamente imerso no contexto e abraçar este cenário inumano como algo possível. E esse sentimento é desenvolvido não pela presença dos ETs, mas pela reação racista da pior raça existente no mundo: nós, os terrestres.

Efeitos
Nada avassalador ou perfeito. Mas realista ao ponto do espectador ver os alienígenas como algo natural depois de dez minutos de projeção. Como Peter Jackson sempre falou – e ele é o produtor principal do filme: a contextualização vem antes da plástica.

É visível a participação dos técnicos envolvidos com a direção de arte do filme com os que cuidaram dos efeitos especiais. Este cuidado faz com que a unidade visual siga o seu percurso: dando apoio aos personagens e o desenvolvimento da excelente trama.

Está entre os melhores filmes do ano?
A minha lista ainda não está fechada. Tem nomes já citados por aqui, como “Bastardos Inglórios”, “Milk”, “Deixe Ela Entrar”, “State Of Play”, “Frost vs Nixon”, “Up”, “Está Chovendo Hambúrgueres” e “O Lutador” entre outros.

E com certeza “Distrito 9” terá presença garantida. Um filme que merece ser conferido em sala escura. Nota 9,0.

!!É Taranta, você fez sua obra-prima… ou: Bastardos Inglórios!! Por Rod Castro!!

14 de out. de 2009

Nesses mais de 30 anos de vida, não me lembro de ter falado tantas vezes “É o melhor filme dele (diretor)” em uma sala de cinema. Posso ter constatado isso ao assistir “Ratatouille”, mas esta reação veio com o subir dos créditos. Talvez em “O Senhor dos Anéis: o Retorno do Rei”, mas já estava no corredor de saída. Ali, assistindo e somente com 35 minutos de filme, isso nunca me ocorreu.

Ou melhor: na última sexta fiquei repetindo essas palavras dezenas de vezes enquanto assistia a obra-prima de Quentin Tarantino: “Bastardos Inglórios”. Sei que muitos arremessarão pedras, mas o filme é tão bom, que tive que rever todos os filmes do diretor Americano – incluindo aí, alguns que ele fez somente o roteiro, como “Amor À Queima Roupa”.

E esta minha conclusão não é empolgação, é certeza. A cada minuto de projeção você, principalmente quem é fã do diretor, entende porque Quentin demorou tanto neste roteiro: ele queria a perfeição.

E tudo está no lugar certo (como dizia Thom Yorke): personagens incríveis, história simples, sacadas visuais, palavras tão bem escritas (e ditas) que são decoráveis e sequências inteiras rodadas com maestria que arrancam riso ou sorrisos – a última reação é de constatação de que este é um filme para se ver e rever muitas vezes.

História

O roteiro é dividido em três partes: uma moça (Shosanna) se torna a única sobrevivente judia de uma família “genialmente” massacrada pelo “Caçador de Judeus”, o coronel Hans Landa, na França recém tomada pelo exército de Hitler; no futuro, Shosanna se torna dona de um cinema em Paris e acaba bolando um plano para por um fim a vida dos líderes nazistas, incluindo o próprio filho do cão, Hitler; neste mesmo tempo, somos apresentados a um grupo de soldados americanos cruéis, que se divertem massacrando os “nazis”, os Bastardos.

Basicamente é isso. Fácil e simples assim. Melhor, o filme não se utiliza de montagens entrecortadas para mais explicações ou transformar as histórias em mitos, pelo contrário, são narradas com câmeras quase estáticas e em muitos momentos, lembra uma peça encenada em grande tela.

Outra dado importante: não espere por um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, a história de “Bastardos” é uma das mais corajosas já contadas sobre este fato histórico, sendo capaz de ter um final nunca antes pensado e brilhante – que não merece ser falado e sim descoberto por você no cinema.

Personagens

Quem leu até aqui, deve conhecer a capacidade de Tarantino em criar personagens únicos. Pois vou contar um segredo do filme: os melhores personagens criados pelo diretor estão em “Bastardos Inglórios”. Tempo para você se indignar e citar nomes inesquecíveis como os de Vincent Vega, A Noiva, Mr. White, Butch, Mr. Orange, Bill, entre outros. Pode xingar aí…

Já? Continuando. Parece que o queixudo leu um livro com delcarações de Walt Disney e viu que “o vilão tem que ser mais importante que o herói, sempre” e tal inspiração o fez criar seu personagem mais incrível: o coronel Hans Landa, criado (pois deve ter muito das percepções desse ator ali) de forma visceral pelo ator alemão Christoph Waltz – que deve levar todas as premiações de coadjuvante do ano que vem, já levou Cannes.

Landa é o mal encarnado. Sabe aquele mal estar que somente Hanibal Lecter (de “O Silêncio dos Inocentes”), Coringa (de Heath Ledger), Tony (de o “Poderoso Chefão II”) e o Coronel Walter E. Kurtz (de Marlon Brando em Apocalipse Now) são capazes de infligir quando estão em cena? Então, Landa consegue o mesmo efeito. Um personagem já perpetuado na história do cinema.

Os “Bastardos” não ficam atrás e levam à seguinte conclusão: o que faz Eli Roth ser diretor com tanto potencial para encenar? Como um arrogante inglês, mesmo sendo um britânico e crítico de cinema, conquista sua afeição de tal forma que você lamenta por ele aparecer tão pouco? E Aldo Raine é o segundo melhor papel já encarnado por Brad Pitt – o primeiro ainda é Tyler Durden, de o “Clube Da Luta”. Deve ganhar corpo e lembrança com o passar do tempo.

Sequências

São tantas, tantas, mas vamos lá: a primeira cena de Landa em uma casa de camponês (a maldade sem exageros); os resgates e torturas dos Bastardos; a apresentação do personagem crítico de cinema que é espião inglês; o melhor tiroteio já imaginado pelo diretor; e toda a sequência final no cinema de Shosanna – destacando o encontro entre Landa e os Bastardos - uma ode ao bom cinema em pouco mais de 25 minutos.

Veredicto

Aldo (ou seria Tarantino?) olhando direto para o público, já disse o que irei dizer: “essa deve ser a minha obra-prima”. Nota 10!!

!!Entre atitude e diversão, o Jet prefere a segunda opção!! Por Rod Castro

28 de set. de 2009

Fala pra mim algumas bandas que vieram da Austrália. Tá, tenta lembrar comigo: AC/DC (porrada, mas festeiros), Midnight Oill (atitude ecológica, mas ô banda ruim), INXS (talvez a melhor dentre tantas) e … mais recentemente o Jet.

Uma banda descompromissada com a parte histórica - apesar de uns riffs lembrarem, apenas isso, os feitos com maestria pelo guitarra do AC/DC – mas que sempre capricha no pop e nas levadas românticas. Mas a carreira do Jet, em resumo, fica nisso: um meio termo. Talvez este seja seu maior problema, nunca teve maior definição artística.

Após dois discos, o que se pode chegar a conclusão é o seguinte: eles buscaram o algo mais, bateram em hits que fizeram os jovens dançarem e levaram alguns dinossauros a prestarem mais atenção em seu som, mas foi apenas isso. E isso é pouco para um quarteto com dois bons discos como eles.

Pior, todos sabem que o terceiro disco é a hora da virada e ao mesmo tempo o momento certo para mostrar sua capacidade criativa. Aqui, coragem é metade da solução pra esse dilema.

Os Strokes tiveram e fizeram um disco que agora está sendo adorado. Os Arctic Monkeys também e mais: saíram da sua casa natal – Inglaterra – e chamaram um produtor de peso para o novo trampo (o guitarra e líder do Queens Of Stone Age). Mas e o Jet? Teve medo e seguiu sua fórmula de fazer música.

