
Sempre que me perguntam sobre um artista nacional acima da média e que foi e ainda é, muito subestimado, tanto por crítica quanto por público, a resposta é simples e sem nenhuma dúvida: Lobão.
Hoje em dia, graças à exposição de suas idéias e principalmente por estar na crista da onda como um grande salvador da cena “independente” musical, a maioria das pessoas também devem achar a mesma coisa. Mas há dez anos, duvido.
Lobão sempre foi deixado de lado e até recebeu a alcunha de “maconheiro louco que vive em um universo paralelo”. Não merecendo crédito, quanto mais aplausos. Seja por falar o que ninguém tinha coragem – ou doideira - de dizer, por ter feito uma verdadeira revolução no cenário musical nacional ou por ter comprado uma briga injusta contra os grandes estúdios fonográficos.
É com essa aura de guru, gênio e até mesmo de vendido, que ele lança seu “Acústico MTV”. Com este CD/DVD em lojas e graças a boa divulgação que está sendo dada a empreitada, tenha certeza: o pai do movimento “livres das grandes exploradoras” será chamado de mercenário ou de fanfarrão que cospe algumas verdades somente quando lhe convêm, o que é uma grande mentira.
A trajetória deste artista teve importância em minha vida em três situações. A primeira: quando fiz uma viagem, sozinho, para São Paulo. Nesta época, ainda criança, tinha comigo que o rock era o estilo que merecia minha atenção, ao invés de Balão Mágico, da Xuxa e até mesmo do Fofão.
Ali, só, com cinco anos de idade e uma imensa vontade de chorar, me viciei na rádio que rolava muitos hits de rock nacional da época. Entre uma e outra música, se destacava a excelente “Me chama” dele e os Ronaldos.
Uma década depois, saindo de uma fase nada boa em uma escola e indo para outra, um momento de definição importante e que tem grande peso no que faço hoje profissionalmente, lá estava ele de novo com mais uma excelente canção e que refletia o que se passava na minha cabeça: “A queda”.
Depois disso Lobão sumiu um tempo. E quando minha carreira tinha início, como produtor de um programa de rádio local, vi uma notícia de que seu contrato com sua antiga gravadora havia sido quebrado e que a partir daquele momento ele se dedicaria a gravar um álbum independente.
O fruto desta briga veio um ano depois com o melhor disco já feito por este incrível artista: “A Vida é Doce”. Com esta obra-prima a revolução teve início: discos foram numerados – algo que as grandes gravadoras tiveram que adotar por lei e que ele o fazia para ter melhor controle da produção – e a grana arrecadada pelo lobo foi a maior de sua carreira – quase quinze vezes mais do que já havia recebido com outros discos. Tudo isso sem contar que ali estava sua melhor canção: “Vou te Levar”.
Após o lançamento do petardo, consegui papear com ele, ou melhor, com Regina Lopes – sua esposa. Marquei uma entrevista, de meia hora que se transformou em uma e a divulgação desta nova empreitada rendeu alguns e-mails de agradecimento, tanto de Regina, quanto do próprio comedor de cordeiros.
Tempos depois destes encontros aplaudi sua força em lançar um disco ao vivo, no mesmo estilo independente, mas sem tanta divulgação apesar de ter uma boa música (“Mano Caetano”) que dava respostas às bobagens de Caetano Veloso – este sim, cada dia que passa, acaba por falar mais e mais atrocidades. E em 2005 chegava às bancas seu segundo disco inédito e independente também. Novamente sem grande divulgação, o que foi uma pena, pois merecia.
Nessas duas décadas e pouco de relacionamento auditivo, destaco três características interessantes em seu estilo de compor, que caem como uma luva para esta sua nova empreitada: a impressionante vontade de soar melancólico, letras soltas que possuem amarras firmes e um desleixo proposital na execução da música - tanto no tocar como no cantar.
“Acústico MTV” é bom para uma moçada que não lembrava – como alguns da minha idade - e nem conhecia – a moçada nova - grandes músicas como: “Canos Silenciosos”, “Corações Psicodélicos”, “Noite e Dia”, “Blá, Blá, Blá... Eu te Amo (Rádio Blá)”, “Essa Noite Não” e a sagaz “Decadance Avec Elegance”.
E a empreitada soa melhor ainda aos que não tiveram a grande oportunidade de conhecer a fase independente deste artista, com belas canções: “El Desdichado II”, “Quente”, “Você e a Noite Escura”, “Pra Onde Você Vai” e “O Mistério”.
O formato dá a impressão de que o lobo está manso e domado. Quase um cordeirinho. Mas as impressões enganam e agora, talvez, ele esteja sendo mais esperto do que muitos porquinhos que andam nas gravadoras e até mesmo na mídia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário