!!Uma grata surpresa ou O Livro de Eli!! Por Rod Castro!

29 de mar. de 2010

Não conhecia nenhum filme dos chamados Hughes Brothers até descobrir antes de 2001 que eles seriam os responsáveis pela transcrição de um dos melhores trabalhos do genial autor de quadrinhos Alan Moore, a série “Do Inferno”.

Na época, antes mesmo do filme chegar aos cinemas, li “Do Inferno” de cabo a rabo em pouco mais de um ou dois dias. Um trabalho visceral, estudado e que tentava desvendar a identidade de um dos maiores criminosos/assassinos do mundo: Jack, o Estripador.

Em momentos sublimes da revista em quadrinho – como o passeio de Jack com o cocheiro que o servia antes dos crimes – pensava comigo mesmo: “Duvido que um estúdio americano deixe algo assim ir direto para as telas sem um ou dois cortes”.

Este também era o meu pensamento enquanto lia outro clássico moderno dos quadrinhos, “Preacher” (de Steven Dilon e Garth Ennis): “esse gibi ficaria melhor em uma série da HBO do que em um filme de duas horas”.

Não se podia negar que os Hughes – Albert e Allen – tinham apreço pela sua fotografia, sua direção de arte e ao escolher o seu elenco - Johnny Depp, Ian Holmes e Heather Graham – mas falharam copiosamente em suprimir todo o conceito da obra em pouco mais de duas horas de exibição.

Talvez o medo de ter falhado em uma ótima possibilidade como era “Do Inferno”, unida ao total fracasso em crítica e bilheteria do filme, fez com que os irmãos se retirassem sumariamente do mercado. Não dando chance para uma redenção, mas eu acredito que eles esperaram por um bom roteiro que pudesse lhes dar uma chance de mostrar todo o seu potencial.

Esse roteiro com certeza é “O Livro de Eli”. E como valeu a pena esperar.

Mas ao invés de começar falando sobre a história, que é sensacional, vamos falar dos aspectos técnicos e que me deixaram ainda mais embasbacado? Vamos, lá: lembra que falei que os irmãos mostraram ter três fortes características quando decidiam fazer filmes?

Aqui a coisa não é diferente: a fotografia saturada – com granulação por vezes exagerada e filtros – é um espetáculo a parte e em determinados momentos o feio é tão bonito – seja em uma cena de luta ou apenas para mostrar como a Terra ficou após uma guerra mundial – que você vai se pegar babando pelas cenas em tela cheia.

A direção de arte é outro aspecto de capricho e perfeição que os detalhes ganham destaque, como: o megafone usado por Gary Oldman em cena avassaladora – um tiroteio em falso plano sequência – que tem a logomarca da Motorola.

O elenco merece destaque. Leia bem o que vou escrever: Denzel Washington tirou a sorte grande ao fazer esse magnífico papel. Com Eli, Denzel se despede da carapaça de ator que sempre merece o Oscar e se diverte a valer ao viver um quase samurai que tem consigo o livro mais procurado pelo que restou da humanidade.

Gary Oldman, que interpreta o vilão do filme, mais uma vez se entrega ao papel e não tem nem vergonha de mostrar o quanto está velho. Ele é Carnegie, líder de uma das poucas cidades do mundo a possuir água potável. Seu maior desejo é encontrar o livro que pode lhe dar o maior dos poderes: o de liderar a humanidade, que livro seria este além de ser o que Eli (Washington) tem em mãos?

O restante do elenco de apoio não faz feio: Ray Stevenson (da série “Roma” e que recentemente fez um bom “Justiceiro”) é o cão de guarda de Carnegie e tem boas cenas de ação e trava bons diálogos com os dois atores principais; a irreconhecível Jennifer Beals (a dançarina de “Flashdance”) é a esposa de Carnegie e tem papel fundamental ao fim da trama; e o maior destaque vai para a ucraniana Mila Kunis, dona de uma beleza ao estilo Angelina Jolie a moça não somente sabe interpretar como tem um carisma arrebatador.

A história é tão simples, que chega a ser constrangedor que ninguém tenha feito algo do tipo antes: um homem, meio samurai meio pregador, recebe uma missão para levar o livro que tem em mãos, última copia desse exemplar, ao o oeste do que sobrou dos EUA.

No caminho ele encontra vários grupos de pessoas que matam por água, depara-se com uma cidade que possui esse importante elemento, enfrenta o líder da cidade, ganha apoio da filha da esposa do chefão/vilão e ao final, sua redenção é impressionante, assim como o final da trama e a revelação final.

Poderia falar mais sobre a história, mas seria uma irresponsabilidade e estragaria muito do que você tem a pensar e descobrir sobre o filme. Tomará que os Hughes engatem a quinta depois deste filme e que Denzel aceite roteiros tão bons como estes. Filmão: 9,0!

!!Em 2009 o Metallica pôs o hard rock em Xeque. Este ano é o Deftones, ou: Diamond Eyes!! Por Rod Castro!

22 de mar. de 2010

Há duas formas de ouvir o novo disco do Deftones: com ouvidos de fã - aqui me faço presente – e com ouvidos de um admirador de bons discos de rock – aqui professor!

O problema de “Diamond Eyes”, o sexto disco da banda, é que esta linha é tão tênue, mas tão tênue que você tem que ouvir as músicas mais de três vezes para poder tecer qualquer comentário sem que o mesmo não seja totalmente sentimental.

Como fã, lembro-me da trajetória do Deftones:
A primeira vez que meus ouvidos foram tomados pelo som da banda foram nos idos anos de 1997. Vendo o finado e saudoso programa “Gordo Pop Show”, em que vi o clipe de “My Own Summer (Shove It)”. Como não tinha computador e a banda não tinha nenhum dos seus discos lançados em território nacional, acabei vendo e revendo dezenas de vezes o curto tempo do clipe no ar.

Conversando com um chapa, Ricardo Vianna, consegui que ele me encomendasse o primeiro e o segundo disco da banda: “Adrenaline” e “Around The Fur” – tempos bons em que o dólar estava um por um. Ouvi os dois discos de tal forma que sabia as sequências de trás para frente e assim por diante.

Mas o Deftones era uma banda entre várias surgidas naqueles anos: Korn, Limp Bizkit e Coal Chamber, entre outros. Havia uma diferença, é verdade, mas parecia que a banda estava amarrado a trupe do “Nu Metal”. A distância do movimento se iniciaria no terceiro CD, o subestimado “White Poney”.

A virada da década trouxe maturidade à banda. Os compassos carregados no baixo deram espaço para uma bateria por vezes agressiva, noutras lenta; o vocal saiu de berros – mas não os abandonou - para uma leveza que o diferenciava dos demais e a banda ganhou mais balanço em suas composições – sem abandonar o peso, como na faixa “Elite” (que deu o Gramy para a banda).

Em 2003, depois de quase um ano em estúdio, o Deftones entregava o seu primeiro disco mais completo: “Deftones”. Um disco pesado – “Hexagram”, “When Girls Telephone Boys”, “Good Morning Beautiful” e a sensacional “Blody Cape” – que tinha suas pitadas de experimentalismo – “Anniversary Of A Uninteresting Event” - e doses de calmaria – “Minerva”, “Deathblow” e “Batle Axe”.

“Saturday Night Wrist” foi o momento de total afirmação por parte da banda, mesmo que hoje se saiba que o produtor entrou em conflito com os membros e boa parte das canções não foram trabalhadas da melhor maneira.

Mesmo assim, “Saturday...” não desanda como a maioria dos discos conflituosos de outras bandas. Canções como “Hole In The Earth”, “Rapture”, “Beware”, “Rats! Rats! Rats!”, “Combat”, “The Earth” e “Xerxes”, a mais linda canção já feita pelo Deftones até então, são dignas da nova proposta.

Aqui termina o momento trajetória. Agora começa o texto do admirador de bons trabalhos. E assim, afirmo que há praticamente três discos a banda busca um novo caminho e merece mais atenção da mídia especializada do que verdadeiramente recebe o que é uma pena. Talvez com este moderno, diferente e ainda assim pesado novo trabalho façam as coisas mudarem.

