Deu trabalho, mas foi, como sempre, prazeiroso. Rever a lista que faço de filmes assistidos em um ano – cerca de 175 filmes em 2010 – fez-me lembrar de momentos importantes, bons, tristes e marcantes deste último ano.
Vamos ao que interessa? Eis a lista, divirta-se!

20 - Vício Frenético - de Werner Herzog
Faz tempo que Nicholas Cage se tornou uma anedota. Faz tempo que o diretor Werner Herzog busca se aproximar do público em geral e se reafirmar como um grande realizador. A grande sacada do alemão foi chamar Cage para esta regravação de um filme transoloucado e muito bom do dirtetor Abel Ferrara. Trama coesa, momentos gravados em handcam, trilha estourada e de fundo a reconstrução de New Orleans, recém destruída pelo Katrina. Uma das surpresas do ano.

19 - O Livro de Eli - de Albert e Allen Hughes
Momento redenção: os caras que estragaram uma das melhores obras dos quadrinhos modernos – “Do Inferno”, de Alan Moore – conseguem reverter o caminho de suas carreiras com este filme que mistura faroeste com samurai, abusa de uma fotografia saturada e de um som impressionante, tem Denzel Washington se divertindo a beça e ainda premia o público com um final original. Parece tudo, menos cinema americano.

18 – Direito de Amar - de Tom Ford
Quem diria que um estilista poderia fazer um filme? Quem diria que este estilista, Tom Ford, tornaria-se não somente um diretor, mas um diretor autor – ele produziu, roterizou e dirigiu o filme? Pois “Direito de amar” é uma estréia absolutamente perfeita de Ford e traz uma história que passa longe dos cacoetes já mostrados em filmes que falam sobre homossexuais. É daqueles filmes simples, mas que deixam boas lembranças.

17 – Como Treinar o Seu Dragão - de Dan Deblois e Chris Sanders
Em um ano com um filme da Pixar – “Toy Story 3” – e outro do mestre Myiazaki – “Ponyo” - algo inesperado: “Como Treinar o Seu Dragão” é a melhor animação que vi em 2010. Os motivos são: ótimo roteiro, uma animação sem grandes rompantes artísticos, porém bem feita e um grande número de personagens inesquecíveis. Tudo isso envolto como um filme de aventura para a criançada como os bons e hoje clássicos “Goonies” e “De Volta Para O Futuro”. Pena que o perdi em 3D nos cinemas.

16 – Mother, A Busca Pela Verdade - de Joon-ho Bong
Ele tem apenas 41 anos. Fez somente 04 filmes. Tem um neoclássico em seu curículo – “O Hospedeiro” – um bom policial – “Memórias de um Assassino” – e um futuro imenso pela frente. Joon-ho Bong fez mais em “Mother”: emocionou, dramatizou, fez rir e conseguiu arrancar excelentes atuações de seu elenco. “Mother” mostra até que ponto uma mãe pode ir pelo seu filho e esse caminho não é fácil.

15 – Guerra ao Terror – de Kathryn Bigelow
Com dois bons filmes de ação realizados na década de 90 – “Caçadores de Emoção” e “Strange Days” – a diretora Kathryn Bigelow volta a velha forma ao realizar um filme diferente sobre a Guerra que os EUA travam contra os “terroristas” espalhados pelo Oriente Médio. Há mais mérito no trabalho feito pela diretora e no jeito de contar essa história do que pelo filme e suas possibilidades em si.

14 – Enterrado Vivo - de Rodrigo Cortés
Um enredo simples: um cara enterrado vivo. 1h e 30 minutos de total desespero, dele e de quem assiste ao filme. O risco corrido pelo Diretor Espanhol Rodrigo e o roteirista Americano Chris Sparling – segundo trabalho de ambos no cinema – foi grande, mas com um final como que foi escrito e encenado, como errar? Uma das maiores surpresas do ano, um filme impactante.

13 – A Ilha do Medo – de Martin Scorsese
O maior mérito de Scorsese e Eastwood, em minha opinião, é: sai ano, entra ano, eles lançam um filme, que sempre é muito melhor do que muitos outros que passam semanalmente no cinema. Aqui não é diferente, misturando elementos de filmes de terror/suspense/noir o mestre dos filmes policiais dos últimos anos entrega uma obra complexa que se perpetúa em mais uma excelente atuação de Leonardo DiCaprio.

