Poucas coisas me tiram de dentro de casa. Poucas coisas me tiram de dentro de Manaus. Para ser mais honesto, falei isso a minha esposa e repito aqui: só viajaria para ver outro show em São Paulo se o Faith No More voltasse a vida - e olha que nesse meio tempo deixei de conferir gente boa, como Arctic Monkeys, Yeah Yeah Yeahs, The Killers e os Beastie Boys.
Em um dia de muito sol, como qualquer outro para quem vive em Manaus, sou alertado por um amigo para conferir meu e-mail, pois tinha me mandado uma notícia surpreendente. Vou lá e com um sorriso imenso na cara, constato que o Faith No More havia voltado a vida, com praticamente a formação clássica da banda - faltava somente o guitarrista, mas eles haviam chamado o mesmo que fez parte da última formação.
Mais três meses se passam e a confirmação mais desejada dos últimos anos é postada no site oficial da banda: eles passariam pelo Brasil, em um festival com outras boas bandas. Convoquei um grupo de amigos, programei-me para ir, e a partir desse parágrafo relato o que aconteceu.
Hoje eu posso ser um bobo pelo resto da vida. Afinal, fui rei por um dia!
Minhas previsões metereológicas se tornavam realidade e uma chuva, um pouco pesada, começou a cair do céu cinza e preto acima da Chácara do Jóquei. Correria geral: pessoas tentavam se abrigar sob as lonas que protegiam os compradores de bebidas e comidas, outros corriam atrás do cara que vendia capas - que lá fora, antes do show, custavam 3 reais e que na hora do pinga pinga saía por 10 ou 15 R$, dependendo da sua cara de desespero - e alguns, já mais felizes do que deviam estar, somente tiravam as blusas e as colocavam sobre suas cabeças.
Enquanto pagava "deizão" na minha capa - que não conseguia por e acabei dando-a para uma moça desesperada atrás de mim - notei que o palco havia sido inundado pela chuva. Pior: todos os intrumentos do Faith já estavam ali e os rodies corriam para cobrí-los. No mínimo haveria um atraso, mas eles tocariam. Pelo menos era o que eu e mais 24 mil pessoas esperavam.
Em poucos minutos a chuva estiaria. Os sorrisos voltariam a face de todos os presentes pela presença acima do palco de um cara vetido ridícularmente com um terno vermelho, óculos escuros e guarda-chuvas preto, daqueles que se compra em um camelô. Era Mike Patton e toda a banda que faria seu primeiro ato: a execução da música Reunited (um brega americano de relativo sucesso gravado pela banda Peaches & Herb) cantada em coro por grande parte da plateia - mostrando que a maioria dos que estavam ali já tinham visto vídeos na internet da apresentaçnao desta nova turnê.
Todos sabem no que são os melhores. E naturalmente vamos nos divertir.
O playlist executado pela banda foi especial, mesmo não fugindo da lista planejada para toda a turnê. Passou por todos os CDs, dando mais oportunidades para os dois melhores - King For A Day... e Angel Dust - e teve boa parte das canções cantadas em coro pelos presentes, mostrando que a maioria não foi pela onda de estar ali, mas sim para ver uma grande banda realizar um belo espetáculo.
Quando a pauleira começou, lembro-me de falar a seguinte frase para o meu velho amigo Marcos: o Chino (do Deftones) é do primário, esse aí é o mestre! E de fato, Mike Patton deu 150%: ficou molhado de chuva, gritou como um louco, teve uma presença de palco que faria a performance realizada a pouco pelo Janes parecer um mero aquecimento, cantou em português, brincou centenas de vezes com a galera - as três mais interessantes foram: "Temos uma grande banda aqui: Secos (o Faith em cima do palco) & Molhados (nós)"; "Esta talvez seja a nossa última apresentação aqui (o público se mostrou triste e ele lembrou), talvez, hein? (e todos riram)"; "Está música é para o Palmeiras! (seguido de muitas vaias e um ou dois aplaudindo - eu no caso!)".
