!!Pequeno guia de sobrevivência cultural: capítulo 1 – Adaptações de HQs!! by Rod Castro

17 de mar. de 2008

Aqui começa a história do Pequeno Guia de Sobrevivência Cultural, escrito por este seu amigo. O Guia na verdade serve para que você - quando chamado ou caso não queira fazer feio - não passe batido em uma conversa entre amigos sobre os mais diversos assuntos nerds que hoje nos cerca.

Nada de “hãs”, cara de que está entendendo – mas não saca nada – na rodinha ou muito menos algo do tipo: “olha fulano ali” e saída pela direita. Aqui você pelo menos sabe o básico e ainda pode até mesmo posar de entendido entre os maiorais.

Assim começamos nosso primeiro capitulo com o assunto “Adaptações de HQs para o cinema”.

No início era só diversão sem compromisso...

A saga das adaptações de quadrinhos para o cinema se fez presente através de algumas tele series que passavam na década de 40 nas salas de cinema do mundo inteiro. Entre os primeiros filmes feitos se destacam: “Batman” (1943), “Superman” (1952), “Tarzan” (!942) e até mesmo o “Zorro” (1949).

Capitalismo é capitalismo rapa!!

De 1978 a 1983, a editora DC Comics – Detective Comics, nome do gibi em que Batman surgiu para o mundo – pôs seu maior ícone fantasiado nas maiores telas do mundo, com a cine série Superman – que tinha no competente Christopher Reeves o seu papel principal.

Ali sentado nos cinemas, há trinta anos, o mundo presenciava o poder de uma marca, a força de uma editora e a celeuma provocada por um personagem de revistas em quadrinhos. A Warner Brothers gostou tanto do resultado que no final da década de 80 comprou todos os direitos da DC Comics, transformando a editora em um dos vários negócios que compõem sua mega-corporação.

O resultado dessa empreitada entre engravatados surgiu no mesmo ano em que o acordo foi firmado e tomou de assalto às bilheterias do mundo inteiro com outra cine série, a do homem morcego, mais conhecido como o Batman.

Mas diferente do azulão com a cueca por cima da calça, os lucros obtidos por Batman foram muito além – do tipo, pro alto e avante mesmo. Não importava que os dois primeiros filmes destoassem do caminho que o personagem seguia nos quadrinhos – havia somente 4 anos que o clássico idealizado por Frank Miller reconstruía o mito do homem morcego, em “Batman O Cavaleiro das Trevas”.

Não importava se o protagonista – Michael Keaton que filmou “Os Fantasmas se Divertem” com Burton - era um anão perto do que realmente Bruce Wayne o era fisicamente, ou muito menos importava se o Coringa encarnado por Jack Nicholson estava mais para um palhaço bobo, do que um maníaco diabolicamente vestido de palhaço.

Não importou se três anos depois em “Batman, o retorno” os contrastes exagerados de Tim Burton começaram a destoar e que o filme tivesse uma trama ridícula – salvando apenas a incrível performance de Michele Pfeiffer no papel da Mulher Gato, que dizem as más línguas já é papel assinado pela esplendida Rachel Weisz na nova franquia do homem morcego. O público assistiu e a WB encheu os bolsos e a saga continuou.

E como em time que está ganhando não se mexe a Warner propôs mais dois filmes para Burton que deu de costas e abriu vaga para o alemão Joel Schumacher, que parece não ter reparado que o seriado do Batman – aquele gay no mundo – já havia saído de exibição. A breguiçe tomou conta da tela em dois péssimos filmes e pior: nenhum ator quis um dos maiores papeis dos quadrinhos: o de Bruce Wayne – Val Kilmer pegou o trampo por grana e George Clooney até hoje se arrepende da graça.

Ainda na década de 90, dois filmes merecem respeito dos chegados em quadrinhos: “Darkman” (1990) de Sam Raimi – mesmo diretor de “A Morte do Demônio” – com o ainda desconhecido Liam Neeson. E o macabro e perfeito “O Corvo” (1994) que acabou sublimado pela morte, em cena, de seu ator principal: Brandon Lee.

Mas mesmo com esses dois bons filmes e a parodia que se tornou “Batman”, um engravatado de Hollywood pensava mil e uma vezes antes de marcar uma reunião de negócios com os nerds que trabalhavam em uma editora de quadrinhos, para tratar de filmes.

