!! A ponte entre o disco mais conhecido e o mais técnico ou: Led Zeppelin Houses Of Holly!! Por Rod Castro!

3 de dez. de 2008

Em outubro de 1998, após chegar da escola, vi minha edição de Showbizz jogada do lado de dentro da minha casa. A capa: 30 anos de Led Zeppelin. Pestanejei na hora: quando não era o Renato Russo na capa – as viúvas do cantor transformaram a revista numa espécie de homenagem constante – era uma banda das antigas. E como ficavam os meus gostos na época?

Enfim, ainda enraivecido pela capa, acabei fazendo o que nunca fiz, na minha carreira de leitor de revistas “culturais”: comecei pela matéria principal. Em vez de ler e ficar com o sentimento de ter me livrado de algo enorme e desnecessário, a experiência me fez tão bem, que li e reli a matéria dezenas de vezes ainda naquele mês.

E como aquela banda era e é tão importante para o rock – principalmente o pesado – a gravadora, Warner, entregou de presente para os fãs do mundo todo, uma reedição de todos os CDs do Zeppelin de chumbo. Todos remasterizados e com o selo de 30 anos da criação da banda.

Naquela mesma semana, me vi em uma loja do ramo de CDs, ao lado da minha tia – que patrocinou centenas de discos para mim – e me arrisquei a comprar somente um disco. Afinal, se fosse tudo aquilo mesmo, economizava dinheiro e comprava o restante. O escolhido da vez era “Houses Of Holy” o disco entre o adorado “Led Zeppelin IV” e a obra-prima “Physical Graffiti”.

E que maneira mais interessante de se falar da minha banda favorita de todos os tempos, do que escrever algo sobre esse excelente disco que foi lançado há 35 anos? Aqui começa a experiência:

“Led Zeppelin – Houses Of Holy”

1 – “The Song Remains The Same”: É impossível fazer uma coletânea com as 10 melhores músicas do Led e não incluir esse torpedo de poder sônico que se chama “The Song Remains the Same”. Como se fosse um resumo do que os ingleses podiam fazer, a canção mostra todo o potencial do quarteto: um guitarrista extravagante, dono de riffs criativos, um baixista animalescamente ritmado, um baterista pesado e preciso, e um vocalista que faz o que quer e na cadencia que desejava. Clássica.

2 – “The Rain Song”: Logo na segunda música você sente que a banda era altamente original e ao mesmo tempo “se garantia”: como se faz uma segunda música totalmente inversa à primeira canção? Serena, praticamente sem peso – tirando seu final - com violinos e teclado moogie e um vocalista saudosista. Essa era a banda mais pesada de sua época? Sim e isso é rock, atitude.

3 – “Over The Hills and Far Away”: Vez por outra o sangue celta e a ascendência bárbara da banda tomava conta do som e resultava em canções que nasceram prontas para figurarem em trilhas sonoras de épicos do estilo de cinema “capa e espada”. Essa é mais uma. E toma-lhe violão com guitarra riffada e bateria ritmada.

4 – “The Crudge”: Se “Songs Remains The Same” era a clássica, essa era a resposta de uma banda de rock pesado aos panacas que achavam que eles deveriam se limitar a tocar mais do mesmo em todos os seus discos. Aqui não. Assim sendo: bata o pezinho e jure que está ouvindo uma típica música do mestre James Brown. Funk de verdade e sem direita a “batidão”.

5 – “Dancing Days”: Mas cadê o peso? Como assim? Há algo mais pesado para um homem do que um relacionamento em que ele se esforça e sempre dá algo errado? Aqui está o peso de uma relação em que um rapaz tenta de tudo para ficar com sua amada e seu esforço não dá em nada.

Com direito a viradas e pegadas marcantes na bateria, vocal desleixado e um dos melhores solos rápidos do mestre Jimmy Page – já no finalzinho. “You Know It’s Allright”.

6 – “D’Yer Mak’er”: Lembra da atitude que falei em “The Crudge”? Aqui ela está de volta, a banda investe de forma precisa em um dos reages mais conhecidos do planeta. Mas ainda assim com as marcas registradas da banda: bateria precisa e batida pesada, guitarrista inventivo, baixista estraçalhando e “Oh, oh,oh,oh,ohhh” de Robert Plant propositalmente desleixados.

