The Smugglers (By Breno Yared - incluíndo a foto feita em PB)

23 de abr. de 2007


À primeira vista pode parecer um filme de gênero clássico americano da década de 40: “The Smugglers”. Um Filme de gângsters, como “Force Of Evil” (1948), de Abraham Polonsky, que mostra uma América violenta e corrupta com personagens marginalizados dentro do sistema. Porém, estamos frente a frente com um “contrabandista”, um smuggler. A forma como Martin Scorsese denomina, em seu documentário “Uma Viagem pelo Cinema Americano”, cineastas que na década de 40, no auge do studio system hollywoodiano, burlavam o sistema em projetos extremamente pessoais e de estilos inconfundíveis.

Samuel Fuller, Andre de Toth, Jacques Tourneur, Edgar G. Ulmer, Fritz Lang, Douglas Sirk, Nicholas Ray. Formaram a linha de frente dos smugglers. Os “gângsters” de Hollywood. Trabalhavam clandestinamente e sua subversão não era percebida de imediato. Jacques Tourneur e Edgar G. Ulmer, por exemplo, trabalhando em divisões menores dos grandes estúdios, em filmes de baixo orçamento, como “Sangue de Pantera” (1942), de Tourneur, e “Detour” (1945), de Ulmer, podiam transformar uma produção rotineira em um filme extremamente pessoal, autoral. E isso dentro de gêneros clássicos do cinema americano, como o Noir, o Western e o filme de gângsters.

No entanto, os smugglers, não se limitavam apenas aos filmes de baixo orçamento. E isso é uma das coisas mais fascinantes. Douglas Sirk e Nicholas Ray, por exemplo, em filmes caros de grandes estúdios, com grandes astros, em gêneros típicos da época e bem comportados, como o melodrama, atacavam o estilo de vida americano, a hipocrisia americana. À primeira vista, eles obedeciam às regras do gênero, com o típico final feliz, mas, a partir do subtexto, de forma indireta, criticavam os dogmas da década de 50. Em filmes como “All That heaven Allows” (1955), de Sirk, e “Bigger than life” (1956), de Ray.

Samuel Fuller, talvez tenha sido o maior de todos os smugglers da história de cinema. Em filmes de baixo e grande orçamento. Subverteu as regras dos gêneros tanto pela forma quanto pelo subtexto. Pela forma, como esquecer o cinematograficamente glorioso set piece final de “House of Bamboo” (1955), muito à frente do seu tempo que antecede em anos os soberbos set pieces do mestre dos set pieces, Alfred Hithcock. Pelo subtexto, “Shock Corridor” (1963), metáfora sublime de uma América moralmente degradada. Ambos momentos de um completo smuggler em ação.

Porém, Após a década de 60, tais cineastas entraram em decadência e sumiram com a mudança nas corporações dos grandes estúdios no qual magnatas e produtores, que tinham, de certa forma, conhecimento de cinema, foram substituídos por agentes de grandes corporações que não tinham a mínima visão da sétima arte. A indústria americana entrou em colapso tanto financeiro quanto artístico. Foi quando surgiram, na década de 70, cineastas da "nouvelle vague americana", com filmes agressivamente autorais em nível industrial, que mudariam o cinema americano para sempre: Martin Scorsese, Francis Coppola, Terrence Malick, Brian De Palma, Michael Cimino, George Lucas, Steven Spielberg - os dos últimos, responsáveis pela era dos blockbusters, que continua até os dias de hoje, para o bem e para o mal.

