!!Quem sabe não desaprende… ou Sean Penn e seus personagens marcantes!! por Rod Castro!

2 de jun. de 2009

Assim como um bebê aprende a andar e dificilmente deseja engatinhar novamente, um artista quando chega ao seu ápice profissional quer subir mais e mais ou no mínimo se manter naquela posição. O que não pode ocorrer, entre o desejo e a concretização, é o trançar de pernas, pois a queda talvez seja mais violenta do que se pensa ou imagina.

Sean Penn surgiu para o mundo do cinema após encarnar um personagem bobão em um filme descompromissado com a “arte”. Seu papel de surfista drogado e até mesmo surrealista em “Picardias Estudantis” o tornou uma grata revelação e praticamente o classificou como um ator de comédia. Ledo engano.

Antes da década de noventa se iniciar, Sean fez três filmes seguidos em papéis muito distantes da realidade traçada por Hollywood: um policial ingênuo que vê a realidade das ruas em “As Cores da Violência” (Dennis Hopper), um bandido bobo e cheio de carga dramática na regravação de “Não Somos Anjos” (Neil Jordan) e encarnou o mal em uma atuação precisa e sem exageros no sempre esquecido “Pecados de Guerra” (Brian de Palma).

Mas o efeito desejado – o verdadeiro reconhecimento de seu talento – não chegava. Talvez por ele, nesse tempo, ser mais conhecido como “marido da Madonna” ou por “o arrasa paparazzo”. Mas assim que o turbilhão Madonna se foi, já nos anos 90, Sean seguiu seu caminho rumo ao estrelato ao trabalhar, novamente, com bons diretores em filmes que lhe renderam indicações e prêmios.

São dessa década: um advogado paranóico e viciado no subestimado “Pagamento Final” (Brian De Palma) - indicação ao Globo de Ouro como ator coadjuvante; um “inocente” condenado a morte por estupro no excelente “Os Últimos Passos de um Homem” (Tim Robbins) - Urso de Ouro de Berlin e indicação ao Globo de Ouro e ao Oscar; um pilantra que se envolve com a amante (Jennifer Lopez) de um chefão de um vilarejo (Nick Nolte) no alucinante “Reviravolta” (Oliver Stone).

A reconstrução da marca Sean Penn se consolidou sob o comando de três importantes diretores: o novato mais inovador dos últimos anos, David Fincher em “Vidas em Jogo”; o mestre Terrence Malick no drama de guerra “Além da Linha Vermelha” e o sempre distante dos esquemões de Hollywood, Woddy Allen em “Poucas e Boas” - indicações no Oscar e Globo de Ouro de 1999 pelo papel.

O feito pelo ator rendeu melhores trabalhos nos anos 2000. Logo de primeira, em um filme de baixo orçamento, Penn fez o belo “Uma Lição de Amor”, em que interpretava um homem com mentalidade de 7 anos, chamado Sam, que deseja ter a guarda de sua filha. Resultado: uma merecida indicação ao Oscar e renda supreendente para um filme “menor”.

O novo século trouxe papéis marcantes para o ator, dessa safra nascem personagens impressionantes encenados com toda técnica e zero, eu disse realmente zero de cacoetes ou “marcas pessoais”: o mafioso barra pesada que é mais perigoso do que parece em “Sobre Meninos e Lobos” (de Clint Eastwood) e um homem em franca derrocada que tem seu momento de redenção (?) – seu melhor trabalho – em “21 Gramas” (do diretor mexicano Iñarritu).

Ambos renderam indicações e prêmios, incluindo um inédito Oscar. Além disso, lhe trouxeram o prestígio necessário para se tornar um ativista político não apenas pelos temas de seus trabalhos (como o bom “Assassinato do Presidente Nixon” e a regravação de “A Grande Ilusão”), mas por sua postura como líder do sindicato dos atores americanos e seu apoio a campanhas contra o presidente, com “p” minúsculo mesmo, o Bush.

É nesse ponto que chegamos ao filme mais corajoso do ano e estrelado por um Sean Penn visceral e genial: o excelente “Milk” de Gus Van Sant – que desde “Gênio Indomável” não cometia uma obra com essa força.

O projeto “Milk” nasceu vencedor pelo seu roteirista – Dustin Lance – que seguindo reportagens da época do assassinato de Harvey Milk, acabou por entrevistar várias pessoas que conviveram com o real personagem e traçou um dos melhores enredos dos últimos 10 anos. Tudo porque a coragem que movia Harvey a recrutar milhares de pessoas como ele – homossexuais – ou que eram a favor da sua causa – direitos iguais para todos – foi retratada com vontade e sem escapismos ou maquiagens.

Se você acha que “O Segredo de Brokeback Mountain” teve uma coragem ao mostrar homens se beijando apaixonados, os 15 primeiros minutos de “Milk” são dezenas de vezes mais corajoso. Os atores – muitos da nova geração – dão cara e voz a minoria, que até hoje não tem o apoio da maioria, com uma dedicação e motivação nunca antes vista em um filme de carga política como esse.

Sean Penn é o filme. Seu Harvey é simples, motivador, natural e em muitas horas emociona por ser alguém com quem você espectador e demais personagens se importam e se influenciam por seu carisma. A técnica ganha vida a partir de Penn que recebe apoio de um dos melhores “escadas” desse novo cinema Americano, Josh Brolin – o eterno irmão mais velho dos “Goonies”.

Se Milk é encantador, seu rival Dan White (Josh) é o preconceito encarnado. Nada de empurrões ou acusações contra o personagem de Penn. A atuação de Josh basicamente se concentra em sua postura corporal, sempre tensa, e em seu rosto que demonstra uma amargura e incompreensão do carisma de Harvey.

“Milk” é um filme obrigatório, assim como “Gênio Indomável” o foi. Mas a força do filme de Van Sant está em conseguir conversar com muito mais pessoas, sejam elas gays ou não, por tartar de uma história já tantas vezes contadas e sempre incompreendida: a tolerância com o que é estranho ou diferente gera uma realidade melhor.

Filmão e espero que Harvey recrute você. Nota 9,0.

Um comentário:

Breno Yared disse...

Porra! Finalmente atualizou o espaço, hein! Colocando favoritos, contador e seguidores. Abraço, safado!