!!Cara ou coroa? (por Rodrigo Castro)!!

9 de mai. de 2007



Quantas vezes você, como bom apreciador de música que o é, se deparou com uma dessas duas situações aí debaixo?

Situação 1: alguém do seu trabalho ou um amigo de gosto que merece o seu respeito, chega ao seu lado, com CD em punho e diz que aquela banda (“a mais nova onda do momento”) é o som mais original em décadas e que você tem de ouvir aquilo com atenção?

Situação 2: outro colega de trampo ou amigo, que manja muito – do tipo que conhece tudo sobre o “alternativo que não chega às rádios, mas que possui canções clássicas no seu repertório”- fala, ao ouvir o outro que trouxe a novidade do dia: bom mesmo é a jurássica fulana de tal, que além de influenciar muita gente, já fazia o inusitado há anos “e bem melhor que esta merda aí!” apontando para o CD do colega que trouxe o novo?

Pois bem, já presenciei as duas cenas e até mesmo atuei, nas duas posições em muitas outras. E penso que esses dois pensamentos têm algo que os unem: aquele canto da moeda que acho que não tem nome e que junta as duas faces, sabe? Pois então, aquele “canto” é o lado mais correto da questão. Ou seja: nem tanto ao museu, nem tanto a mais nova onda. Mas sim: um pouco de cada na mesma canção.

E duas excelentes bandas, em seus novos CDs, provam que misturar o moderno com o antigo dá um gosto especial a um bom disco.

A primeira delas tem nome interessante: LCD Soundsystem – dona da música mais grudenta dos últimos cinco anos, “Daft Punk Is Playing in My House”. A segunda passou despercebido pelos meus grandes suportes de óculos, em seus dois primeiros álbuns, mas virou um eterno repeat em minhas listas de execução: The Rapture.

Em comum: são americanas, se renderam ao som mais dançante, possuem uma marcação de baixo importantíssima para o ritmo de suas canções e seus discos estão repletos de referencias. Todos esses ingredientes adicionados, uns após os outros, resultam em: pé inchado (de tanto bater no chão, marcando o ritmo) e cegueira (graças a espuma do xampu que teima em cair nos seus olhos a cada balançada de cabeça embaixo do chuveiro) por parte de seus ouvintes.

Mas as proximidades artísticas param por aí. Pois o Rapture é rock, com classe e muito ritmo. E o LCD Soundsystem atira para tanto lado com seu “Sound of Silver” que fica difícil dizer a que segmento eles pertencem.

Em “Pieces Of The People We Love”, o Rapture passa por tantos estilos diferentes, em seus mínimos detalhes e consegue sair ilesa, de tal maneira, que merece mais que aplausos ou estrelas. Digo mais: nenhuma banda, até o momento, fez uma primeira faixa tão boa quanto eles em 2007, com a incessante e viciante “Don Gon Do It”.

Tem de tudo na mistureba pop que eles fizeram: Duran Duran (“Get Myself Into It”), Blur mais dançante (“Whoo! Alright – Yeah Uhuu”) e Talking Heads (como a contagiante “Pieces Of The People We Love”). Na verdade, o disco parece um bonito vestido feito de retalhos sonoros, costurado com precisão por notas diferentes.

E o LCD? Bem, em 9 faixas jogam seus ouvidos em um turbilhão de informações tão maluco, que é necessário ouvir duas ou três vezes o CD para sentir onde eles foram buscar a “fórmula” para cada canção. Tem de tudo: Moby com Michael Jackson e pitadas de Prince (na simples e eficiente “Time To Get Away”), New Order em início de carreira (“Get Innocuous”), Daft Punk tocado como Chemical Brothers (“North American Scun”) e homenagem, pelo menos é o que parece, ao Kraftwerk (“Someone Great”).

Enfim, para não entrar em uma discussão que não tem fim, siga este conselho: ouça o novo e busque o antigo nele; ouça o antigo e sinta sua influência em vários novos. Ou, caso queira ficar no extremo e ao mesmo tempo queira experimentar: pegue uma moeda do gosto musical, jogue-a para cima e torça pra que ela caia naquele cantinho que une as duas partes (que até agora não sei qual o seu nome) e boa viagem.

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