“Shaka Rock” não é um disco sensacional, não tem o frescor dos anteriores, mas tem rock (“Seventeen” e “Beat On Repeat”), pop (“Black Hearts On Fire” e “Times Like This”), baladinhas (“Goodbye Hollywood”), rock estilo Fab Four (“La Di Da” – parece “Obladi, Oblada” e “Walk”) e hits (“KIA” e “Shes a Gennius”).

A diferença de “Shaka…” para os anteriores: muitas faixas e algumas passaram a ideia de que realmente sobraram, como as forçadas “Let Me Out” e “She Holds A Grudge”. Uma pena, já que em “Start The Show”, a banda mostra que é capaz de fazer mais, apenas não deseja.

Enfim a poeira do deserto australiano, que foi bem levantada em trabalhos anteriores, dá uma baixada. E a pergunta que me faço é : sera que as brigas relatadas por produtores e engenheiros que participaram das gravações desse trabalho, acabou afetando o disco? Infelizmente parece que sim. Nota 7,5.

!!A escuridão dá lugar ao azul, ou: novo disco do Alice In Chains!! Por Rod Castro!

23 de set. de 2009

Antes de ouvir o novo disco do Alice In Chains eu pediria somente três coisas do ouvinte: esqueça que Laney Staley – vocalista fundador – faleceu há 7 anos; lembre dos melhores momentos que a banda mais pesada a surgir no movimento grunge, em seus três discos de inéditas e o trabalho mais conhecido, o disco Acústico; e por último, a primeira música desse novo disco que você deve ouvir é a última faixa, a mesma que dá título ao trabalho.

Faça isso. Ou melhor, lembre das duas primeiras recordações enquanto ouve a faixa tão recomendada. Pode ter certeza, as viúvas de Laney – sou uma delas – esquecem tudo o que de ruim ocorreu e a chance de uma segunda oportunidade para este novo trabalho sem o inesquecível vocalista ganha em esperança.

Além de bonita, repleta de significados – o luto dá vez à esperança – esta faixa com certeza estaria em qualquer um dos CDs antes lançados pela formação original do Alice e se bobear seria um grande momento em qualquer show da formação original. Fica melhor ainda quando o ouvinte descobre que o piano tocado ao fundo foi belamente realizado por Elthon John.

Mas antes que você tenha a impressão de que o peso, de que os riffs, os vocais duplos, as palavras cantadas de forma lenta e melódica, unidas ao compasso bem preparado de bateria e baixo se perderam por este novo trabalho da banda - que não gravava nada novo desde o falecimento do vocalista – eu dou a certeza: está tudo lá.

Parece que os remanescentes – não, nada de sobreviventes – apenas deram uma volta por aí, aqueel tipo de sumisso que a banda dá após uma longa turnê e surge com um trabalho mais avassalador que o anterior, e voltaram com uma gana de fazer o melhor disco deles, desde o clássico “Dirt”.

Todas as músicas são no mínimo boas. Desde a primeira faixa (“All Secrets Known”), a típica faixa AIC: lenta, mas pesada, com riffs decoráveis, solo de guitarra como se fazia nos anos 70 e refrão memorável. A segunda (“Check My Brain”) poderia ser uma das várias faixas pesadas do primeiro disco, crua e ao mesmo tempo positiva.

Um dos melhores momentos é quando o novo vocalista - William DuVall - mostra do que é capaz e põe a voz do guitarrista e eterno líder da banda, Jerry Cantrell (talvez o guitarrista mais injustiçado de sua geração) para ser seu backing em “Last Of My Kind” e “Private Hell”. Lembra, mas não lembra, entende?, o vocal de Laney. E isso é bom, pois mostra que a banda tem um futuro de verdade e não viverá somente do seu glorioso passado.