“Diamond Eyes” é o “Songs Of Faith and Devotion” do Deftones. Explico: “Songs of Faith and Devotion” foi o disco mais audacioso e porque não perfeito, já lançado por uma das bandas mais adoradas pelos amigos de Chino: o Depeche Mode.

E assim como os modernos ingleses fizeram em 1993, ao trazerem o rock – tanto em visual quanto em som – para a sua estrada, o Deftones mistura todas as suas influencias e põe todo seu potencial artístico em 11 excelentes canções.

“Diamond Eyes” pode ser dividido em três momentos-chave: musicas diferentes, canções lentas e pauladas com a assinatura da banda. Abre com a canção título. Lenta, pesada, compassada, letra bonita e refrão que cola nos ouvidos. Em seguida temos uma das melhores canções já feita pelo Deftones: “Royal” - praticamente um resumo artístico: som limpo, pesado, vocal perfeito – com direito a um dos berros mais viscerais de Chino.

“CMND/CTRL” não fica atrás da paulada anterior, mas traz um elemento pouco trabalhado pela banda em toda a sua carreira: Chino faz rimas como a de um rap raivoso – “Once Again, Just Because I Can” - ao som de uma banda de hard rock que sabe o que está fazendo.
“You´ve Seen The Butcher” não fica atrás: parece algo ensaiado por uma banda da década de setenta, mas realizado por uma banda atual, com efeitos modernos e um vocal quase feminino de tão suave.

Mas se há um caminho que pode trazer orgulho aos fãs de Deftones é a canção mais bem realizada em sua curta carreira: “Beauty School”. Simples, dona de um riff grudento, uma bateria compassada e um baixo marcante. A voz de Chino nunca esteve tão bem posta em uma canção.
“Beauty School” é daquelas canções que ao seu fim, deixa um gosto de repeat at eternum - para que você descubra todos os seus desdobramentos sonoros e porque não até mesmo sentimentais.

A climática “Prince”, as bonitas “Sextape” e “976 Evil”, a pesada sem estourar os tímpanos “Risk” e a mais experimental e que fecha o disco - que estaria em qualquer CD do Duran Duran no início de carreira (quando os ingleses eram menos pop e mais rock) – “This Place Is Death”, dão um gosto especial a este sexto trabalho do quinteto.



Para encerrar, se você quer um gostinho para decidir se compra, desce ou tenta de qualquer maneira ouvir “Diamonds Eyes”, confira o clipe da canção que faz parte do CD e que abriu o show deles no último Maquinária: a paulada “Rocket Skates”. O melhor disco da banda 9,5! (com direito a “Guns, Razors, Knives”!).

!!Os 20 melhores filmes da década 00 – 2000 a 2009!! Por Rod Castro!

19 de mar. de 2010

Dia desses, via Orkut, um grande conhecedor de cinema, meu velho amigo João - na opinião do escrevinhador aqui, o melhor vendedor de filmes de Manaus – provocou-me com a pergunta: e os melhores filmes dessa década zero-zero?

Que trabalheira isso me deu, viu João? Mas valeu a pena para notar que os anos 2000 foram muito melhores do que algumas pessoas dizem não terem sido. Ficaram praticamente 35 filmes de fora da lista dos 20 melhores. Você leu? 35 bons filmes ficaram de fora.
E isso só ocorreu porque as animações – em 2D ou 3D – ganharam uma lista a parte: “As Dez Melhores Animações dos anos 2000”.

Lembrando que: os filmes que postei este ano, mas que eu deveria ter visto no ano passado, vão estar presente na próxima lista, na próxima década. Então nada de choramingar, ok?
Vamos à lista das 10 melhores animações dessa década e os porquês? Simbá:

10 - As Bicicletas de Belleville: simples, no roteiro e na ideia principal. Completo no jeito em que foi animado e principalmente pelo desafio de fazer um filme praticamente sem diálogos e tão interessante quanto se os tivesse. Filme europeu que merece ser descoberto.

09 – O Castelo Animado: primeiro filme que vi em cinema, telona realmente cheia, do mestre Myazaki. Se não basta ter uma história tão bela, algo comum em todos os filmes dele, Miyazaki mostra que é mais do que um grande desenhista, um mestre dos desenhos.