Ainda assim dois filmes ganham destaque: “Homens de Preto” – sim, é um filme inspirado nos quadrinhos da editora alternativa Dark Horse; e “Blade” - o primeiro sucesso de bilheterias da Marvel, maior rival da DC e que nunca conseguiu fazer um filme que prestasse até essa década. Mas a coisa mudou e para melhor.

Século XXI: uma virada de página sem cuspe nos dedos!

Você pode até não ter percebido quando foi. Mas assim no dia em que voe se encontrava em um cinema do mundo e assistiu a origem do mais maligno mutante em tela grande - Magneto pó! – naqueles cinco primeiros minutos de “X-Men”, ali nascia à primeira leitura respeitável de uma revista em quadrinho famosa no mundo todo.

Muitos dizem que o principal motivo foi a escolha do produtor e do diretor, a dupla Tom De Santo e Bryan Singer – a mesma de “Os Suspeitos” e “O Aprendiz”. Outros afirmam que o roteiro bem amarrado e a escolha do elenco – que misturava gente de peso, como Patrick Stewart e Ian McKellen a meros desconhecidos como Hugh Jackman – acabaram por transformar a revista mais vendida da Mavel no filme mais fiel aos quadrinhos já feito.

O que se sabe mesmo, é que “X-Men” se tornou a referência de como Hollywood deveria tratar as futuras adaptações de revistas em quadrinhos vindouras, fossem elas sucesso de vendas nas bancas ou não. E com esse respeito, até as revistas alternativas acabaram sendo fielmente transpostas, como a desconhecida e indicada a dois Globos de Ouro – ator coadjuvante e atriz – e um Oscar – roteiro adaptado – “Ghost World”, com Scarlett Johansson e Thora Birch, em 2001.

O grande negócio mesmo se tornou realidade com a venda dos direitos de filmagem do maior herói da Marvel Comics – o Homem Aranha - para a Sony Pictures. A fórmula criada por De Santo e Singer, foi seguida a risca e um admirável diretor foi chamado para assumir a cadeira principal, Sam Raimi – da trilogia de terror/comédia “A Morte do Demônio”.

Só de 2001 a 2003, a produção de filmes derivados das revistinhas, rendeu mais de 10 filmes para os grandes estúdios. E teve de tudo. Desde filmes desrespeitosos como “Do Inferno” e “A Liga Extraordinária” – obras do mestre Alan Moore – passando pelo fiasco de “Demolidor” (Marvel) e chegando a filmes interessantes e desafiantes como o documental “O Anti-herói Americano” – inspirado nos quadrinhos alternativos, American Splendor.

Nesse tempo ainda seriam feitos duas excelentes continuações com o selo Marvel de qualidade: a surpreendente continuação do caçador de vampiros em “Blade II” – dirigido pelo ainda “desconhecido” em Hollywood Guillermo Del Toro (de “Espinha do Diabo” e “Labirinto do Fauno”) - e a fulminante continuação de “X-Men”, em “X-Men 2” – que na opinião desse autor é a terceira melhor adaptação já feita para o cinema.

Mas o melhor ainda estava por vir. Os estúdios viram os lucros e os críticos se renderem ao momento quadrinhos que havia invadido os cinemas e deram liberdade para que os produtores arriscassem mais. Tá certo que tiveram bobagens como “Elektra”, do mesmo autor de “Demolidor”, mas em 2004 o mundo seria balançado pela segunda melhor adaptação já feita: “O Homem Aranha 2”.

Raimi e equipe levaram a coisa tão a sério, que milhares de pessoas não se cansavam de assistir ao filme, às vezes até mesmo em sessões continuas, de tão bom que o filme era. Tudo em seu devido lugar: desde a história totalmente inspirada em uma celebre seqüência de revistinhas feita pelos criadores do “cabeça de teia”, o argumentista Stan Lee e desenhista Steve Ditko, incluindo o elenco mais afiado que na primeira parte.

No mesmo ano em que a Sony lucrava milhões de verdinhas para o seu cofre, o alternativo e bem realizado “Hellboy” da editora Dark Horse vingava no cinema. No filme um demônio que habita uma das maiores cidades dos EUA, leva a vida combatendo monstros e seres sobrenaturais. No comando da aventura, tanto no texto quanto na direção: Guillermo Del Toro (olha o homem aí de novo).

Continua ainda este mês - com mais adaptações já feitas e as que estão por vir!

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