Eu não gostava do U2. Não descia. E não era por falta de tentativa. Muito menos por falta de acesso aos discos/fitas/e a nova sensação: CDs. Nem, era o som. Não achava graça naquele monte de branquelo fazendo política, sei que você já fica chateado com esse comentário e ainda hoje aquilo não me descia.
Dizer que a banda era ruim seria ser bobo ou surdo. Nem um nem o outro, mas que não descia, não descia.
Um belo dia, minha tia chega com o lançamento do mês: “o novo disco do U2, tá todo mundo elogiando, ouve!”. Devo ter dado uma desculpa qualquer, mas como ficava muito tempo sem ter o que fazer nas minhas tardes, decidi em um dia qualquer daquela semana, em arriscar uma ouvida.
Disco do nome esquisito, “Achtung Baby”. Algo como atenção querida/querido. Capa diferente daquelas pousadas que o U2 e tantas outras bandas gostavam de fazer. Aqui você tinha uma junção de diversas fotos. E em quase todas elas, dava para ver que a banda tinha mudado, o termo correto era: eles haviam amadurecido, nem tanto no som, mas no jeito de ser um roqueiro.
Lembre-se, neste mesmo ano surgia o Nirvana e toda aquela erupção sonora vinda de Seattle, se você tinha uma banda que havia sobrevivido aos anos 80 e queria ser ouvido, tinha que arriscar, tinha que propor algo. O U2, naquelas mais de 10 faixas exagerou na dose e deu um 180 graus na concepção de estilo e som que produzia.
O vazio, proposital da primeira faixa, “Zoo Station”, era proposital, era uns segundos de silêncio para algo inesperado, novo e que faria muitos fãs desaparecerem e tantos outros, como eu, serem conquistados. Daí para o petardo moderno, mas ainda roqueiro de “Even Better Than The Real Thing” – o clipe mais bacana de 1992, com certeza - eram passados poucos, mas prazerosos minutos.
“One” virou uma coqueluche, mas sempre vi este movimento quanto a esta música como um desespero por parte das viúvas do antigo U2. Bela canção, mas se tornou hino para tentar afogar o que já tinha se transformado. Tanto que a faixa seguinte, que é tão bela quanto “One”, “Until The End Of The World” nunca sequer tocou nas rádios e há muito dela em “Elevation”, música do mesmo U2, mas feita nos anos 2000.
E tanto a já citada “Until The End Of The World” quanto à faixa seguinte do CD, “Who´s Gonna Ride Your Wild Horses”, com certeza são músicas que o pessoal do Coldplay ouviu muito para fazer seus dois primeiros discos. A sonoridade dos mais novos foi praticamente estabelecida em cima dessas duas belas canções que aqui estão, uma atrás da outra.
Mas confesso que enquanto o CD passava e a nova ideia pensada e exercida com maestria por Bono, The Edge, Adam Clayton e Larry Mullen Jr., tentava abrir novos e misteriosos caminhos em minha mente, um petardo me fez repensar tudo, uma sequência de músicas que até hoje me impressionam ao ouvir: a sempre esquecida, com letra ácida e perfeitamente cantada “So Cruel”; o rock setentista, com riff matador, vocal susurrado e estilão cru de “The Fly”; e a melhor canção da banda, em minha opinião, o experimento “Mysterious Way”.
“Tryin´To Throw Your Arms Around The World” era praticamente uma continuação do estilo trabalhado em “So Cruel”, já “Ultra Violet (Light My Way)” era o exercício do diferente, desde o clima de abertura, do desespero no jeito de cantar de Bono, da estrutura ritmada de guitarra, baixo e bateria, outra música para dar um replay, cantando: “Baby, baby, baby, light my way”.
“Acrobat” e “Love Is Blindness” eram o ápice necessário para o U2 abandonar seus ouvintes. Perdidos em suas ideias, conflitados pelo novo, odiando tal fato, adorando o inusitado e finalmente atentos e porque não com vontade de ouvir tudo de novo. Acho que a minha atitude, naquele dia foi ouvir novamente e talvez mais vezes depois.