08 – Procurando Nemo: depois de Toy Story e de monstro S/A, a turma da Pixar parou o mundo, mergulhou de cabeça neste projeto e transformou a tela de todos os cinemas do mundo em um grande fundo do Mar. Talvez o filme com personagens mais inesquecíveis do estúdio.

07 – Bolt: no ano passado espalharam pelo mundo a possibilidade da Disney perder os direitos sobre o estúdio Pixar. A empresa de Walt então mexeu seus pauzinhos e mostrou que tinha alguns ases nas mangas com esta animação que mistura ação e espionagem na medida certa.

06 – Happy Feet: se o tempo parasse e alguém um dia afirmasse que o diretor do sanguinolento Mad Max faria um musical com pingüins como personagens principais e que a temática seria sobre a preocupação dos animais com o meio ambiente. Você riria não? Mas acho que na verdade você se emocionaria ao final.

05 – Os Incríveis: aqui começa o respeito dos adultos e das premiações pelo estúdio preferido das crianças. As comparações com Watchmen, por parte dos nerds, foi presente durante todo o tempo de exibição do filme que é repleto de boas cenas de ação.

04 – Up, Altas Aventuras: o filme mais emocionante do estúdio da lampadinha mereceu a primeira indicação ao prêmio principal da Academia, o Oscar desse ano. E não foi a toa. Se a Pixar tivesse retirado os dez primeiros minutos do filme e tivesse feito um curta, já levava um prêmio, tendo feito um filme então? O mais bonito filme deles.

03 – Wall-e: se Os Incríveis foi a animação que trouxe respeito à turma da Pixar, Wall-e foi a que mostrou que eles podem sim fazer mais que filmes, obras-prima. O robozinho que remete a 2001 e ao mesmo tempo ao E.T. de Steven Spielberg é um dos personagens mais complexos do cinema, desde Chaplin.
02 – A Viagem de Chihiro: Miyazaki é um homem que entende do assunto. Enquanto todos voam vorazmente atrás de novas tecnologias para fazer animações modernas, ele fez um épico infantil em 2D que lhe deu as maiores premiações de sua carreira. Filme denso, repleto de símbolos e dono de cenas emblemáticas.

01 – Ratatouille: por pouco Wall-e não se tornou uma obra-prima. Um filme que poderia sublimar todo o potencial de um estúdio moderno de animação. E a razão principal para que isso não tivesse acontecido é Ratatouille. Em todos os momentos, Bird – o diretor mais agressivo das animações dos anos 2000 – mostra que seu estúdio merece mais que respeito ou admiração, merece até mesmo mais que uma categoria a parte nas principais premiações, merece aplausos – como os que ouvi após a minha sessão – dos fazedores e admiradores de um bom filme. Clássico. O resumo de uma década.

Semana que vem os 20 melhores filmes da década, não perca!

!!Só pondo os óculos 3D para ver o carequinha dourado de perto Cameron!! Por Rod Castro!

9 de mar. de 2010

A festa foi melhor do que a dos anos anteriores. Martin e Baldwin tirando sarro da ridícula indicação de George Clooney foram o ponto alto das piadas – até hoje não entendi como Sam Rockwell ficou de fora por seu trabalho em “Lunar” (um dos melhores filmes que vi este ano) e o “charmoso” mordeu essa indicação.

Primeiro o inaceitável: 10 filmes indicados e aí a Academia vai é coloca: “Um Homem Sério”, “A Educação”, “Um Sonho Impossível”, “Amor Sem Escalas”, “Um Homem Sério” e “Up, Altas Aventuras”? Brincadeira. Principalmente pelo último que todos sabiam que levaria o de melhor animação.

E quando faço a lista dos que deveriam estar entre os 10, dos quais seis vagas foram porcamente preenchidas é que me questiono onde foi parar o nexo dos membros da tal Academia por ignorar filmes como: “Onde Vivem Os Monstros”, “A Estrada”, “500 Dias Com Ela”, “Sede de Sangue”, “Inimigos Públicos” e o próprio “Lunar”. No mínimo uma situação absurda.