Mas talvez o medo de Jerry e demais parceiros, o de perderem o vocalista novamente, fez com que o guitarrista assumisse o vocal em quase todas as canções, isso é bom. Cantrell canta muito, compõe como poucos e na maioria das vezes, prefere fazer dupla, esta característica do AIC permeia quase todo o disco e rende outros três excelentes momentos: “Looking In A View” (a melhor canção do disco), “Acid Bubble” e “Leason Learned”.

Em um ano feliz para os roqueiros – a volta do Faith No More, o disco maduro do Arctic Monkeys, a homenagem bem feita do Muse ao som do Queen e a banda formada pelo vocalista do Queens Of Stone Age+o baixista do Led Zeppelin e+o baterista e vocalista do Foo Fighters – “Black Gives Away To Blue” está entre os melhores lançamentos do ano com folga perante os demais e merece uma cópia original na sua estante dos melhores de 2009. Nota 9,0!!!

!!Knights Of Cydonia transformou o Muse… ou: The Resistance!! Por Rod Castro

14 de set. de 2009

Sabe aquela banda que lembra aquela outra que copiava a clássica daquela época e que agora, a primeira, parece ser a mais nova banda que pode salvar o rock? Então, esse era o meu sentimento quanto ao som do Muse, banda inglesa surgida no final da década passada.

O jeito de cantar de seu letrista, os compassos dados por baixo e bateria emulavam o som do Radiohead e na maioria das vezes, essas lembranças acabam se tornando bloqueios para esse escriba. Foi assim com os Strokes e com o Interpol.

O primeiro era uma total homenagem ao som do The Clash – e pior, os conheci numa época em que o Clash não saia dos meus tímpanos – e o segundo era uma soma de Talking Heads com Joy Division. Isso é ruim? Não, mas o hype sempre me irritou bastante e assim, este desgosto pelo que é da moda, afastou-me do Muse inicialmente.

Foi uma pena, pois perdi o sentimento imediato que o seu melhor CD – “Absolution” – tinha a oferecer. Juro que tentei, mas não descia. Mas em 2006 um grande amigo me empurrou “Black Holes And Revelations” e disse: escuta. Para não frustrá-lo – um grande fã da banda, meu chapa Marcos Magalhães – ouvi uma, duas, trocentas vezes até saber cantar partes inteiras das músicas.

Voltei ao abandonado “Absolution” entendi muito de suas impressionantes e ao mesmo tempo devastadoras canções e busquei mais conteúdo no passado da banda – afinal rock é cultura e tem que ser cultivada – os paralelos com o Radiohead existem e quem não se sentiria feliz de ser comparado com Led Zeppelin, Beatles e Radiohead?

Mas por uma canção, a última de “Black Holes And Revelations”, a épica “Knights Of Cydonia” a referência ao som da banda mudou por completa em minha mente: eles soavam em boa parte com a banda de Thom Yorke, mas o seu objetivo era parecer ou resgatar o som do bom e velho Queen.

E é com essa grandiosidade sonora que o trio inglês lança seu novo rebento: “Resistance” – título mais apropriado impossível. Um CD inicialmente difícil, mas tão forte e repleto de referências que pode ser o melhor já lançado este ano, tirando este posto de outros compatriotas, os do Arctic Monkeys.

Resistir, sem perder a ternura. Esse lema do argentino-revolucionário-cubano dos anos 60 pode ter sido uma grande influência para o novo trabalho do Muse. Isso é sentido em mais de 40 minutos de rock pesado-leve-e-constantemente-renovador.
Abrir com uma música dançante – com direito a palminhas ao fundo - pop com voz amargurada e pequenos toques de guitarra não é comum entre as bandas de rock atuais. E aqui, logo no início fica um pensamento quanto a banda: quais artistas hoje conseguem fazer músicas com a sua “assinatura” artistica sem parecer com as demais tendências mercadologicas ou o que faz sucesso em rádios?