12 – A Estrada – de John Hillcoat
Filmar o fim do mundo não é novidade. Mostrar a busca pelo que ocorreu, como foi e para onde a humanidade vai depois do desastre é uma estrada que o diretor australiano John Hillcoat deixou de lado e preferiu seguir por um caminho mais dramático, porém, mais humano. Um dos filmes mais bonitos do ano. Merece ser descoberto.

11 – Lunar - de Duncan Jones
O que mais dizer sobre o espaço além do que já foi dito? Que referências não explorar além das que já foram sugadas ao extremo? Como fazer um filme de ficção científica com um orçamento pífio? Duncan Jones, nas horas vagas o filho de David Bowie, responde a todas essas questões em um filme complexo, com uma das melhores atuações do ano – Sam Rockwell – em pouco mais de 1h30 de pura ficção científica. Olho em Jones e pode anotar: este é um filme para se tornar cult.

10 – Onde Vivem os Monstros - de Spike Jonze
Skatista. Fotógrafo. Diretor de vídeo clipes – do melhor de todos os tempos, “Saboatege” dos Beastie Boys – roteirista por opção, ator por diversão (como em “Três Reis”) e namorador de celebridades. Mas acima de tudo: um cara que sabe agarrar uma boa oportunidade. Este é Spike Jonze, que fez um dos filmes mais sensíveis de 2010. Para isso ele contou com uma história pequeníssima, porém bela; um ator mirim fantástico; e uma equipe que deu vida a cenários impressionantes e monstros terrivelmente amorosos. Este é o novo passo na carreira. Promete.

09 – O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus – de Terry Gilliam
Com 70 anos de idade, o veterano diretor americano Terry Gilliam tem somente 11 filmes realizados. Boa parte deles com o grupo de comediantes do Monty Python. Neste, o terceiro nos anos 2000, ele põe em tela todos os maiores elementos já presentes em sua carreira. A diferença está nos novos efeitos que podem ser alcançados nestes tempos de computação gráfica. “O Mundo Imaginário” se tornou o último filme de Heathe Ledger, mas é muito mais que isso. É um dos filmes mais artísticos do ano. Recomendo-o em Blu-Ray, chega a ser embasbacante.

08 – Invictus – de Clint Eastwood
Já falei de Martin Scorsese. Até já falei de Clint. Mas é impossível fazer uma lista de melhores filmes deste ano 2010 e não citar o emocionante e perefeitamente dramático “Invictus”. Arrisco-me a dizer que este é o melhor filme sobre esporte já feito. Assim como arrisco-me a afirmar que está é a melhor interpretação de Morgan Freeman. Uma homenagem a um dos homens mais importantes no nosso século (Nelson Mandela), feita por outro dos mais importantes do atual cinema mundial (Eastwood). Obrigatório.

07 – Atração Perigosa – de Ben Affleck
Ele já foi indicado e saiu vencedor do Oscar – pelo roteiro de “Gênio Indomável”. Foi o “muso” de Kevin Smith no cinema independente americano. Ficou conhecido uma época como o namorado da Jennifer Lopez. Mas hoje ele deve sorrir em algum lugar ao saber que as pessoas já assistiram a dois de seus filmes e os acharam muito bons. Este “Atração Perigosa” é tudo o que se pede de um filme policial, principalmente de um filme de assalto: ação na medida certa, atores com sede de mostrar seus talentos; e uma história com guinadas eficientes. É o novo “Caçadores de Emoção”, com mais a oferecer.

06 – Tropa de Elite 2 – de José Padilha
Um erro. “Tropa de Elite” foi um erro. Essa continuação é um pedido de desculpas. E é bem aceito pore este escriba. Tudo de errado que o diretor José Padilha cometeu em seu policial facistóide é desfeito com cinema de primeira categoria, como ele já o tinha feito no documentário “Ônibus 174”. A coisa mais importante do filme não é o acerto de contas com o que é certo, mas sim mostrar o que há por detrás de um pensamento unilateral – algo que parece prolíferar na internet. Mostrando que os maiores culpados do sistema existir não são os políticos, os filhinhos de papai, ou a corrupção na polícia, como muitos ainda não entenderam, somos nós, eu, você e muitos outros que aceitamos certas coisas como normais.