Tudo bem que “Avatar” naufragou. E eu ri muito disso. Mas mesmo assim, achei que Quentin Tarantino levaria algum prêmio menos óbvio do que o que o seu ator coadjuvante levou merecidamente. É um absurdo a Academia ignorar o melhor roteiro já escrito por Taranta, ainda mais premiando “Guerra Ao Terror” que sofre duras críticas por seu autor ter roubado histórias verdadeiras sem dar crédito aos que viveram os fatos.

Dos momentos que realmente fiquei feliz em ver estão: Mo´nique recebendo seu merecido Oscar por sua atuação magistral em “Preciosa” – uma pena que os jurados não tiveram a mesma coragem e premiaram a estreante Gabourey Sidibe em seu papel principal no mesmo filme; o já citado Christoph Waltz superando até mesmo o carisma e a carreira ignorada por premiações de seu xará Christopher Plummer; e o roteirista estreante (de “Preciosa”) que tirou o Oscar de roteiro adaptado do sofrível Jason Reitman e sua história elitizada e distante do público (o sem graça “Amor Sem Escalas”).

De todos os momentos que acompanhei dois emocionaram-me de verdade: ver a homenagem aos indicados a atores principais. Não sei se você notou, mas dos 5 atores que estavam sobre o palco falando de seus colegas, somente um não trabalhou com Jeff Bridges (o vencedor): a linda Vera Farminga.

Todos os outros acompanharam Jeff por sua prolífica e competente carreira: Juliane Moore fez o clássico “O Grande Lebowski”, Colin Farrel o recente “Coração Louco”, Tim Robbins contracenou com ele no subestimado “O Suspeito da Rua Arlington” e Michelle Pfeiffer, como ela bem disse, foi sua parceira no sempre esquecido “Susan e os Backer Boys”. Jeff mercê, há tempo e finalmente, aos 60 anos, recebeu a merecida homenagem.

E para encerrar o momento mágico: ver a cara de panaca do James Cameron tendo total certeza de que sairia arrebentando da festa e totalmente sem graça ao ver sua ex-esposa, sentada a sua frente, levando os principais carequinhas dourados pelo seu belo trabalho em “Guerra Ao Terror”. Para ficar perfeito só se a lista fosse assim:

Melhor Filme: Bastardos Inglórios – Melhor Diretor: Quentin Tarantino – Melhor Ator: Jeff Bridges – Melhor Ator Coadjuvante: Christoph Waltz – Melhor Atriz: Gabourey Sidibe – Melhor Atriz Coadjuvante: Mo´nique – Melhor Roteiro Adaptado: Distrito 9 – Melhor Roteiro Original: Bastardos Inglórios.

Mas eu ainda não voto lá. Vamos ver...

!!E o Oscar? “Amor Sem Escalas”, “Preciosa” e “Guerra Ao Terror”!! Por Rod Castro!

5 de mar. de 2010

O Oscar está aí, ainda não vi todos os filmes que estão concorrendo este ano. A situação piora ainda mais quando a academia acaba escolhendo 10 e não mais os 5 de todos os últimos 20 anos ou senão mais.

Dos filmes deste ano, que concorrem ao prêmio principal, só não assisti a “Um Sonho Impossível”, “Educação” e “Um Homem Sério”. Dos 3, somente o último realmente tenho vontade de ver, os outros dois poderiam ter dado espaço a filmes bem melhores como “Sede de Sangue”, “Deixe Ela Entrar”, “A Estrada” e até mesmo “Onde Vivem os Monstros”.

Ainda entre os listados, não consigo entender a indicação de “Up, Altas Aventuras” já que o mesmo concorre na categoria de melhor animação, assim como “Amor Sem Escalas”, um filme mediano e que só pode ter uma explicação para tanta celeuma: Jason Reitman deve ter fotos de executivos de grandes estúdios fazendo coisas escabrosas.

Mas vamos as resenhas desses três candidatos? Do mais fraco ao mais interessante, simbá!

