!!Obrigatório… ou: Inimigos Públicos um trabalho visionário de Michael Mann!! Por Rod Castro!

4 de ago. de 2009

Michael Mann é um mestre do cinema moderno. Sua direção é precisa, a forma como as imagens entram em cena e como ele capta o que os seus atores tem a falar ou demonstrar em sentimentos é impressionante e até mesmo natural, apesar de ser um filme.

Mas o que se destaca em um filme dele não é a história, nem os personagens, nem a parte histórica – tão bem retratada pelas suas equipes de direção de arte e figurino – e sim a condução e a junção das imagens. Mann possui um olhar, não apenas para captar as imagens, mas para costurá-las – a visão de “fora” a do diretor - que o põe em um nível bem mais alto que seus demais colegas de profissão.

O “Último dos Moicanos” é muito bom na parte técnica. “Fogo Contra Fogo” e “Miami Vice” são perfeições da forma e da condução técnica de um filme. Mas quando Mann combina seu talento ao de um bom roteiro, os seus filmes se destacam de todos os que brotam aos borbotões nas telas de cinema do mundo.

Nesse segmento pode-se falar de filmes excelentes, como: “Ali”, “Collateral” e sua obra-prima ignorada pela maioria dos grandes prêmios do cinema atual – e que você pode comprar até mesmo nas bancas, graças a uma promoção de uma revista conhecida – o sempre atual e repleto de grandes momentos, “O Informante”.

Mas ao lado desse último, outro grande filme de Michael já figura na mesma posição, por unir uma excelente história com uma condução cinematográfica impressionante e visionária, o excelente “Inimigos Públicos”, que recentemente estreou em cinemas do Brasil.

“Inimigos Públicos” tem tudo o que um grande filme precisa ter para ficar na história do cinema: bom elenco – talvez a melhor interpretação de Depp nos últimos anos, sem exageros e natural como nunca foi – cenas de ação que combinam adrenalina e tensão extremas, trilha sonora na hora certa e uma condução de câmera que chama a atenção até mesmo das pessoas que não prestam atenção nisso.

O Achado:

Um bom personagem faz com que todos os filmes se tornem uma experiência diferente para quem o assiste. Dois bons personagens, transformam essa experiência em algo interessante e por vezes inesquecível. Mas o que falar de um filme que é repleto de bons personagens, quase todos bem construídos e o melhor: interpretados com naturalidade, sem cacoetes de caracterizações anteriores e com o melhor que o seu ator pode render?

“Inimigos Públicos” possui o maior número de boas atuações do cinema contemporâneo e boa parte desse resultado se deve ao roteiro construido a seis mãos – incluindo o próprio Mann – que transforma uma realidade em verdade por quase duas horas e 20 minutos – o filme voa, arrasta-se por alguns poucos minutos, mas nada que o prejudique de verdade.

Depp (como o criminoso Dillinger) arrebenta. Coutillard (amante do assaltante) mostra-se uma das melhores atrizes da nova geração. E Christian Bale (Melvin Purvis, policial que lidera a equipe responsável pela captura de Dillinger) e os demais atores somam ao contexto e aos bons momentos que permeiam toda a obra.

O melhor deles ocorre quando Purvis finalmente aprisiona Dillinger - isso depois de uma frustrada operação liderada pelo policial e que acaba perdendo um dos seus homens, morto por um dos membros do bando do criminoso.

Dentro de uma jaula, como um animal risonho e perigoso Dillinger percebe a chegada do paladino. Com cara de realização e ao mesmo tempo até impetuoso, Purvis se aproxima da cela e Dillinger trava um dialogo interessante que resulta nessas últimas linhas:
Dillinger: - Eu sei que os olhos dele (o policial morto) está tirando o seu sono, eu sei.
Purvis: - É mesmo… e o que tira o seu sono Dillinger?
D: - Café.

Sim, Dillinger é perigoso e ao mesmo tempo conquistador, já que assaltava somente bancos e nunca levava o dinheiro dos clientes, que se sentiam até mesmo vingados – já que na época em que o bando dele surgiu nos EUA, boa parte da população desejava que os bancos se arrebentassem por ter arrebentado com a vida de todos, crise de 1929 – mas lembre-se, perigoso ao extremo.

A Maestria:

Mann destrói tudo o que vê pela frente, a começar pelo mesmismo da câmera.

Explico: seus takes – aqui aplausos para o seu diretor de fotografia, Dante Spinotti, o mesmo de “O Infiltrado” e “Fogo Contra Fogo” – são avassaladores e significantemente visionários – e mereceria um artigo inteiro para falar como sua equipe estudou para um excelente resultado como o atingido.

Só para se ter ideia de alguns que consigo lembrar pelo impacto: os tiros dados pelos personagens – o enquadramento é sempre surpreendente – a escuridão proposital dos locais fechados, a câmera documental e praticamente na mão dos locais escondidos em que os bandidos almoçam ou tramam novos planos de assaltos e as várias intervenções de outros formatos no filme – película, HD e até mesmo vídeo.

A forma como retira a trilha sonora em momentos importantíssimos e que sempre possuem trilha em filmes de ação ou policial: perseguições e tiroteios produz uma secura no filme que reflete nos sentidos do espectador, que quando pode recorre ao refreigerante, suco ou água mais próximo.

E as duas cenas finais: a da morte de Dillinger assustadoramente real e bem orquestrada, lembrando a complexidade de outra cena clássica e final do cinema da década de oitenta – o tiroteio na estação do supremo “Os Intocáveis” de Brian DePalma – e a da revelação das últimas palavras ditas pelo personagem, após ser alvejado na saída do cinema, ditas pelo policial durão para a amante do personagem inesquecível.

Foram feitas para passar naqueles momentos que as premiações, como o Oscar, demonstram, com pequenos trechos, que o bom cinema ainda existe e merece crédito, até mesmo por parte dos incrédulos e dos saudosistas.

Há mais motivos para se falar desse filme de Mann. Mas prefiro que você veja e tire suas próprias reflexões e faça as suas anotações mentais. Mas vá! Essa é uma das poucas oportunidades, em tempos como esses, repleto de lixos nas salas de cinema, de se poder assistir uma experiência cinematográfica completa.

Deixe o seu colete à prova de balas em casa e seja metralhado por uma rajada de inovações orquestrada por Mann e seus comparsas. Filmão, nota 9,0.

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