“Uprising” é perfetia para um disco viagem, mas ao mesmo tempo moderno como esse novo do Muse. Sem ela, seria impossível flutuar pelo espaço – como em “Knights Of Cydonia” - e curtir tudo o que um hino de resistência, igual a vários compostos com maestria pelo quarteto inglês Queen, proporcionado pelos quase seis minutos, incanssáveis, de “Resistence”.

Sim, lembra “Paranoid Android”, principalmente nos vocais triplos, do Radiohead. Mas aqui sai a tristeza de Yorke e companhia, dando espaço para um positivismo que permeia o futuro do rock britânico, como é dito em letra: “Love Is our resistance!”. Poucas faixas realizadas, por todas as bandas, este ano possuem um clamor como esta, é impossivel não se emocionar e gritar junto com ele no ápice da canção em que ele brada: “Resistanceeeee”.

A sombra do Queen continua pelo resto do disco, sendo preciso, por mais 4 canções, as três últimas – “Exogenesis” - que na verdade é uma canção dividida em atos (começo, meio e fim) e a magnífica “United States Of Eurasia”.

É ópera rock com requinte, vocais dobrados, piano lento, guitarra fervorosa, medo, graça e todo o drama necessário para se compor uma música assim. A diferença é que o Muse consegue trazer mais alguns elementos, assim como o já citado grupo de Fred Mercury. Posso até mesmo ser um louco de afirmar isso, mas “United States Of Eurasia” tem um poder acachapante como o da clássica “Bohemian Hapsody”.

Sim, há espaço para uma linda canção lenta (“Gunding Light”), outra pop, estilosa, dançante e com refrão grudento (“Undisclosered Desires”), uma mais rock e com o jeitão do som que a banda fazia no início de sua carreira (“unnatural Selection”) e uma saída de alguma trilha sonora de filme de ficção científica (“MK Ultra”).

Encerro falando o que disse agorinha para o responsável pela minha primeira audição de um trabalho da banda – o Marcos – eles conseguiram fazer um dos melhores trabalhos do ano. Irressistível e merecedor de uma cópia original em sua discoteca, mesmo a que só era formada por mp3. Nota 9,5!

!!Agora eu te acho foda… ou: novo Cd da Pitty nada de fórmulas!! Por Rod Castro!

8 de set. de 2009

Há mais de 10 anos, em um tempo em que CPM 22 era Caixa Postal Mil e Vinte e Dois e Dead Fish era conhecido como Peixe Podre, dois amigos, todas as semanas, passavam-me cassetes e mais cassetes de bandas do Brasil inteiro.

Entre algumas muito boas e outras esquecíveis acabei ouvindo uma baiana, daqual nem me recorodo nome, que tinha boa vocalista e um pouco de peso. Nesta banda, que não me recordo o nome e que não gogarei para lembrar, estava uma pessoa que tempos depois seria um ícone entre adolescentes que se revoltam pelas mais diversas causas, Pitty.

Foi com esse pensamento – lembro de ti de algum lugar? – que assisti pela MTV o clipe de “Máscara”, single que lançava a cantora baiana que não parecia vir de lá – nessa última década vieram as populares: Daniela, Margarete e Sangalo.

Mas ainda com todos esses elogios, o primeiro e segundo disco da artista – que na verdade é uma banda com o nome de sua vocalista – não acertaram no ponto. Ambos possuem bons momentos, tem letras interessantes, mas no total, não chegava ao ponto que os ouvintes esperavam, não havia uma ideia central.

É com esse patamar: artista endeusada, que produz bons CDs e que não sai do MP3 player dos adolescentes, que “Chiaro/Escuro” – claro/escuro em italiano – chega às lojas especializadas. Um discão, daqueles para se ouvir várias vezes para se notar que todas as músicas são no mínimo boas.

