!!Se o mundo acabar em 2012? 20 anos de Titanomaquia!!

30 de mar. de 2012

Aqui começa a sessão “Se o mundo acabar em 2012”. O objetivo disso, você se pergunta: simplesmente pense: todos afirmam que o planeta acaba neste final de 2012 e como ficam as boas obras cinematográficas, literárias e sonoras que me dispus a apreciar e completam aniversário de décadas em 2013?

Ora bolas, estão nesta sessão. E nada melhor que começar esta apreciação do passado recente com o disco, que considero ser, o melhor do rock nacional em todo os anos 90 - o de metal é “Roots” do Sepultura - o sempre esquecido Titanomaquia, dos Titãs.

Titanomaquia, Titãs, Julho de 1993

Em meio ao furacão grunge que tomava conta de todas as paradas musicais mundo afora, acabei por colecionar CDs e mais CDs de bandas que, ou eram de Seattle, ou soavam como se fossem de lá.

Então, entre Alice In Chains, Pearl Jam, Nirvana, Soundgarden, L7 e mais outros, um CD, nacional, fazia-me cantar em português. Somente um: Titanomaquia, dos paulistas Titãs.

Fazer este disco foi praticamente um exorcismo para a banda. Explico: mal os Titãs se reuniram para compor seu novo disco, receberam uma bomba em seus colos, o “poeta” da banda, Arnaldo Antunes, coincidentemente o integrante que menos gostava, pediu para sair da banda.

Daí você pensa: pelo amor de Deus, até parece que isso vai fazer diferença, são para mais de 05 caras na banda, mais um ou menos um, deve lá fazer alguma diferença? Fez, e muita, se bobear, pra melhor.

Não sei se houve um momento de fúria, nunca revelado em entrevistas pelos membros, mas os Titãs resolveram pisar no pedal do peso e recrutaram o produtor Seattico Jack Endino, para esta nova empreitada.

Nascia assim o Titanomaquia. CD com 13 músicas, todas pesadas, tanto em seu som, quanto em suas temáticas e letras. O petardo foi lançado em Julho de 1993, mas só recebi  o meu, dentro de um saco plástico preto - que simulava o mesmo usado para depósito de lixo – em outubro, em pleno o dia das crianças.

“Qual é o seu problema? Seu...”

Uma batida solta de bateria, compassada, pesada, e a entrada de uma parede de guitarras. Este era o início da primeira faixa. Eram exatos 34 segundos de som, sem uma palavra sequer. E tudo aquilo, até ali, era tudo, menos os Titãs que conhecíamos.

Esta sensação era reconfortante. Pois muita gente queria que o peso chegasse as nossas bandas de rock. Eu, até aquele CD, nunca tinha tido um LP, Fita Cassete ou demais tipo de formato sonoro em que a banda tivesse registrado algo. E olha que sabia de cor letras e mais letras deles.

Encaixar três pancadas seguidas, como “Será Que É Isso Que Eu Necessito”, “Nem Sempre Se Pode Ser Deus” e “Disneylândia”, era um recado claro ao ouvinte: isso é rock, pesado e faça o favor de aumentar o volume das suas caixas.

As duas primeiras baseavam suas letras em questionamentos – “Não é que eu passei do limite, isso pra mim é normal. Não é que eu me sinto bem, eu posso fazer igual. Não é que eu vou fazer igual, eu vou fazer pior.”; enquanto que a terceira previa a globalização – a letra de “Disneylândia” é transloucada, difícil, mas extremamente decorável.

O Titã mais pesado, e meu favorito, Nando Reis, atropelava com um rock (“Hereditário”) chupado de alguma batida perdida do final dos anos 70. O objetivo da letra: mostrar que a vida passa rápido em.

Aqui um registro mental: Titanomaquia é um disco que se registra facilmente no inconsciente de seu ouvinte. Pois ao terminar “Hereditário” é impossível não lembrar dos acordes em guitarra da pesadíssima “Estados Alterados da Mente”, praticamente um pesadelo gritado e comentado por Branco Mello – esta canção tem um dos solos mais lembrados de guitarra do senhor Tony Bellotto. 

E se as guitarras de Bellotto e Marcelo Fromer se destacavam, as baquetas de Charles Gavin estraçalhavam as peles em todas as músicas, como em “Agonizando”, uma sequência de batidas ininterruptas, que davam ritmo aos versos proferidos por Sérgio. Aliás, esta aceleração rítmica, com um vocalista (Paulo Miklos e Sérgio Britto) ensandecido era a marca das pauladas seguintes: “De Olhos Fechados” e “Fazer O Quê?”.

Aqui outra anotação mental: este é o disco que os vocalistas botam pra quebrar. Sérgio canta como um metaleiro e um rapper (“Tempo Pra Gastar”), Branco Mello fica entre o cantar e o comentar (“Felizes São Os Peixes” e “Dissertação do Papa Sobre O Crime Seguido de Orgia”), e Paulo Miklos torna-se um transloucado que berra (“Taxidermia”), muda de tom e ao mesmo tempo faz outros sons, como em “A Verdadeira Mary Poppins”, em que entoa um “jin, jinguin lin, jin, jin, jinguin limmm”, os acordes das guitarras.

Enfim, “Titanomaquia” é um disco que merece ser relançado, se você ainda não ouviu, procure, se você ouviu, escute novamente.

Pelo menos este ano, vai que o mundo acaba? 

!! Drive: do caricatural para o violento em 100 minutos!!

1 de mar. de 2012


Não assista “Drive” antes de conferir o trabalho anterior do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, o transgressor “Bronson”. Se você se acostumar com o que ocorre em todo o primeiro filme, o que surgirá na tela, no filme seguinte, soara “natural”.

Nada de grande espanto. Nada de traumático, como em “Irreversível”. Não é sobre isso que estou falando leitor. Mas “Drive” segue uma linha perigosa, que pode sim fazer o espectador se questionar o quanto um herói, bonito, charmoso e acima de tudo, misterioso, pode se tornar todo o reverso que você não imagina ou quer.

Mas vamos por parte. A história: um dublê de filmes de ação, que também é mecânico e dirige “carros de escapadas” para assaltantes após cometerem seus crimes, acaba se envolvendo – nada de beijos ou sexo – com a sua vizinha – uma garçonete, mãe solteira e que tem o marido na cadeia.

É isso. Revelar mais faria você me chamar de estraga prazeres.

O que vale muito destacar: Ryan Gosling pode parecer um canastrão, mas talvez seja esta a intenção; os demais atores são apenas dispositivos para que o personagem principal se torne o que realmente é, prepare-se; a direção de fotografia é soberba e tem assinatura do veterano Newton Thomas Sigel (o mesmo de “Os Irmãos Grimm”, “X-Men 2” e “Os Suspeitos”); e o trabalho de Refn é digno de prêmio, como Cannes constatou, e merece ser descoberto.

Pena que “Drive” ainda não tenha sido exibido nos cinemas de Manaus, mas vale a descida via Internet. Nota 9,0.