Menos de um ano, você percebe que a coisa soa bem, mas não é aquilo que quer para si. Aí? “Já sei!”. Pega a mesma banda, põe a moça para fora da formação, adota o apelido depreciativo que puseram em sua banda “Beastie Boys” e surfa em outra onda que começa a quebrar a margem da praia chamada “Música”, o hip-hop.
Problemas? Vários. Os mais notados: você e seus outros dois parceiros de banda são branquelos, ascendentes de judeus e tão mamando numa onda criada pelos negões – mas quando isso não foi assim? Ou você pensava que o rock que tanto amava era criação de quem?
Ok, o tempo passa, seus discos vão amadurecendo com o tempo. Do festivo “Lincesed I´ll”, em que você e os amigos esbravejavam sobre o direito de fazer sua festa, seu trio engata um disco – “Paul´s Boutique” - repleto de referências às músicas “universais” e que praticamente é ignorado pela crítica. Isso tudo ainda nos anos 80.
Com a chegada dos anos 90 tudo muda. O mundo se torna grunge e você e seus amigos decidem “amadurecer”, tá certo que a presença de um brasileiro na produção do seu novo disco – “Check Your Head” – traz novas cores, bases e até jeito de tocar para os seus garotos bestas e isso é bom.
Tanto, que a parceria continua por mais dois discos, os já consagrados “I´ll Communication” e “Hello, Nasty!”. Os anos 2000 batem a porta, a parceria com o brasileiro – Mario Caldato, conhecido nas músicas da banda como “Mario C” – é desfeita, mas sua banda segue firme com “To The 5 Boroughs”.
Dois anos depois vocês se arriscam em um disco com músicas instrumentais “All Mixed Up” – algo planejado com o ex-parceiro Mario – e até pensam em relançar o disco com a participação de vocalistas conhecidos. Mas isso não rola.
A década virava e você sabia: temos que lançar algo ao bom e velho estilo de rimar. A ideia vem, o disco é gravado. Mas um dos membros de sua banda descobre ter câncer na glândula salivar. Tudo para, o disco é remixado. E eis que os Beastie Boys chutam a porta das paradas com mais um petardo, não tão poderoso como antigamente, mas rápido e inteligente como todos os CDs já aqui citados.
Senhora e senhores: “Hot Sauce Committee Pt.2”
Sai disco entra disco o grande segredo da qualidade do trio nova-iorquino está nas bases. As bases escolhidas para cada música é sensacional, gostosa e contagiante. Na maioria, músicas de bandas – de reggae, rock, rap, pop e hip-hop - das décadas de setenta e oitenta. Este resgate nunca acaba e abrange não somente os músicos americanos chegando até nossas praias, com bandas como Mutantes – ou você esquece de “Eu vou sabotar, você vai se amarrar...” que virou uma homenagem, já reconhecida pelos Beastie no clássico “Sabotage” – e artistas como Jorge Bem Jor.
Neste novo CD nada de diferente. Afinal, em time que está ganhando, para que mudar? O disco abre com a sensacional “Make Some Noise”, passa por uma interessante “Non Stop Disco Powerpack” e chega a uma excelente “Ok” – todas gravadas naquele estilo de que um canta um trecho, outro membro mais uma estrofe e o último amarra a ideia antes do refrão – fórmula inventada pelo Run-DMC e seguida com afinco pelos Beastie Boys.
As bases pesadas ficam para a parceria com NAS na crítica “Too Many Rappers”, também se apresentam na rocker “Say It” e na punk rock “Lee Majors Come Again”, nas oitentistas “Here´s A Little Something For Ya” – de longe uma das melhores do CD - “Long Burn The Fire” e “Tadlock´s Glasses” que tem um efeito chato de distorção no refrão.
Há tempo para festa, como nas reggaeira “Don´t Play No Game That I Can´t Win” em parceria com Santigold e as hip-hop de raiz “Funky Donkey” e “Crazy Ass Shit”. Assim como temos aquele respiro dos discos da década de 90 e que foi resgatado em “All Mixed Up”, na faixa “Multilateral Nuclear Desarmament”.
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