Atualmente, em Hollywood, há raros smugglers em ação. Martin Scorsese é um desses. M. Night Shyamalan e Paul Verhoeven – este em menor grau – também. Os únicos filmes do Scorsese típicos de um smuggler são “Gangues de Nova York” (2002) e “O Aviador” (2004) – em “Os Infiltrados” (2006) ele fingiu ser um smuggler para levar o Oscar. Depois de dirigir o maravilhoso pastiche, de alguns elementos de seu próprio cinema, em “Vivendo no Limite” (1999) à Brian de Palma, a única forma de levar à frente um projeto extremamente pessoal, com orçamento que beirava os 100 milhões de dólares, era atuar clandestinamente, como um smugggler. Á primeira vista, “Gangues de Nova York” é um típico blockbusters do cinema atual: grandes astros, direção de arte suntuosa, final feliz com direito a beijo final.


Em vários momentos, o filme parece como de um cineasta anônimo qualquer. Mas só parece. E isso é intencional. É um smuggler em ação. Um olhar mais apurado perceberá a visão do Scorsese sobre a América no subtexto do filme. Perceberá a beleza da seqüência de abertura - citação de ‘Badaladas à Meia-Noite”, de Orson Welles. E perceberá o lirismo da seqüência final no qual ele homenageia Fellini – o circo passando em frente ao duelo das gangues, D. W. Griffith – a seqüência de ação paralela da cena toda, Ford – principalmente pela temática do filme - e Eisenstein – os navios com canhões atirando e a pura montagem dialética dos soldados armados em contraposição à população fugindo.

O smuggler é uma espécie quase em extinção no cinema americano. Será que Scorsese e Shyamalan, em seus próximos filmes, levarão esta linhagem á frente? Influenciarão ou influenciaram novos smugglers que se inspirarão neles e nós da década de 40 e 50? Só tempo irá dizer. Enquanto isso, alguns dizem, que os smugglres fugiram para as séries de TV americana e inglesa, como “A Família Soprano”, “Prime Suspect” e “The Wire”. Mas isso é assunto para outro texto.

9 comentários:

Aline disse...

E não é que o Breno escreve bem prá caramba??? Putz, adorei o blog!!! Já adicionei na lista dos que visito e leio no meu blog, tá?

Bjs
Aline

Anônimo disse...

Grande Breno.É sempre bom ler algo de quem ama o cinema.Abraços.

Anônimo disse...

Já gostei do blog de primeira...Ninguém pra filtrar meus comentários...Aguenta Yared.rs.

Unknown disse...

Yared! meus pabéns... tanto pela escrita quanto pela foto é uma foto linda! realmente ela faz lembrar uns filmes americanos...
o flog está massa, vamos ao sucesso! hehe. pabéns a esse quarteto ou sexteto não sei bem quantos formão esse grupo.
vai ser sempre bom ler coisas vindo d vcs ( Breno ).
abraços

Sentirei Saudades de Manaus disse...

Yared! meus pabéns... tanto pela escrita quanto pela foto é uma foto linda! realmente ela faz lembrar uns filmes americanos...
o flog está massa, vamos ao sucesso! hehe. pabéns a esse quarteto ou sexteto não sei bem quantos formão esse grupo.
vai ser sempre bom ler coisas vindo d vcs ( Breno ).
abraços

Breno Yared disse...

Receber um elogio desses de uma jornalista como a aline, é um super elogio!!

Acho qu vou filtar os comentários do Mark igual no blog do PAssarinho hahahahah Pô, Mark!

Valeu, Wanderson! Mas, na verdade, essa foto não é para estar junto com o texto. Tirei ela no centro de Manaus. Culpa do administrador do Blog, Rodrigo Castro hehehehehe

Anônimo disse...

Céus!!! Esse Breno Yared vai longeeeeeeeeeeeeeeee....rs...Gostei e linkei no meu blog!!! rss...Parabéns!!!

Juliano Ferreira disse...

Grande Yared! Parabéns! Visita freqüente, pode crer! Abraço de um amigo matador de galinhas.

Anônimo disse...

Nise Pimentel
Breno vc está de parabens,sempre te digo como é bom conversar com quem sabe, e repito aqui é muito gostoso ler coisas de quem tem conhecimento e conteúdo sobre o que escreve. Sucesso sempre vc vai longe habibi. Beijos Nise