Nele você encontra a melhor música já feita pela banda: o petardo-em-ritmo-de-jovem-guarda (uma homenagem aos 50 anos de carreira do rei?) e hit instantâneo “Me Adora”. Um grude cínico e repleto de camadas ritmicas – com direito a castanholeiras e gemidos em momentos chave. Encontra ecos da melhor banda de rock dos EUA, o Queens Of Stone Age – em “Medo”, “Fracasso” e na engraçada “Desconstruíndo Amélia”.

E ainda tem espaço para algo que os Titãs já foram capazes de fazer, não só em ritmo, mas em letra mesmo, na excelente: “Trapézio” e na faixa de abertura “8 ou 80”. Há deslizes em uma ou outra canção, mas nada que atrapalhe o conjunto – sem trocadilhos.

Um bom disco de rock nacional e pela primeira vez pensei em votar na Pitty como artista do ano na premiação da MTV Brasil, afinal, ela desfez de sua fórmula e tirou seu nome do lado de alguns que só possuem um jeito de fazer música – os emos, no caso. Nota 8,5.

!!Aproveite-se dos óculos 3D e do escuro do cinema para chorar ao final, ou: UP, Altas Aventuras!! Por Rod Castro!

Escrever, contar uma história, prender as pessoas por mais de uma hora em suas cadeiras e porque não em suas próprias mentes ao acender das luzes. Esse desafio deve ser proposto a cada ideia mirabolante dos caras que tocam uma empresa divertida, mas que ainda é um negócio, chamada Pixar.

Isso é nadar contra a maré, já que cinema deveria ser a maior diversão que um humano pode ter contato? Não, mas esse toque ou preocupação a mais, a de fazer rir quase ao mesmo instante em que faz chorar, difere este estúdio dos demais que produzem dezenas de histórias por ano.

Talvez a grande sacada por detrás da Pixar é: fazemos filmes para crianças, mas não podemos subestimá-las ou esqueçermos que junto com elas estarão seus pais, que não são tão velhos assim ou acabaram de deixar de ser como elas, crianças.

Tudo tem razão de existir em seus filmes, nada está lá por estar, mas sim para que ao final tudo se encaixe no roteiro, na história, no filme e nas demais cabeças que estão expostas àquelas ideias. E a sombra projetada – pela admiração de todos os funcionários do estúdio – por Myazaki (de “A Viagem de Chihiro”) tem rendido grandes filmes por parte desses americanos.

Quem hoje pode se orgulhar de possuir em seu catálogo uma sequência de filmes premiados, com rendas impressionantes, aclamados por público e crítica, como essa: “Monstros S/A”, “Procurando Nemo”, “Os Incríveis”, “Ratatouille” e “Wall-e”. Apostar no que a maioria ignora, enredo, está transformando a Pixar em uma potência além do seu segmento.

“Up, Altas Aventuras” é a consolidação dessa afirmativa. Em pouco mais de 20 minutos – uma introdução que remete a duas importantes figuras da história do cinema: Howard Hughes (o Aviador) e Forster Kane (personagem principal de Cidadão Kane) – com narrativa básica, cheia de elementos exagerados, é criada a empatia pelo personagem de um garoto que quer viajar pelo mundo, como seu ídolo.

O garoto conhece uma menina que pensa como ele e sem nenhuma palavra a mais acompanhamos 10 ou 15 minutos dos anos seguintes dessa vida a dois. É o contexto explodindo na tela sem explicações, mas desenvolvido por completo pela técnica de se fazer cinema. O amor pelo personagem é automático e os espectadores abraçam aquele velho ranzinza, que um dia foi o garotinho, porque sabemos o que houve e o que deixou daquele jeito.

Pior: compramos sua briga por não aceitar que tudo ao redor de sua casa – que ele e sua esposa reformaram com as próprias mãos – está “evoluindo” e a residência está se tornando um empecilho para as grandes contrutoras, que com certeza irão derrubá-la.