“Amor Sem Escalas” – Reitman fez um excelente filme em 2005, intitulado “Obrigado Por Fumar”, uma comédia de humor negro que mostrava o que realmente estava por trás do hábito dos milhões de consumidores de nicotina mundo afora. O filme ganhou, hoje em dia, status de Cult e infelizmente passou reto em várias premiações importantes.

Como sempre, o Oscar corre atrás do prejuízo e o indicou pelo mediano, talvez até regular, “Juno”, um filme qualquer que passaria na Sessão da Tarde e ninguém notaria. Mas o Oscar transformou-o no filme mais original do ano de sua exibição – mistificando a sua roteirista Diablo Cody como a nova esperança do cinema moderno/feminino.

Pois agora a dose se repete. Em um filme mais ou menos, com algumas poucas cenas interessantes, um personagem que poderia ter rendido mais – o do Clooney – e duas atrizes de apoio que foram indicadas, mas que não fazem o que um artista coadjuvante tem que fazer: roubar as cenas do seu principal.

A história mostra a vida de um sujeito que passa sua carreira a demitir pessoas por todo os EUA. Ele passa mais tempo nos aeroportos e no ar do que em casa ou perto de seus familiares. Seu lado mais humano aflora quando ele cruza o caminho de uma outra pessoa como ele, mas de saias – a linda Vera Farminga – e ganha praticamente uma jovem auxiliar – a interessante Anna Kendrick - que na verdade deseja encerrar com as viagens dos funcionários da empresa em que ela e Clooney trabalham.

Filme comum, mais uma vez, que ganha status de cool por algum motivo o qual não entendo. Nota 7,5.

“Preciosa” – Já havia assistido ao primeiro trabalho de Lee Daniels como diretor: o mais ou menos “Matadores de Aluguel” (com Helen Mirren e Cuba Gooding Jr.). Também vi um dos filmes que ele produziu: o subestimado “O Lenhador”. Pois este novo trabalho de Daniels, indicado ao Oscar como melhor diretor, é tão forte quanto qualquer filme indicado para este ano.

“Preciosa” é um filme mais que forte, é um filme realista. Tem a sua riqueza residente em um texto duro, atuações magistrais e uma direção de arte detalhada. A historia, assim como a do filme anterior, acompanha a vida de um personagem principal: Preciosa – a estreante Gabourey Sidibe que faz o papel na medida certa. Uma jovem que espera seu segundo filho – a primeira tem deficiência mental – fruto de relações/estupros praticadas pelo próprio pai e que vive com a sua mãe – uma interpretação arrebatadora da atriz Mo´Nique (talvez a maior barbada do Oscar deste ano, assim como Christoph Waltz por “Bastardos Inglórios).

Direção simples. Roteiro enxuto. Interpretações viscerais. Fotografia inovadora e por vezes empolgante. Com todos esses créditos é impossível não ver algum dos envolvidos com o projeto, veteranos ou não, habilmente possibilitados a tocar novos e poderosos filmes como este nos próximos anos.

Bom filme. Merecia mais sorte, pegou um ano atípico. Nota 8,5.

“Guerra Ao Terror” – Se há uma aposta que eu gostaria de fazer neste Oscar seria em Kathryn Bigelow. A diretora, ex-pintora, grandona (1,82m), quase sessentona e que foi mulher do outro indicado James Cameron (por dois anos), sempre foi bem quista por este redator.

Os motivos variam: ela é mulher e faz filmes de ação. Ela é mulher e quase sempre dirige marmanjos e até mesmo grandes astros, como se fosse só mais um do bando. Em seu currículo há trabalhos como: o divertido videoclipe de “Touched By The Hand Of God” do New Order; um dos filmes mais subestimados da década de 90 “Caçadores de Emoção” (dos surfistas assaltantes, com Patrick Swayze e Keanu Reeves); a subestimada ficção cientifica com sacadas interessantes “Strange Days” (com Ralph Fiennes); o interessante drama “O Peso da Água” (com Sean Penn); o drama de guerra “K-19, The Widowmaker” (com Harrison Ford).

“Guerra Ao Terror” é um filme que compreende bem o contexto em que os EUA forçosamente inseriu-se em todo o globo: mostra o dia a dia de uma companhia no Iraque. No filme acompanhamos uma equipe de soldados que vivem desmontando bombas deixadas a esmo por este gigante campo de batalha.

