!!Romance em "split-screen" (por Breno Yared)!!

3 de mai. de 2007

Em meu último texto aqui no blog, comentei acerca da origem do "smuggler" ou "contrabandista" no cinema americano da década de 40. E como, atualmente, muitos migraram para as séries de TV, como “A Família Soprano”, “Prime Suspect” e “The Wire”. Mas, recentemente, tive uma grata surpresa ao descobrir um autêntico desta linhagem dirigindo filmes publicitários. Mais precisamente: um "anônimo".

"Anônimo" porque pesquisei e não consegui descobrir quem dirigiu o tal filme - isso é até normal, pois, diferentemente do cinema, o diretor não "assina" seu nome nos créditos. Na propaganda, são raros os diretores que têm estilos inconfundíveis, fáceis de serem percebidos em apenas alguns segundos, como, por exemplo, Michel Gondry (mesmo diretor de "Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças") e David Lynch (mesmo diretor de "Veludo Azul" e outros). Porém, este "anônimo", tem um estilo agressivamente autoral. Desnecessário até para um filme publicitário que precisa, principalmente, falar a linguagem do seu público-alvo.

Fui apresentado ao vídeo por um amigo, Ronaldo Passarinho, que o descobriu, por acaso, no youtube. Fizemos uma análise quadro a quadro dele. Só então, garimpamos as pérolas que estão escondidas de forma tão sutil. Em relação às informações: propaganda de 1 minuto, feita para "Grolsch Beer", marca de cerveja, e estrelada por Kerry Norton com trilha sonora dela própria do seu álbum "Young Heart". Mas antes de qualquer outro comentário, dá um play no vídeo aqui em baixo e depois volte a ler o texto, ok?

http://www.youtube.com/watch?v=dxjxeB-uowI (N.E.: Não deu para postar o vídeo, por isso, entre no youtube, espere carregar e divirta-se!)

Então, gostou? Sacou, logo de cara a proposta dele? Não? Bom, eu pelo menos quando assisti de primeira não saquei. É uma história de amor. Um triângulo amoroso. Um "Jules e Jim", de François Truffaut, moderno. Um romance em "Split Screen". Tudo em apenas 1 minuto. Exagero? Podes ter certeza que não. Até progressão dramática das personagens e mise-en-scène o vídeo tem. E a forma como o diretor usa a tela dividida, o "split screen", de forma tão criativa, econômica e concisa.

As personagens que formam o triângulo são: a Kerry Norton, o de casaco e camisa preta e o de paletó preto e camisa rosa por dentro – os dois últimos, infelizmente, terei que chamá-los assim, pois não consegui a ficha técnica da produção. Basicamente, o enredo é o seguinte: a Kerry chega acompanhada do de camisa rosa que estão acompanhados do de casaco preto, que é apaixonado pela Kerry, para assistir uma peça de teatro.

Porém, a peça já começou e são impedidos de entrar. Então, caminhando pela rua, acabam entrando num bar. No bar, o de camisa rosa só tem olhos para a loira sentada, flerta com ela, mesmo estando acompanhado da Kerry. O de casaco preto só tem olhos pra Kerry, com quem, no final do vídeo, finalmente terá sua chance. Pronto: temos um enredo de comédia romântica.

São tantas as nuances, rigor e sutilezas na composição dos planos e da progressão do enredo, que daria para descrever a importância de cada plano contido nele. Nada é gratuito. Tudo é criativo, econômico e conciso. Quando eles estão no bar, preste atenção como o de camisa rosa só tem olhos para a loira.

À primeira vista, parece que ele só olha pra Kerry, mas não: com um estilo descontinuo, falsos raccords – que lembra muito o que Michael Mann faz o tempo todo em “Miami Vice” – e o uso do “split screen” o diretor “engana” o espectador com a ilusão de que ele olha pra Kerry. Acreditem: é intencional. Exemplo: olhem nos exatos 51 segundos de vídeo, à esquerda do quadro, o de camisa rosa olha para fora do quadro em direção à loira.

Outra seqüência sublime: é quando o de casaco preto, saindo do carro, corre em direção ao teatro, mas é avisado pelo segurança que não podem mais entrar. Com um duplo plano de localização ele apenas mostra o interior do teatro através do “split Screen”: à direita do quadro vemos uma panorâmica em plano geral e à esquerda do quadro, num traveling, a orquestra que toca. Tudo tão econômico que me lembra o cinema de Samuel Fuller.

Acredito que a proposta de posicionamento dessa marca de cerveja, a “Grolsch Beer”, seja muito diferenciada do que estamos acostumados aqui no Brasil. Propõem-se trabalhar outro tipo de público-alvo, outro tipo de conceito - lembra um pouco a proposta da última campanha da Kaiser aqui no Brasil, que é mais voltada ao cotidiano e às relações humanas.

O “anônimo” que dirigiu esse vídeo - igual ao “smugglers” atuais e da década de 40 - ousou dirigi-lo com ambições artísticas. Ousou contar uma comédia romântica em 1 minuto, que talvez o seu público-alvo nem perceba tais nuances. E num veículo pouco aberto ao estilo autoral de um diretor, como a propaganda. Já sou fã dele. Esperarei ansioso pelos seus próximos trabalhos. E espero descobrir logo quem ele é.

5 comentários:

Aline disse...

Nossa Breno, vc se escreve muito, muito, muito e muito!!!
Amei o comercial, principalmente a trilha sorona a base de Everlasting Love. Completamente diferente dos nosso comerciais nos quais não se vedem a cerveja e sim as mulheres.
Ah...fiquei mais calminha, vou no show do Magal hoe ferver o sangue por ele, pq por outros não dá mais....rs

Bjs

Rod Castro disse...

Errei!!! E acho que foi culpa da gripe que me matou ontem, ao ponto de eu não ir assistir a pré-estréia do cabeça de teia!!

Mas já corrigi!

Anônimo disse...

A gripe tá muito braba para teres perdido a estréia do cabeça de teia.

Anônimo disse...

testando

Anônimo disse...

Oi Breno! Concordo com a Aline! A propaganda é maravilhosa! Bem que as nossas progandas de cerveja poderiam ser assim, belas e inteligentes! Chega de bunda e peito!! Esse tipo de propaganda já cansou!! E continue escrevendo, vc tem muito talento! Parabéns!! Beijos