!!Nando Reis e Os Infernais em Manaus... ou: Eu não tenho mais a cara que eu tinha. (por Rodrigo Castro)!!

2 de mai. de 2007


Se alguém me fizesse a seguinte pergunta: “Qual o seu instrumento favorito, dentre todos que formam uma banda de rock?”. Minha resposta seria única e precisa, sem titubeios: baixo.

“Por que?”. Simples: a pegada, seu entrosamento com a bateria, sua sonoridade precisa e grave... Enfim: todos esses elementos resultam em um instrumento sonoro especial e que com o passar dos anos, acabou por deter maior atenção dos meus ouvidos.

Minha fixação pelo baixo se fez presente ao ouvir, pela primeira vez, o álbum “Cabeça Dinossauro” dos Titãs. Estava eu passando férias em São Paulo, então com meus oito anos de idade, quando um amigo de dois primos meus traz em mãos o tão falado, mas nunca visto, disco da banda de rock paulistana.

Foi ali que eu soube da existência do baixo, e mais: naquele momento encontrei um dos melhores compositores de rock nacional em que pude por minha sincera admiração de “garoto roqueiro”, o que eu já era há mais de três anos – praticamente um veterano, não?

O tal cara se chamava Nando Reis. Franzino. Dono de uma voz aguda, às vezes até frágil, ele quase não era notado em cena, mas suas letras, em minha opinião, sempre foram as mais contestadoras e até mesmo desafiantes, dentre todas gravadas pelos oito membros que formavam esta grande banda de rock nacional.

Pois bem, vinte anos se passaram. Os Titãs estão reduzidos a cinco membros e sinceramente: a cada música feita ou disco lançado por eles, me parece que mais um prego é fixado no caixão que possui o nome cravado da banda, que ruma com empenho, ao destino de várias outras que foram “boas um dia” e hoje tocam na Jovempan de meia em meia hora – sim, isso é um demérito para uma verdadeira banda de rock.

Enquanto isso, o quase careca – eu também estou ficando - Nando Reis caminha por cursos que talvez ele sempre desejasse, mas a vontade de vender fazendo algo de qualidade inferior, que permeia a realidade de sua ex-banda desde o sensacional Titanomaquia, o impedia de concretizar.

Melhor ainda: o mirrado baixista ruivo dá longos passos a uma realidade, o futuro já se tornou presente no caso dele, que muitos de sua época desejavam, mas não tiveram capacidade artística de provar: o mais puro reconhecimento de público e crítica.

E o show? Foi bom, principalmente por ter poucas pessoas – acho que não chegava a mil espectadores no salão – o que deixava você a vontade, ao ponto de se sentar em qualquer lugar e conseguir ver o palco com a maior tranqüilidade. Outro fator interessante: Nando mostrou mais o seu lado compositor do que o de artista solo.

Em quase duas horas de show, ele cobriu quase todas as suas “fases”, demonstrando sua capacidade de compor para bandas pop – como Jota Quest e Skank – para artistas que não eram nada, mas que ganharam brilho sob sua tutela – como a chata da Cássia Eller – e chegando a relembrar velhos sucessos dos Titãs – com direito a “homenagem” ao grande Arnaldo Antunes (outro que abandonou a banda quando viu que o barco estava afundando) com “Não vou me adaptar”.

Enfim, bom show, nenhum incidente, boas músicas e um Nando Reis bem acompanhado – os tais Infernais são excelentes e por vezes até meio malucos, no bom sentido.

Ah, antes do show, uma grata surpresa: um grupo de percussão “alternativo”, Som Catado, dá um verdadeiro espetáculo no palco do Studio 5, com direito a execução do clássico de Jair Rodrigues “Deixe isso pra lá” ao lado dos seus alunos – que participaram de um workshop local.

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