O Lutador de Darren Aronofsky… ou o 1o. Round da volta de Mickey Rourke!! Por Rod Castro

17 de jul. de 2009

Apostar numa virada talvez seja mais complicado do que seguir em frente mesmo com uma carreira em franca decadência. Sei que depois de você ter lido o que já escrevi sobre a vida de Mickey Rourke deve pensar que eu esteja falando dele, mas falo de seu personagem em o Lutador, Randy “O Cordeiro” Robinson.

Os tempos de glória de “Ram” são mostrados nos créditos do filme através de um quadro de recados repleto de cartazes e ingressos afixados que transmitem a ideia de que aquele cara fortão já foi um grande ídolo do seu esporte, o teatro em tablado, a Luta Livre. A locução arremata a sensação de que aquilo passou quando chega a narração de sua luta mais importante com seu pior rival, que aconteceu em 1989 – 20 anos atrás.

A partir dessa introdução, teremos praticamente 15 minutos de imagens gravadas com câmera de mão – a primeira grande sacada de Aronofsky, que com esse recurso nos diz: essa era já foi, agora a só temos a dura realidade – e sempre posicionada nas costas de Ram, um homem acabado por mais uma apresentação para fãs do passado e que hoje carrega nos ombros suas frustrações – não tem dinheiro nem para pagar seu aluguel – e as centenas de contusões que a carreira, que perdura com muitas penas, acarretou.

É com esse semblante de “deslocado no tempo” que acompanharemos os derradeiros momentos finais de uma lenda – sim o fim está próximo para o “cordeiro” e por isso ele sofrerá muito. O momento que acompanhamos da vida de Ram é o pior possível: não tem mais forças para apresentações com os novos astros, seu marketing ficou preso a uma era em que se jogava videogame nos consoles de Nintendo e o seu maior contato com os fãs é realizado em galpões com outros veteranos tão destruídos fisicamente (e mentalmente?) quanto ele.

Aliás, aqui uma dica para quem assistir ao filme: prepare-se para muitas, muitas mesmo, cenas marcantes e emocionantes, como: o encontro do personagem central e sua filha (abandonada) e seus vários diálogos com a única mulher com quem se relaciona sem pudores e com certa alegria (uma dançarina de bar interpretada com maestria por Marisa Tomei).

Mas nada se compara com as três cenas mais pesadas do ano em um filme, praticamente uma sequência de golpes desferidos abaixo da linha da cintura: o primeiro dia como atendente da delicatesse (em que ouvimos os gritos dos fãs ao fundo enquanto ele se prepara para chegar ao ambiente de trabalho); a destruidora luta sem limites com um adversário (que trará consequências avasaladoras para sua vida) e o momento final em que ele se entrega de braços abertos, assim como outro cordeiro, ao seu verdadeiro destino.

Muitos falam que o filme não ganhou a força que deveria ter graças a biografia de seu ator principal – a história traçaria um paralelo tão forte com a vida de Rourke que traria confusão para quem o assiste – mas discordo muito. O Lutador é a batalha da vida de um homem que já foi adorado, já teve seus fiéis seguidores e que de forma arrebatadora leva os espectadores – que também adoram outras figuras públicas – ao nocaute.

Talvez este filme de Darren Aronofsky – injustamente ignorado por várias premiações – seja o mais bonito a passar nas telas dos cinemas dos últimos anos, senão o for, com certeza o melhor trabalho de Rourke em toda a sua carreira. Filmão nota 10.

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