O filme é repleto de excelentes cenas de ação. Tem roteiro simples: logo no início do filme há uma baixa – o desmontador de bombas da companhia morre – e um novo desmontador chega para dar continuidade aos trabalhos (interpretado pelo excelente Jeremy Renner). É isso.

Todo dia é um dia cheio de desafios: da língua, do local apto para esconderijos, da população visivelmente revoltada com a situação em que seu país se encontra e dos soldados longe de suas famílias. Um filme é cru. Trabalha as relações de forma natural, tem uma fotografia sensacional, uma direção de arte dedicada e um punho firme da diretora que em nenhum momento tenta transformar seu “herói” em exemplo. Ele é um ser humano como os demais, que não suporta o calor, que sabe que a qualquer momento pode morrer e que ao voltar para casa se sente um total estranho – mas dessa vez, sem sua adrenalina.

Muito bom filme. Pena que "Avatar" tenha feito mais dinheiro. Nota 9,0.

!!Os esquecidos do Oscar, ou: “A Estrada” e “Onde Vivem os Monstros”!! por Rod Castro!

3 de mar. de 2010

Que o Oscar é uma cerimônia voltada para o próprio umbigo da indústria que mantém Hollywood de pé, você já deve saber ou ter se questionado sobre tal afirmação. Mas o que realmente faz alguém pensar assim a poucos dias de mais uma festa do “cinema mundial”?

As razoes são diversas, mas na maioria das vezes é elevada as mentes questionadoras principalmente por dois fatores: os filmes fora de Hollywood – ou melhor, fora EUA – passam quase sempre em branco, ou são no máximo lembrados com uma indicaçãozinha aqui outra acolá; a segunda: a injustiça com filmes realmente bons, que não tiveram seus marketings tão bem trabalhados, mas que possuem histórias e até mesmo técnicas melhores.

E aí você me pergunta: tá, fala o nome de um cineasta fora Hollywood que vem fazendo excelentes trabalhos longe dessa indústria “dos sonhos”. E aí eu respondo: só um mesmo? Têm tantos. Mas vamos lá: Chan-Wook Park. O diretor coreano que mais produz em seu país nunca em qualquer momento teve presença em premiações dentro dos EUA.

E seu talento não merece nenhum questionamento. Que diretor americano, tirando Michael Mann e Christopher Nolan – já que Woody Allen se afastou por completo dos EUA – possui uma sequência de bons filmes, alguns até obras-prima, como o coreano possui. Quem tem em seu currículo obras como: “Mr. Vingança”, “Lady Vingança”, “Oldboy”, “Zona de Conflito” e o recém magistral filme de vampiro “Sede de Sangue”?

Mas isto denigre a premiação deste ano? Não, já é costumeiro. Mas o que realmente levanta um questionamento quanto a classificação usada pelos votantes do Oscar na escolha dos filmes que devem ser premiados é quando se nota que a própria indústria vira as costas para filmes exemplares – se bobear o melhor trabalho de ambos – como o excelente “Inimigos Públicos e O Grande Truque”, dos já citados diretores, ano, após ano.

Este ano parece não ser tão diferente dos outros já que o muito bom “Onde Vivem os Monstros” de Spike Jonze (o mesmo de “Quero Ser John Malkovich e Adaptação”) e o excelente “A Estrada” não se apresentam em nenhuma das mais importantes categorias da premiação.

Mas em vez de nos lamentarmos, que tal enaltecermos? Confira os breves artigos abaixo sobre esses filmes, que infelizmente não chegaram à Manaus (sim, eu sei que o segundo passou no nosso Festival de Cinema e até premiado o foi, mas quantos o viram?).

“A Estrada”: Filmes catástrofes se prendem a belos efeitos que justifiquem o terror durante a exibição da película. Mas como o mestre do suspense (Hitchcock) uma vez tão bem falou: mostre pouco e o terror, o medo, estará mais presente e vivo na mente de quem sempre teve imaginação – tá, não foi assim, mas este era o espírito. Esta fórmula pouco seguida em Hollywood foi à melhor arma do diretor John Hillcoat.