Em um dos rompantes do personagem contra a construtora, acabamos notando uma cena emblemática, ainda mais em um filme com a marca Disney próxima ao título: o senhor acerta um funcinoário da construtora e o ferimento que traz um pouco de sangue ao filme, resultando em falas infantis ao redor do cinema que alardam: “É sangue! Caramba pai!”

É a realidade – assim como a barba do senhor que cresce com o passar do tempo – interferindo, além do 3D. E a afirmação de que animação é feita para crianças – será? – ganha resposta e até mesmo rosto com a presença de um personagem nada caricato e engraçadíssimo: o escoteiro, que precisa de mais uma “medalha”, a de ajuda a idosos, Russel.

Sim, eles viajam juntos para a América do Sul e encontram um vilão. Sim você vai rir muito, teremos bichos engraçados, cenários impressionantes (como o Monte Roraima) e você vai chorar na mesma proporção que riu. Filme para se ter na estante, ao lado dos já listados e que possuem o selo Pixar de qualidade. Nota 9,0.

!!E Oscar foi… lá pra casa – Parte 2 - ou: “Foi Apenas Um Sonho”!! por Rod Castro!!

4 de set. de 2009

Seguindo as dicas do post anterior, mais dois filmes que concorreram ao Oscar e outro que foi totalmente ignorado, uma pena.

“Foi Apenas Um Sonho” – O inglês Sam Mendes é um dos melhores diretores surgidos na virada da década de 90 para os anos 2000. São dele obras viscerais e até mesmo visionárias como “Beleza Americana”, “Estrada Para a Perdição” e “Soldado Anônimo”.

Em comum: todas, de alguma maneira, retratam os EUA, tem grande elenco e maravilhosa equipe técnica em todas as áreas. Não diferente das demais, mas talvez um pouco menos inspirada é sua última obra a sair nos cinemas e que agora chega em DVD, “Revolutionary Road”.

Segundo filme de Sam a retratar um época – “Estrada…” se passava nos anos 30/40 – “Foi apenas Um Sonho” consegue ser atual e tão tocante quanto a maioria dos dramas que jovens casais sempre viveram: escolhas não tão pensadas, vidas libertas repreendidas, empregos que na verdade são trabalhos e a total noção de que a vida passa de forma diferente quando você deixa a vida te levar – como fala aquele samba.

Não existe superfície nesse drama tão bem encenado por Kate Winslet e Leonardo DiCaprio – sim, foi uma falta de respeito ele não ter sido indicado a premiações importantes pelo seu trabalho neste filme. Logo no início podemos notar que há uma distância entre o casal e o mal me quer é bem mais forte que o bem me quer.

E quantos casais hoje e sempre, não viveram essa situação: sem contato físico ou carinho, mas com discussões que por pouco não chegam as vias de fato? Outro aspecto importante: a falsa impressão que eles – o casal – quer passar para as demais pessoas próximas – vizinhos, amigos de trabalho e até mesmo o casal que providenciou a casa localizada na rua que dá o título original do filme.

O tal sonho do título original é uma busca pelo que já foi um dia. Explicando: a esposa propõe ao marido um abandono daquela realidade que dia a dia acaba com a relação – como se fosse somente o local – e ele abraça a causa de tal forma, que acaba propondo algo diferente no trabalho sacal. Resultado: ele é promovido, como fica o sonho? Vira um pesadelo obviamente.

E esta certeza que o roteiro passa é o maior: a previsibilidade, algo incomum na sequência de filmes feito por Mendes. Sim, o final do casal de velhinhos é significativo, assim como a fotografia, trilha e o grande papel feito pelo sempre desconhecido Michael Shannon – falando as verdades que somente um louco é capaz. Bom filme, mas devia ter sido mais tendo o comando desse grande diretor. Nota 8,5, apenas.

!!E Oscar foi… lá pra casa – Parte 1 - ou: “Gomorra”, “Dúvida” e “Gran Torino”!! por Rod Castro!!

