!!A Trinca de ouro do Ano? Ou: como transformar blockbusters em verdadeiros filmes de arte!! por Rod Castro

24 de jul. de 2008

Hoje em dia é freqüente o número de bons diretores que se propõem a seguir uma linha de conduta artística, mas larga tudo o que fez e construiu, para tocar um projeto mais “comercial”.

Mas mesmo assim, por se tratar de uma pessoa acima da média, vários deles metem os pés pelas mãos e acabam se vendo vítimas de “fãs furiosos”, “cri-críticos ferrenhos” e às vezes, acabam por serem intitulados como os mais novos gênios que se renderam ao mercado e ponto final.

Mas e quando você consegue fazer o que você já fazia, mesmo freqüentando grandes salas repletas de “corvos engravatados”? O seu valor extrapola os paradigmas e quebra regras? Será que apenas agora alguns bons diretores estão tendo essa real possibilidade?

E pior: será que um diretor que sempre freqüentou o “mainstream” (vulgo independente) é uma vítima quando freqüenta tais reuniões, ou será ele um artista que finalmente realiza o grande plano de “dominar o mundo” via salas de exibições?

Falo isso por conta de 3 filmes que passaram nas telas de cinema nesse ano de 2008: “Across The Universe”, “Fim dos Tempos” e “Batman, O Cavaleiro das Trevas”.

Todos tendo no comando diretores que começaram pequenos e rumaram para algo maior. Mas será que a essência artística daqueles magros dias ainda está presente, hoje, abaixo dos holofotes, das cobranças financeiras e dos flashes?

Comecemos por um dos mais polivalentes diretores de cinema a surgirem no final da década de 90, o indiano M. Night Shyamalan.

Em seu começo pequeno ele arriscava. Fosse em uma comedia de costumes com excelentes diálogos, em um suspense inovador e surpreendente (sucesso de público, prêmios e críticas), em uma linda homenagem aos nerds do mundo inteiro, em um drama manipulador que criticava o american way de ser, e por último, frente a um projeto desafiador e de fundo artístico – que fez mais celeuma pelas discordâncias dele com os engravatados, do que pelo valor artístico que o projeto realmente tinha.

Mas confesso que a coisa desandou em “Fim dos Tempos” – já até escrevi a respeito disso em um post anterior. E acho errada a fanática pregação de que ele está sendo autoral, genial ou como até mesmo li: “estendendo o seu dedo médio frente aos engravatados e grandes fãs de filmes de Blockbuster”.

É um filminho, com roteiro fraco e ele não é um escravo dos engravatados como alguns pregam, se fosse o seu passado mostra que os caminhos – independentes – das pedras ele conhece, não volta para lá porque está em um momento ruim e não quer largar o o$$o.

Não muito diferente de Shyamalan, temos dois diretores diferentes entre si e em seus estilos de trabalhar, que souberam “estender vários dedos médios” para os engravatados e ao mesmo tempo arrancaram aplausos do público e da crítica com dois belos exemplares de cinema bem feito: “Across The Universe” (da americana Julie Taymor) e “Batman, O Cavaleiro das Trevas” (do inglês Christopher Nolan).

E olha que ambos passaram por patamares menores, como M. Night – ela fez vários filmes de TV e roteiros para cinema até engatar um projeto ‘menor’ (“Titus”) com excelente elenco. Já ele fez dois curtas antes de azeitar o simples e independente “Amnésia” – e ambos galgaram, com sacrifícios, assim como o indiano, os degraus para os grandes estúdios.

Mas exatamente neste ponto a história difere: enquanto ele fez uma regravação de um sucesso europeu “Insônia” (com grande elenco e grande estúdio nas costas), ela bancava uma história difícil e contada com eficácia em “Frida” (com grande elenco e um grande estúdio em suas costas).

Em seguida Julie tocou alguns comerciais grandes para TV e outros roteiros para cinema. Enquanto Nolan subiu quatro degraus de uma só vez sem rasgar a calca ou se sentir cansado com a excelente adaptação ‘realística’ de quadrinhos “Batman Begins” e em seguida fez mágica com o drama/suspense (com elenco mais que estrelado e com um estúdio gigante as costas) no já clássico “O Grande Truque”.

Em 2008 esses dois diretores fizeram mais. Entregaram obras-primas artísticas. Fazendo o que um verdadeiro autor deve fazer: seu trabalho muito bem feito e com o seu toque particular que o diferencia dos demais sem ser piegas, ruim ou “popular” – e rendendo de igual para igual com os que optam por esse estilo.

“Across The Universe” – Uma experiência deve ser vivida por inteira. Por isso que o cinema é no escuro, com grandes caixas e tela, além de um projetor que possibilita mais cores a película. E viver uma experiência que você no mínimo sabe um pouco e acaba por se interessar mais é algo para se marcar na memória.

“Across The Universe” poderia ser resumido nesse primeiro parágrafo. Mas seria muito pouco para algo tão grandioso. É necessário falar que o grande diferencial desse musical/romance, na verdade é o seu fundo e seu contexto: fazer um filme inteiro como uma verdadeira homenagem a uma das mais completas bandas de pop/rock que já existiu: os Beatles.

Banda que vive no inconsciente coletivo até de marciano – cientificamente falando, já que muitas músicas deles foram mandadas literalmente para o espaço em sondas e mais sondas – e que por isso mesmo merece o respeito devido e uma proporção que lhe respeitasse toda a sua história e genialidade.

Assim a diretora americana Julie Taymor formou uma grande equipe de redatores, sentou a frente da tela do computador e coordenou trabalho primoroso, inusitado, fantástico e pop, como a banda sempre o foi e como seus fãs (e não fãs também) sempre sonharam em ver.

Tem referencias a personagens de músicas (“Jude”), novos patamares para as letras mais cabeças (“I Want You, She’s So Heavy”) – a melhor cena do filme em minha opinião – novos estilos de tocar canções mais conhecidas (“Strawberry Fields Forever” e “With A Little Help From My Friends”), homenagens e citações transformadas em ação, enfim, um verdadeiro filme tributo, a uma obra tão complexa e única como Paul, John, Ringo e Lennon sempre fizeram.

Este é o verdadeiro encontro da sétima arte com o melhor da música mundial. Em um acorde uníssono entre a direção de arte e a trilha. “Across The Uiverse” é Fabuloso, como os 4 já o foram. Nota 9,0.

Continuo o post segunda-feira falando de “Batman o Cavaleiro das Trevas”.

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