Um belo dia, ou melhor, em uma bela noite, um casal a pouco tempo de ter o seu primeiro filho, é acordado a noite pelo fogo que toma conta da sua fazenda. Em seguida o diretor corta para mostrar o pai da família (Viggo Mortensen ignorado pela academia, mais uma vez) barbado, sujo e com o seu filho já com 11 anos.

O mundo ao redor parece abandonado, destruído e não se vê tantas pessoas pelas ruas. O que ocorreu com o planeta, onde a maioria das pessoas se refugiou, onde foi parar a esposa (Charlize Theron, que também foi ignorada pela Academia) e onde pai e filho, em uma relação realista de cuidado e preocupação do pai para com o garoto, como se tentasse dar continuidade a sua “espécie” - mesmo em uma vida tão destrocada - irão chegar, são as maiores perguntas desse filme de fotografia fantástica, repleto de excelentes atuações (o senhor é Robert Duval e caçador que ajuda o garoto ao final é Guy Pearce), caprichada maquiagem e direção de arte impecável.

Uma pena que não ganhou o cartaz merecido. Mas com certeza terá sua atenção. Essa estrada leva a uma das experiências mais interessantes do bom cinema: a reflexão. Nota 9,0.

“Onde Vivem os Monstros” – Lembra da pergunta anterior lá do diretor em atividade que podia ser escalado lado a lado de Park, assim como Nolan e Mann? Spike Jonze poderia ser uma das respostas, se, somente se, ele se dedicasse mais a sua carreira de cineasta do que a de diretor de videoclipes.

Nada contra seus vídeos, mas desde que ele filmou o excelente “Adaptação” (segundo trabalho com o autor Charlie Kaufman, o primeiro foi “Quero Ser John Malkovich”) de 2002, o diretor virou as costas para a indústria e se dedicou totalmente aos artistas musicais que apostam em suas malucas ideias de vídeos, como Bjork e Beastie Boys por exemplo. E como não afirmar que este “Onde Vivem os Monstros” está mais próximo dos vídeos do que dos filmes já rodados pelo diretor?

Está tudo ali: o elemento mágico ou fantástico que se torna presente nas telas das MTVs do mundo todo; a direção de arte simples e suja; a fotografia maravilhosa em planos abertos e sensível nos aproximados (merecia uma indicação ao Oscar; um personagem magnético, mesmo que você o esteja vendo pela primeira vez; e uma trilha sonora magnífica (outra indicação) e que retrata o espírito da mensagem principal.

A história parece simples, como as dos filmes anteriores de Spike (um cara que vai trabalhar num escritório em que um andar foi mal construído; um roteirista que sofre para adaptar um trabalho de um escritor): um garoto, filho de pais separados não consegue se comunicar com a irmã adolescente, que um dia foi sua principal amada e sua mãe que hoje tem muito trabalho e amanhã tem um encontro com um possível namorado.

O personagem é brilhantemente interpretado, como nos outros dois filmes já citados (John Cusack é a alma de vários perdedores que se tornam vencedores; um irmão sério que trabalha muito e outro que vive a vida como um fanfarrão, ambos interpretado com vigor por Nicolas Cage): e Max, um garoto incrivelmente garoto, que tem uma sensibilidade magnífica, uma imaginação surreal e um ator magnético Max Records, no papel de Max.

A virada mágica também está presente, como em, ah você já sabe (o homem descobre que há uma passagem no seu escritório para a mente de John Malkovich; um personagem se passa por outro e começa a raciocinar pelo olhar do outro, o que faz o filme se reencenado na sua frente bem depois dos 40 minutos de projeção): o garoto briga com sua mãe e descobre um local repleto de monstros, assim como ele, que refletem suas personalidade e que o tem como seu novo líder.

Parece simples, mas é mais um belo filme de Spike. E ao contrário da maioria dos críticos que afirmavam que o filme não era para crianças, acho sim que "Onde Vivem os Monstros" foi feito para crianças e é bom que elas estejam acompanhadas e em seguida digam: mulher, alimente-me. Nota 9,0!