05 – Scott Pillgrim Contra o Mundo – de Edgar Wright
Agora ainda não. Mas daqui uns dois ou três anos, vários que não tiveram a oportunidade de ver Scott Pilgrim o colocarão em um patamar maior do que neste momento em que eles veem que o filme ocupa aqui a quinta colocação. Mas falo do agora e agora não há melhor adaptação de quadrinhos, quando o assunto é diversão que “Scott”. Fracasso de público? Bobagem. Falta de empresas para distribuir? Calma, todos os Cults começaram assim. É uma lição de como se adaptar uma obra estática em outra em movimento, respeitando seu contexto e seu texto.

04 – O Segredo de Seus Olhos – de Juan José Campanella
É inegável: os argentinos fizeram um maravilhoso filme. Clássico no seu estilo de contar. Belo no contexto do amor que não se concretiza. Engraçado pelos personagens que o compõem. Emocionante em momentos singelos, com imensos detalhes e com frases marcantes. E genial em um plano sequência que está ao lado de outros maravilhosos do cinema moderno - como em “Desejo e Reparação” e “Filhos da Esperança”. Campanella (o mesmo diretor de “O Filho da Noiva” e “Clube da Lua”) merece: é um "cucaracha" que venceu preconceitos em solo americano (fez séries como “House”, “Law & Order” e “30 Rock”) e entrega uma excelente adaptação de um grande livro argentino. Parabéns hermanos.

03 – A Origem – de Christopher Nolan
Eu me lembro quando Clint Eastwood era chamado de carrancudo. De quando Alfred Hitchcock era o gorducho, Chaplin era o judeu, Allen o baixinho e Scorsese o o sombrançelhas grossas. Será que Nolan é o “boca mole” ou o “calvo de um lado”? Explico: há no mundo dos apreciadores do cinema, uma perseguição a quem faz bons trabalhos e ganham a aclamação do público sem precisar se afirmar inteligente em entrevistas. Há um ranço, bobo, de quem gosta de cinema em perseguir pessoas que fazem cinema bom do jeito que o cinema foi criado: popular. Esse problema atingiu a vida desses que eu falei acima e que hoje são considerados pelos mesmos detratores como gênios, ícones e blá-blá-blá. A hora de Nolan vai chegar, não é com este excelente “A Origem”. Mas vai chegar.

02 – A Rede Social – de David Fincher
Não se engane. Não se deixe levar. A maioria dos blogs que hoje endeusam o trabalho de Fincher frente a “A Rede Social” é escrito pelas mesmas pessoas que dia desses o chamavam de mero fazedor de clipes e comerciais – mesmo erro cometido com Fernando Meirelles. Eles também diziam que Fincher fazia filmes escuros e subverssivos, vivia de picotar seus planos e o mais importante: eles são os mesmos que riram - apesar de hoje não admitirem - ao saberem que ele faria “um filme sobre o Facebook”. Este é o melhor trabalho de David Fincher, um cara que fez três dos melhores filmes da década de 90 – “Se7en”, “Vidas em Jogo” e “Clube da Luta” – e que despreza a pencha que adoram jogar em cima dos novos “gênios” do cinema – de diretor autoral – pra longe, como ele mesmo afirmou em seu discurso no “Globo de Ouro”. É o melhor filme do ano? Não, por muito pouco.

01 - Sede de Sangue – de Chan-wook Park
Há histórias que se perpetuam no imaginário popular. Bram Stoker fez a sua: um homem que se torna sugador de sangue ao romper com suas crenças, em Drácula. Mas como recontar mais uma vez o que já foi dito infinitamente pelo cinema? Como ousar onde outros já o fizeram? E principalmente: como se utilizar de recursos de imagem que pareçam originais e inéditos? Chan-wook Park, o melhor diretor de cinema da Coreia do Sul nos diz como. A história respeita o clássico: um padre serve de cobaia para o teste de uma possível vacina para um vírus mortal. Ele quase morre, mas volta a vida com sede de sangue. Há tantas coisas para se falar deste grande filme, que seria injusto da minha parte comentá-las. Pois todas envolvem o inesperado. Daqueles filmes que transformam alguns minutos da sua vida em momentos inesquecíveis. Este é o melhor filme que vi em 2010.