Mickey, O Lutador.

15 de jul. de 2009


Houve um tempo em que Mickey Rourke roubava o ar das mulheres nos cinemas e nos quartos, quando elas assistiam aos seus filmes em VHS – é, a sua fama foi antes do DVD. Esse tempo deu espaço para o: “Poxa, porque ele tá fazendo isso?” também dito por essas mesmas mulheres que viram suas poucas lutas de boxes e testemunhavam seu rosto ser arrebentado soco após soco por seus adversários.

Em seguida, após o fim da carreira de boxer e a retomada aos filmes, a reação das fãs foi: “minha nossa, como ele tá horrível, desfigurado!”. O mais louco dessas afirmações é que nenhuma delas tocava em algo realmente importante para o ícone Rourke: seu talento estava acima daquele rosto bonito – na verdade ele tinha mais charme do que um belo rosto – ou daquela face recém saída da maquiagem do belo filme Marcas do Destino.

Mickey foi um dos poucos bons atores a surgirem no início dos anos oitenta. Não estou falando que não existam outros bons, sim eles realmente estão aí, mas assim como Sean Penn, Rourke já começou bem – roubou a cena na quente homenagem ao cinema noir, Corpos Ardentes.

E depois foi convidado a fazer papéis importantes e principais, como seu trabalho visceral e simplista no subestimado Selvagem da Motocicleta (de Francis Ford Coppola) ou o seu ápice artístico, em outro filme que emula o cinema detetivesco praticado nos anos 40 e 50, no também subestimado, Coração Satânico, ao lado de outro monstro na tela: o camaleão Robert DeNiro.

Daí pra frente o barco começou a dar água. Primeiro foi erótico Nove Semanas e Meia de Amor, que acabou dando a guinada errada na carreira do ator (deixou de ser comparado com os grandes astros para ser rotulado como galã) e o pecaminoso e deprimente Bar Fly, em que vários bêbados se reuniam para afogar suas mágoas – que teve repercurção ínfima e público menor ainda.

Após a carreira de boxer o ex-astro tentou sem sucesso a sua volta. Foi nocauteado em poucos rounds até que os amigos Sylvester Stallone e Sean Penn o convidaram para pequenos papéis em seus filmes: O Implacável e o subestimado A Promessa.

O ensaio da sua volta foi planejado pelo nerd Robert Rodriguez que primeiramente lhe deu um pequeno papel de destaque na brincadeira rodada toda em câmera digital, Era Uma Vez No México. E em seguida lhe trouxe aos holofotes com o papel principal da adaptação dos quadrinhos de Frank Miller, no papel do desfigurado e enlouquecido (lembra quem?) Marv de Sin City.

Outro importante diretor que contribuiu para que o público recebesse com carinho, o já velho, Rourke foi Tony Scott, irmão mais velho e menos famoso de Ridley. Dele vieram dois convites, um pequeno em Chamas da Vingança e outro maior e de destaque no interessante e talvez até original Domino.

Mas nenhum papel até hoje feito pelo quase senssentão Rourke o fez mostrar toda a sua capacidade dramática quanto o que lhe foi oferecido em 2007 por Darren Aronofsky: o de um lutador que já deveria ter se aposentado, mas que trava uma verdadeira batalha contra a idade e os excessos de uma vida desregrada, o emblemático Randy “The Ram” Robinson.

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