!!Contar a história da sua infância é filmão na certa? “Baaría, a porta do vento”!!

24 de mar. de 2011


Três dos melhores filmes feitos no Brasil nas últimas décadas tem um ponto em comum: contar a história a partir da infância de seus protagonistas. Dois deles, “Central do Brasil” e “O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias” não há desenvolvimento temporal, a história se prende a um determinado período e ali mesmo se encerra.

No já aclamado e por mim sempre levantado como o melhor filme brasileiro que vi “Cidade de Deus”, a coisa se diferencia. Começamos a acompanhar a história pelo olhar de crianças e rapidamente somos levados pelos anos seguintes. Isso já foi feito em dezenas de outros filmes, e aqui não há uma competição de originalidade ou genialidade de quem fez o quê. Isso não é o mais importante a ser falado.

O fator que desejo abordar é: filmes que retratam uma determinada situação, vista através do olhar de uma criança, realmente nos encantam? Sim, e essa conquista, quando não desrespeita a inocência do protagonista ou de quem está contando a história ao público é arrebatadora a tal ponto que os exageros, normais de quando uma criança fala sua história, soam “lindinhos” e por vezes até nos emocionam.

Foi assim naquele início de “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, em que acompanhamos as mais diversas peripécias da francesinha. É assim quando damos o play e nos deparamos com a vida pobre, porém divertida de Buscapé, e não é diferente quando assitimos, com o olhar marrento e “viajante”, o que foi a história de vida de Peppino Torrenuova - ao ponto de Pepe, logo em sua primeira aparição, começar a correr e derepente voar ("se você voltar antes do cuspe secar, te dou o dinheiro”).

A estrutura de “Baarìa” é muito parecida com a de “Cidade de Deus”. Pequenas situações que cercaram a vida do pequeno Pepe, até o momento em que ele falece – isso não é estragar uma surpresa, pois é algo natural do desenvolvimento – nos são apresentados com elementos caricaturais e os personagens têm características únicas que marcaram a vida do garoto, homem, senhor, e marcarão as nossas também, ao fim da jornada.  

A emoção está presente por todo o filme. O trabalho de reconstrução de época é sensacional. O elenco é um típico italiano: competente e exagerado, como todo ser vindo da bota o é na vida real.

Ver uma vida evoluir. Ver os entes queridos partir. Notar a passagem de tempo através do crescer e desenvolver dos nossos filhos. Notar, no espelho, na própria história de vida, que os anos estão passando, que você não poderá brecá-los para retirar os melhores momentos e guardá-los em um lugar especial, para que os outros também o vivenciem como você os fez. Essa é a história de Pepe e a de todos nós. 

Giuseppe Tornatore conseguiu parar o tempo, mais uma vez, como em “Cinema Paradiso”. E novamente, emocionou. Até o momento, é o melhor filme que vi este ano de 2011. Nota 9,5.

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