
Na época, antes mesmo do filme chegar aos cinemas, li “Do Inferno” de cabo a rabo em pouco mais de um ou dois dias. Um trabalho visceral, estudado e que tentava desvendar a identidade de um dos maiores criminosos/assassinos do mundo: Jack, o Estripador.
Em momentos sublimes da revista em quadrinho – como o passeio de Jack com o cocheiro que o servia antes dos crimes – pensava comigo mesmo: “Duvido que um estúdio americano deixe algo assim ir direto para as telas sem um ou dois cortes”.
Este também era o meu pensamento enquanto lia outro clássico moderno dos quadrinhos, “Preacher” (de Steven Dilon e Garth Ennis): “esse gibi ficaria melhor em uma série da HBO do que em um filme de duas horas”.
Não se podia negar que os Hughes – Albert e Allen – tinham apreço pela sua fotografia, sua direção de arte e ao escolher o seu elenco - Johnny Depp, Ian Holmes e Heather Graham – mas falharam copiosamente em suprimir todo o conceito da obra em pouco mais de duas horas de exibição.
Talvez o medo de ter falhado em uma ótima possibilidade como era “Do Inferno”, unida ao total fracasso em crítica e bilheteria do filme, fez com que os irmãos se retirassem sumariamente do mercado. Não dando chance para uma redenção, mas eu acredito que eles esperaram por um bom roteiro que pudesse lhes dar uma chance de mostrar todo o seu potencial.
Esse roteiro com certeza é “O Livro de Eli”. E como valeu a pena esperar.
Mas ao invés de começar falando sobre a história, que é sensacional, vamos falar dos aspectos técnicos e que me deixaram ainda mais embasbacado? Vamos, lá: lembra que falei que os irmãos mostraram ter três fortes características quando decidiam fazer filmes?
Aqui a coisa não é diferente: a fotografia saturada – com granulação por vezes exagerada e filtros – é um espetáculo a parte e em determinados momentos o feio é tão bonito – seja em uma cena de luta ou apenas para mostrar como a Terra ficou após uma guerra mundial – que você vai se pegar babando pelas cenas em tela cheia.

O elenco merece destaque. Leia bem o que vou escrever: Denzel Washington tirou a sorte grande ao fazer esse magnífico papel. Com Eli, Denzel se despede da carapaça de ator que sempre merece o Oscar e se diverte a valer ao viver um quase samurai que tem consigo o livro mais procurado pelo que restou da humanidade.
Gary Oldman, que interpreta o vilão do filme, mais uma vez se entrega ao papel e não tem nem vergonha de mostrar o quanto está velho. Ele é Carnegie, líder de uma das poucas cidades do mundo a possuir água potável. Seu maior desejo é encontrar o livro que pode lhe dar o maior dos poderes: o de liderar a humanidade, que livro seria este além de ser o que Eli (Washington) tem em mãos?
O restante do elenco de apoio não faz feio: Ray Stevenson (da série “Roma” e que recentemente fez um bom “Justiceiro”) é o cão de guarda de Carnegie e tem boas cenas de ação e trava bons diálogos com os dois atores principais; a irreconhecível Jennifer Beals (a dançarina de “Flashdance”) é a esposa de Carnegie e tem papel fundamental ao fim da trama; e o maior destaque vai para a ucraniana Mila Kunis, dona de uma beleza ao estilo Angelina Jolie a moça não somente sabe interpretar como tem um carisma arrebatador.

No caminho ele encontra vários grupos de pessoas que matam por água, depara-se com uma cidade que possui esse importante elemento, enfrenta o líder da cidade, ganha apoio da filha da esposa do chefão/vilão e ao final, sua redenção é impressionante, assim como o final da trama e a revelação final.
Poderia falar mais sobre a história, mas seria uma irresponsabilidade e estragaria muito do que você tem a pensar e descobrir sobre o filme. Tomará que os Hughes engatem a quinta depois deste filme e que Denzel aceite roteiros tão bons como estes. Filmão: 9,0!