
No filme da garota “inocente” que acaba se tornando a próxima vítima de um pedófilo com cara de bonzinho, há de tudo: a inversão de papéis – a garota é a verdadeira caçadora – homenagens a histórias clássicas – ou você acha que o casaco vermelho era à toa? – e os talentos do diretor David Slade e a sua impressionante atriz principal, Ellen Page, se destacavam de tal forma que em poucos meses de exibição, “Hard Candy” se tornou um filme cult moderno.
E daí para frente? Ellen fez o mesmo que o seu diretor: escolheu como seu próximo projeto uma adaptação de quadrinhos. A diferença é que o projeto da atriz saiu a toque de caixa com a terceira parte da franquia da Marvel e do Estúdio 20th Cetury Fox, em “X-Men
Dali a três meses, Slade confirmava a sua participação no projeto de Sam Raimi – mesmo diretor da franquia “Homem Aranha” – e topava dirigir a adaptação da cultuada revista em quadrinhos “30 dias de noite” de editora independente. E enquanto o diretor fazia a sua excelente pré-produção, Ellen voltava às origens e fechava com o promissor diretor Jason Reitman (mesmo do inteligente e sarcástico “Obrigado Por Fumar”) e seu mais novo projeto: “Juno”.
Nesse momento é que os dois personagens principais deste artigo se separam. Uma palavra os distancia: acerto. Isso porque enquanto Page tentava dar vida a mais um personagem interessante, Slade se reunia com os dois criadores da série de quadrinhos de “30 dias de noite” pra começar a embalar o trem.
Mas façamos como Jack e vamos por parte:
“Juno” - parece engraçado que um filme que fala sobre uma garota de 16 anos que engravida e que por uma conversa com outra colega de colégio, decide por não fazer o aborto e sim doar seu filho para um casal de novos ricos, tenha se tornado o filme mais “revigorante e criativo” dos últimos anos.
Sabe o que realmente me parece? Que as eternas injustiças de milhares de prêmios de cinema elegeram este filme como o recompensador das carreiras de Reitman e de Page, principalmente em um momento em que seus talentos não estavam tão latentes. “Juno” é interessante, tem seus momentos, mas só.
Ao contrário dos trabalhos que lançaram seus importantes personagens – Ellen e Reitman – e que, engraçado, passaram limpos por todos os mais importantes festivais espalhados pelo globo, “Juno” é o filme que durante anos passara na Sessão da Tarde e será imediatamente deletado da sua mente quando o telefone da sala tocar o seu amigo aparecer na janela da sua casa lhe chamando para aprontar algo.
Já em “30 dias de Noite” a história é bem diferente.
Slade tem um grande ás em sua manga: ele realmente sabe controlar as emoções dos espectadores. Algo difícil hoje em dia em que a maioria dos diretores de cinema prefere o escatológico e o espantoso ao invés do manipulador e do surpreendente. Sua câmera sabe o momento de ser lenta, de abrir o plano e principalmente: o tempo certo de ser frenética e ágil.
O elenco parece entender que a magia do bom entretenimento está no contido e não no exagerado ou caricato. Assim, seus vampiros são maus, calculistas e de meter medo, os efeitos especiais tem seus momentos calculados para render mais e o medo passeia como um vento frio por todo o filme.
A história do filme teve total respeito pela obra que a inspirou: um grupo de assustadores vampiros invade a cidade de Barrow no exato dia em que um fenômeno temporal faz com que a cidade fique um mês inteiro em total escuridão. A partir do primeiro ataque até o último confronto entre humanos versus vampiros o medo se transforma em pânico e futuramente o pânico se tornará mais medo – e se você assistir ao filme de noite, se transformara em insônia.
Se de um lado o grupo de seres macabros liderado pelo espantoso Danny Huston – irreconhecível e competente como sempre – dá calafrios, do outro o grupo de sobreviventes liderado pelo xerife, encarnado pelo também competente Josh Hartnet, se torna cada momento mais humano e mais próximo dos espectadores. Muito bom filme.
Entre o diretor e a atriz, Slade está muito a frente de Page – a qual espero que se recupere da indicação ao Oscar e realmente volte a dar seus shows com textos longos e muito bem interpretados.
“Juno”, nota 6,5. “30 dias de noite”, 8,5 e olho no Slade, o cara promete.
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