3 de set. de 2009

O Oscar é uma influência mundial não só para o mercado cinematográfico – os filmes que por lá passam, devem estar em todos os cinemas do planeta – como para os fazedores de cinema e apreciadores da “arte”. Mas estando distante dos cinemas, por diversos motivos, acabo vendo os mais interessantes quando saem em DVD – o que me aterroriza ainda mais o extermínio de locadoras em Manaus.

Assim, algumas boas obras acabaram sendo apreciadas no conforto do meu quarto, deitado na minha cama e com direito a eject, play, pause, stop e play novamente, mas nunca FFW – detalhe importante e que atesta a qualidade dos filmes.

Assim, vamos ao que interessa:

“Gomorra” – Esperava mais desse filme, por vários motivos: o alarde que foi feito em torno do livro que lhe deu origem foi sentido no mundo todo, seu autor foi ameaçado de morte, o filme esteve presente em quase todas as mais importantes premiações do mundo e filmes italianos sempre tem algo muito parecido com o estilo de filmar brasileiro.

Fraco, às vezes até mesmo raso, a força não está na denúncia proposta em seu roteiro, mas na atuação de boa parte do seu elenco. Talvez por ser brasileiro e assistir tantas reportagens sobre o crime organizado no Brasil, a proposta acaba não chocando ou afetando psicologicamente o espectador. Mesmo com as informações de como a “Nova Máfia” vem aterrorizando a Europa, o filme não preocupa a quem o vê. Mediano e apenas isso. Nota 5,5.

“Dúvida” – Peças de teatro quando são levadas para telas maiores, precisam se alicerçar em um importante ponto: bons atores. E isso sem dúvida – nada de trocadilhos – o filme em questão tem.

Raras são as vezes que não nos convencemos de que aquele universo estudantil de um colégio de freiras e padres não remete a algo já presenciado por qualquer pessoa. A trma é simples: um jovem e promissor padre (o sempre ótimo Philip Seymour Hoffman) acaba sendo julgado e condenado por duas freiras (Amy Adams e outra fera Meryl Streep) como um aproveitador de crianças.

Para piorar a situação, vivemos o encerramento da segregação entre negros e brancos nos EUA e o garoto – possivelmente abusado – é o primeiro aluno negro dessa tradicional escola. O que não é dito, mas visto, acaba trazendo mais dúvidas ou talvez certezas quanto a situação, mas tudo muda na sua percepção quando a mãe do garoto trava um diálogo com a diretora/freira (Streep). Bom filme, tradicional, intrigante e que merece sua atenção. Nota 8,0.

“Gran Torino” – Se o final deste excelente drama tivesse um pouco mais de vigor, nada contra o humor e a simplicidade proposta, poria este novo trabalho do velho Eastwood lado a lado com o seu melhor filme – “Menina de Ouro”.

A graça de pegar um veterano, solitário, deslocado em sua própria comunidade e que tem mais coração do que a sua marra tenta demonstrar, acaba confundindo ator e personagem durante todo o filme. Ou será que vimos um ator sem sua maquiagem e disposto a ser ele mesmo em um filme?

Essa pergunta não pode ser respondido por outra pessoa que não o próprio diretor. E isso é apenas mais um charme do roteiro, que possui personagens tão encantadores quanto o de “Menina de Ouro”. Eles são humanos, engraçados, trágicos e criam uma impressionante empatia com o espectador, resultando em comentários e cabeças afirmando e negando a cada virada da história.

Clint e o filme mereciam mais atenção da imprensa especializada e indicações, mas acabou passando como se fosse somente mais um em exibição nos cinemas. Talvez o DVD faça mais justiça a película.

O mais importante de “Gran Torino” é notar que Eastwood não para de produzir – e bem – sempre priva por bons roteiros, lança novos nomes e está atento a realidade do seu país, nas mais diversas comunidades e castas.
Muito bom filme. Nota 8,5.