!!Para ficar na memória (por Rodrigo Castro)!!

16 de mai. de 2007





“Seria preguiça? Talvez o costume? Ou, pior: a imposição de um formato?”

Essas são as perguntas que me vêem a cabeça quando me deparo com algumas pessoas chateadas, às vezes até mesmo furiosas, levantando-se de suas poltronas após assistir a mais um filme que termina sem explicar tim-tim por tim-tim o que realmente aconteceu – ali, diante dos seus olhos. Ou melhor: sem dizer quem ficou com quem, porque aquilo foi feito daquela maneira, ou até mesmo porque se optou por um fim que não tem um mero “The End”.

Já pensei nisso por várias horas e em boa parte das vezes, acabo formulando um raciocínio em cima da última opção listada no início desse texto. Talvez a maior culpada pela fórmula “começo-meio-e fim” seja a televisão, que durante anos bate a porta da imaginação de bilhões de telespectadores do mundo todo com histórias mais palpáveis e mais fáceis de serem digeridas.


Mas ao mesmo tempo em que formulo esse tipo de pensamento, acaba por passar na minha cabeça, que hoje boa parte das pessoas, sejam velhos, novos, ou de meia-idade, não tem mais o costume de exercitar sua imaginação e preferem sim algo mais leve e que não as faça pensar.

Uma das maiores provas dessa nova mania, que ganha força em filmes simples e que não necessitam da participação do público para que os mesmos se tornem mais agradáveis, é que, com o passar dos anos, as pessoas vêm lendo cada vez menos. Acredite: leitura e cinema têm muito a ver. São artes que recorrem aos seus pensamentos e que pedem, chegam até mesmo a clamar pela sua interpretação e vivência.

Uma das vezes em que me peguei em uma discussão sobre o lance de raciocinar e pedir algo mais das pessoas que presenciaram um filme diferente, foi quando a última parte da trilogia “The Matrix”, “Revolutions”, chegou às telas e várias e várias pessoas se questionavam: “Cadê o fim? Não se explica nada!”. Achava interessante esse tipo de acusação, por um simples fato: se você já assistiu aos dois filmes anteriores dessa trilogia, verá que nenhum deles tem um final concreto. Principalmente o primeiro, que deixa possibilidades e mais possibilidades de continuações em aberto e que não tem tantas amarras visíveis em sua continuação, o “Reloaded”.

Anos depois pegaria uma sessão de um filme em que boa parte das pessoas, antes mesmo do fim, já saíam revoltadas, enquanto eu e mais uns três ou quatro ficávamos embasbacados com tamanha inteligência do diretor e roteiristas: “21 gramas”. Após essa sessão e ao ver as reações dos demais espectadores, fiquei imaginando qual deve ter sido a reação do público ao assistir pela primeira vez filmes como “Cão Andaluz” ou “O Anjo Exterminador” – ambos de Luis Buñuel – “Pavor nos Bastidores”, “Psicose” ou “Quando Fala o Coração” – de Alfred Hitchcock.

Cinema, assim como as demais artes, como pintura, música, fotografia, teatro, quadrinhos, entre outras, tem como função principal chamar seu cérebro para um debate de idéias. Fazendo com que você mesmo tenha suas próprias conclusões e suas próprias formas de enxergar aquela realidade. Como diz o roteirista vencedor de três Oscar de roteiro original Charlie Kaufman: “Adoro a sensação de ver as pessoas resolvendo meus filmes em suas cabeças e com suas idéias!”.


Se você gosta de raciocinar no cinema, tome nota e dê o seu “fim” para cada um desses excelentes filmes: “Donnie Darko”,”Amores Brutos”, “Amnésia”, “Blade Runner”, “A Estrada Perdida”, “Cubo”, “Quero Ser John Malkovich”, “Adaptação” e “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” – os últimos três de Kaufman.

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