!!Crise de meia-idade 3 (por Marco Antonio - o animal)!!

14 de mai. de 2007

Continuando a saga que tenho enfrentado para aceitar que o tempo não para e queimando a língua sobre um comentário específico que fiz no primeiro texto, resolvi encarar o show de Caetano Veloso, da turnê que divulga o novo disco, Cê, realizado em Manaus, no dia cinco de maio.

Como já era de se esperar, o cheiro de mofo imperava no local, bem mais do que do show de Léo Jaime e cia. Afinal, trata-se de um artista que já fazia exame da próstata quando o Marcelo Nova nasceu. Cheguei bem no inicio e, numa rápida varredura pelo local, me senti no set de filmagem de algum filme de zumbi e até cheguei a procurar o Zé do Caixão pra ver se ele estava aproveitando as imagens para o seu próximo thriller. Não estava. A velharada era real mesmo. Bom, resolvi prestar atenção ao show mas com um certo medo de alguém morder minha cabeça querendo comer meu cérebro.

O novo disco até que é bom. Nada de violinos, violões, oboés e afins. A coisa é crua, bem simples, baixo, guitarra e bateria. A banda é jovem e o som está antenado com o que de melhor se faz no hype rock and roll atual. Algumas músicas são chatas mas a banda compensa.

Eu, pensando com os meus botões, fiquei observando o cara que um dia enfrentou um estádio cheio berrando que todos ali presentes não estavam entendendo absolutamente nada. Magrelinho como sempre, cabelos grisalhos, mas com a voz até que mais ou menos, Caetano desfilou o repertorio do CD novo mesclado com sucessos certeiros. A surpresa ficou mesmo para os arranjos. Por exemplo, apesar de não ser novidade, a levada blues para Como Dois e Dois foi extraordinária. Roberto Carlos imortalizou a canção em formato soul mas a banda Talkin Blues já havia tido a excelente idéia de regravar com roupagem blueseira. Mas Caetano superou as duas. Outra coisa legal foram as versões quase irreconhecíveis de Sampa e London London (que o mais novos lembraram por ter sido gravada pelo finado RPM). Nada de banquinho e violão. O baixo de Ricardo Gomes e a bateria de Marcelo Callado deram a tônica aos clássicos. O guitarrista Pedro Sá completava a banda que foi apresentada umas cinco vezes pelo sexagenário (talvez seja indicação de um inicio de mal de Alzheimer).

Outro ponto alto foi o resgate de duas obras-primas do melhor disco gravado pelo baiano em toda sua carreira. Trata-se de Transa (o disco, lançado em 1972) de onde foram desenterradas as geniais You Don’t Know Me e Nine Out Of Ten. Foi uma verdadeira volta às raízes e que, confesso, mareou os meus olhos e arrepiaram os mais escondidos pelinhos do meu corpo.

O público, é claro, não estava entendendo absolutamente nada. Álias, era um divertimento ‘a parte. Volta e meia se ouvia um grito rouco de “toca Leãozinho”, seguido de uma tosse seca, um ruído de queda e um corre-corre da equipe de socorro. Para melhor atender ao público idoso, havia umas 50 equipes do corpo de bombeiros espalhada pelo local, todas munidas com tubos de oxigênio e equipamento para ressussitacão.

Caetano, por sua vez, apesar de ser quase centenário, mostrou muita energia no palco. Correu uns dois metros, dançou três passos de um frevo, tocou na mão do pessoal do gargarejo e até mostrou a barriga (flácida) para horror dos presentes. Tive impressão que haviam umas cordinhas vindas do teto segurando o músico enquanto ele fazia movimentos mais ousados. Mas acho que foi só impressão.

No fim das contas, depois do segundo bis em que ele tocou a mesma musica que iniciou a apresentação (um roadie foi ao palco dizer que o show estava no fim e não início. Caetano fez uma cara de “ah é, é?” e foi conduzido aos bastidores) me senti jovem de novo. No meio de tanto formol e botox, me vi como um garoto novamente. Só fiquei um pouco preocupado de quase ter causado um infarto num velhinho na minha frente quando, após a vibrante e pesada Rocks, eu berrei um ROCK AND ROLL a lá Ozzy. Só deu tempo de ele dizer um “ai jesus” e cair.

Enquanto a equipe dos bombeiros abria caminho para acudir o coitado, eu fugia para o bar que, além de cerveja e água, contava com serviço extra de distribuição de mingau de aveia para os mais fracos. Cheguei à conclusão que um show deste é uma ótima terapia para os paranóicos que, como eu, têm medo de chegar à idade de voltar a usar fraudas. Afinal, estou na flor da idade, cheio de vitalidade. E, como dizia minha saudosa avó, que morreu aos 98: “velho é o mundo, ora pois” (e o Caetano também, vovó).

Um comentário:

Anônimo disse...

Caetano pintou dia desses por Belém.Se soubesse que o baiano iria tirar do baú duas pérolas do discaço 'Transa'para tocar, teria feito um esforço para estar lá.