7 – “No Quarter”: O Vocoder podia até mesmo ser conhecido no mundo da música, mas aqui ele faz um estrago proposital em determinados momentos na voz de Plant. O órgão é transcendental, a bateria e a guitarra apenas compõem uma das músicas mais experimentais da banda. E porque não dizer, até mesmo soturna? Ainda mais com sua letra...

8 – “The Ocean”: Meu Zeppelin preferido é Bonham, o baterista que a minha professora de religião adorava sempre repetir: a Besta. Além de ser um dos melhores bateristas do mundo, Bonzo se arriscava, fazia o que não devia e aprova está aqui em “The Ocean”, além de puxar com comandos vocais a banda ele castiga a pele de sua batera e os pratos com potência ensurdecedora em momentos-chave – e para não faltar detalhes: um dos melhores riffs/solos de Jimmy com direito a gemidos de Plant.

Clássico é assim que se chama um dos melhores discos de rock e que sempre não teve todo o respeito que deveria ter. E sim, a canção permanecera a mesma.

!!Onde havíamos parado? Ou...: “Bloc Party – Intimacy”!! por Rod Castro!!

1 de dez. de 2008

Digamos que você faça do seu primeiro disco uma verdadeira obra-prima do rock moderno. Em um momento tão interessante, senão até mesmo único hoje em dia, o que você faria em seu segundo trabalho?

Muitos ouviriam os “fãs”, outros tentariam firmar sua fórmula – algo que eu acho mais correto, afinal você é um novato que acertou uma verve e é bom provar que ela é sua, somente sua – e alguns poucos se arriscariam a criar algo tão novo quanto foi o seu primeiro disco.

O Bloc Party em 2007 resolveu apostar na última afirmativa. E “Another Weekend In The City” é um disco para ser deixado de lado. Abaixo de tudo o que a banda poderia fazer. O espanto causado nos ouvintes foi tamanho, que conheço gente, que me apresentou o Bloc, que ao ouvir
“Another..” retrucou dizendo que aquilo não eram eles nunca!

Tá certo, não há possibilidade de se criar um novo “Silent Alarm”, mas há sim como fazer algo tão inusitado/criativo em um estúdio. Nem que seja mais moderninho, descolado e até mesmo mais rock – até porque rock não é somente som, mas definitivamente passa pela atitude.

É com tudo isso em mente que o Bloc Party lança seu novo disco: “Intimacy”. Um disco moderno, com batidas ao estilo “Chemical Brothers” e muita guitarra, bateria e vocal diferenciado – o verdadeiro ás na manga da banda.

“Ares” e “Mercury” são o diferente. Começar um disco com duas canções que parecem ter sido mixadas, mas na verdade foram feitas – gravadas – para que o ouvinte realmente pensasse que foi sampleada é uma grande sacada, ao mesmo tempo em que a banda mostra que é muito mais do que aparentava. E vou ser mais claro agora: “Mercury” é tudo o que uma banda que se julga moderna quer fazer e o que Kanye West tanto persegue.

“Halo” é a cereja de todo o bolo. É Bloc em essência: guitarras rápidas, sendo que uma faz um solo, baixo preciso e eletrificado e uma bateria rápida e precisa. Para completar a fórmula:
vocalista cantando displicente e ao mesmo tempo saudosista. Uma das melhores do ano.

“Biko” é o momento político – algo bem freqüente no primeiro disco. Lenta e com alguns elementos eletrônicos para continuar no diferente. “Signs” e “Zepherus”: a primeira emula uma canção do Radiohead (ou seria do Thom Yorke?). E ambas seguem lentas em cima de uma base com efeitos ao estilo Massive de se fazer música.

“Trojan Horse” e “One Month Off”, seguem o estilo do disco: bases ritmadas, bateria em caixa, guitarra em riffs, homenagem a canções politizadas – como “Spanish Guittar” do The Clash – vocal com efeito “reverb” em momentos chave. Seria o novo Bloc Party? Se for, vai bem!

“Better Than Heaven” e “Ion Square”, são canções de um Depeche Mode sem o vocal grave de Dave Graham. Com direito a solinhos de piano. Muito bom. Repito, se o Bloc rumar para esse estilo de fazer música não terá ninguém com nível, a não ser os jurássicos e que inventaram o estilo: Depeche e New Order por exemplo.

Moderno? Ousado? Diferente? Rock? Discão? Perguntas com uma só resposta: sim! Nota 8,5.

E um viva pela volta do Bloc Party!