A chuva rareava, mas não dava trégua, eles esbanjavam boa vontade e o povo correspondia, assim foram realizados dois bis, com umas 7 canções (os dois somados), Mike Patton antes do primeiro, fez questão de descer junto ao público que pagou mais e fez uma sequência de eu falo e vocês repetem de "Porra, Caralho", que resultou em confusão entre ele e alguns seguranças e um corajoso beijo na boca por parte de um fã - que se tornou motivo de muitos risos, ao ser projetado em telão para todos que viam a apresentação.
O show foi mais do que esperávamos, com som cristalino, sem confusões, repleto de bons momentose com a minha música favorita executada com pompas de clássica (Caffeine). Por tudo isso, talvez eu não tenha sentido na hora as dores nas pernas - devido as sequências e mais sequências de pulos - a rouquidão e a gripe que se arrastava a partir do desligar das luzes sobre o palco.
A empolgação foi maior do que o primeiro encontro - há 17 anos - e deixou uma certeza, nada de talvez seu Patton, de que mais outros momentos como estes serão vividos entre Faith No More e Rod Castro. Afinal, nem eu e nem eles, entramos na crise da meia idade. Nota 10 e com certeza este foi o melhor show que vi nestes 26 anos de rock.
!!Como o tempo passa rápido... ou: Faith No More no Maquinária!!
21 de dez. de 2009
!!Maquinária: Janes Addiction... ou: eles são bem mais do que sempre pareceram!!
11 de dez. de 2009
Quando soube que o Janes Addction estava no plantel do Maquinária confesso que fiquei um pouco triste. Conheço pouco da banda – ainda hoje afirmo isso, mesmo com um Best of no MP4 e alguns outros CDs deles – mas sempre quis ver como seria uma apresentação deles – havia lido sobre e sempre rasgaram elogios.
E a questão mais importante e que sempre me fiz era: será que o David Navarro é o típico ficeleiro ou ele realmente é mais do que apenas uma pose? Com essa pulga atrás da orelha, ainda sentindo a adrenalina deixada pelo Deftones e com o sol saindo de lado – graças a Deus – o Jannes subiu no palco.
E a primeira palavra sobre o que vimos é: eles são muito, mas muito bons mesmo. No mínimo dezenas de vezes melhor do que alguns imaginavam. Tá certo que o som das caixas melhorou muito – não estava ruim, mas algo diferenciou - e isso trouxe mais brilho a apresentação. Uma das coisas que mais passavam pela minha cabeça, como público era: moçada, vamos fazer nossa parte que assim o Pharrel - o Lollapalooza - traz o festival dele para o Brasil.
Tá certo que de meia em meia hora o Perry fazia questão de se afirmar homem – alguém deve ter falado ou postado bobagens sobre o cara e ele ficou muito, mas muito chateado mesmo – mas isso de forma alguma atrapalhou a apresentação dos viciados (addiction, ok?). Em uma apresentação nada contida, repleta de solos cavalares, peso (hard mesmo) da cozinha em total sincronia, eles atropelaram o pessimismo alheio e deixaram o público no ponto para o que seria uma das melhores apresentações de rock do ano em solo brasileiro, o Faith oras?
Momentos paga pau: sentir a precisão do Navarro em um som cristalino, ver o Pharrel cair algumas vezes porque não continha sua felicidade de ver tanta gente junta em um lugar louco como aquele, ouvir “Stop” com uma precisão sonora avassaladora e um encerramento com todos os demais componentes do grupo arrebentando alguns tambores enquanto Perry fazia suas estripulias.
O céu já ameaçava fechar e eu vociferava a todos próximos: vai cair uma tempestade amigos. E neste momento o Janes já se despedia, com muitas pessoas aplaudindo a apresentação e alguns, eu e mais uns três da minha turma, trocávamos palavras como: foi bom hein? Os caras arrebentaram.Sai o Janes, dono de um 9 com louvor.
E o palco se molharia para que os reis surgissem. Daqui alguns dias, senhoras e senhores: Faith No More.
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